José Soeiro, “Expresso” online
É 6 de dezembro de 2023. Reunem-se milhares de líderes
mundiais e representantes de empresas emissoras na conferência de clima da ONU
que virá a ser, pela vigésima-oitava vez, incapaz de vincular uma diminuição
das emissões globais.
(…)
Centenas viajaram para o local, o Dubai, de jato privado. O
mesmo meio de transporte capaz de poluir numa só viagem de Portugal para os
Emirados Árabes mais que uma família média portuguesa num ano.
(…)
Dia 6, um grupo de pessoas, eu entre elas, acorrentava os
seus corpos a um jato privado em protesto à realidade acima.
(…)
Há algo hilariante, mas nada engraçado — algo absurdo sobre
denunciar as emissões de jatos privados e as decisões evidentemente letais de
um grupo muito pequeno de pessoas, e encontrares-te a ti no banco dos réus.
(…)
É suposto culparmo-nos apenas individualmente por um problema
global, e ao mesmo tempo concordar que o dono de um jato privado possa poluir
mais num ano de voos que uma pessoa comum numa vida inteira.
(…)
Acabamos – pelo menos eu acabo – cada ciclo de notícias sobre
clima à procura de esperança, quando esperança sem ação é um veículo sem motor.
(…)
Daqui a 30 anos (…) vou dizer que tentei tudo, que
tentámos tudo [até me acorrentei] algumas horas a um jato privado.
(…)
Por todo o mundo a urgência espalha-se, e a normalidade pune
quem soa o alarme ao invés dos culpados pela emergência.
(…)
Há poucas semanas, no Reino Unido, cinco ativistas foram
condenados (…) por recusar o deserto, por ousar tornar esta crise
impossível de ignorar, como serão o fogo ou as cheias ou a fome em qualquer
território.
(…)
É agora o segundo ano consecutivo em que cada mês bate o seu
recorde de temperatura, estabelecido apenas no ano anterior.
(…)
Há uma diferença, claro, entre um jato que larga bombas para
matar, e um jato privado que emite gases com efeito de estufa por luxo no meio
de uma crise climática.
Na passada quarta-feira, o grupo Habeas Corpus — grupo de
extrema-direita, obviamente anti-LGBTQIA+ e anti-feminista — partilhou nas suas
redes sociais uma lista de "terroristas LGBTQIA+ (…).
(…)
Esta lista, como seria de esperar, tem como incentivo a
violência contra as pessoas que nela se encontram.
(…)
Como já seria de esperar, a informação falsa vem sempre como
sufixo das partilhas do grupo, ligando sempre a sua luta à corrupção do desvio
do “dinheiro dos impostos dos portugueses”.
(…)
Estes atos de violência vindos de grupos de extrema-direita,
infelizmente, já não são novidade.
(…)
Criam uma
fixação em pessoas com uma presença pública só porque estas últimas acreditam
que a orientação sexual não é um defeito nem doença, mas sim uma mera
característica.
(…)
O clima de perigo está no ar, com um sentimento de
perseguição latente para quem defende, meramente, o direito a amar quem se ama,
independentemente do género.
(…)
A orientação
sexual não é contagiosa. Não se pega, não se ensina.
(…)
Não é por uma
criança ler um livro em que há um casal gay que se torna gay.
(…)
Não existe lobby homossexual.
(…)
O que há, sim, é
um lobby de grupos anti-LGBT e anti-feministas que propagam e incentivam o ódio
tendo como desculpa “a proteção das crianças”.
(…)
Uma coisa é certa, se uma criança LGBTQIA+ nascer numa
família que é anti-LGBTQIA+, a possibilidade dessa criança passar na sua vida
por uma tremenda dor é garantida.
(…)
A estrondosa
maioria da representação de amor nas novelas, nos livros, é
heterossexual.
(…)
O amor não é
menos válido por não ser heterossexual.
O capitão Paul Watson percorre há décadas de
forma incansável os mares do mundo para defender as baleias.
(…)
A
caça à baleia foi oficialmente proibida desde a entrada em vigor de uma
moratória adoptada pela Comissão Baleeira Internacional (CBI), em 1986.
(…)
[A CBI] já terá, até hoje, ajudado a salvar
mais de 5000 cetáceos!
(…)
Actualmente, apenas três países estão
determinados a não cumprir a moratória: a Islândia, a Noruega e o Japão.
(…)
O Japão já foi condenado pelo Tribunal
Internacional de Justiça, em 2014, pelas suas actividades baleeiras.
(…)
O
famoso capitão, que é objecto de um mandado de captura internacional, emitido
por Tóquio por "conspiração para cometer uma colisão", foi detido a
21 de Julho pelas autoridades dinamarquesas.
(…)
A
opinião pública internacional tem-se mobilizado para exigir a libertação de
Paul Watson, nomeadamente através de uma petição lançada pelo jornalista Hugo Clément, que conta
com mais de 700.000 assinaturas.
(…)
A
caça à baleia, bem como a perseguição que é feita aos activistas que a
protegem, é cada vez mais incompreensível, uma vez que estamos perante uma
actividade que não só é ilegal, como vai muito além da protecção de uma espécie.
(…)
As
estimativas indicam que a capacidade de uma baleia para capturar carbono da
atmosfera é igual à de milhares de árvores.
(…)
As baleias são parte essencial de uma solução
para a crise climática.
(…)
A
captura de dióxido de carbono é cerca de 30 a 40 vezes mais eficiente no meio
marinho, no qual as baleias desempenham um papel fundamental.
Álvaro
Vasconcelos, Filipe Duarte Santos e outros, “Público” (sem link)
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