A
propósito de um artigo de opinião da Embaixadora de Israel em Portugal vindo à
estampa no Público de 21/04/2016, não queremos deixar de transcrever aqui um
excelente texto de Domingos Lopes, Presidente do Fórum pela Paz e os Direitos Humanos, publicado hoje no
mesmo jornal.
Tzipora
Rimon, Embaixadora de Israel em Portugal, em texto publicado no PÚBLICO de
21.04.2016, veio lamentar o que considera ser o terrorismo palestiniano.
Desde
logo “terrorismo palestiniano” é uma designação que encobre realidades muito
diferentes, pois no seio do povo palestiniano existem diversas correntes
políticas, tal como na comunidade israelita.
As
divisões que ocorrem entre os palestinianos são tão graves que chegam a estalar
conflitos militares entre elas.
No
seio das dissidências entre judeus, quem pode esquecer o judeu que assassinou
Yitzhak Rabin?
Mas
veio a Senhora Embaixadora, na esteira da argumentação da liderança israelita,
responsabilizar o “terrorismo” palestiniano pela cultura de violência entre
Israel e os palestinianos.
É
preciso olhar para o conflito do seguinte modo: É Israel que, contra a lei
internacional (decisões do Conselho de Segurança da ONU), ocupa territórios
palestinianos.
Os
palestinianos são todos os segundos, minutos, todas as horas e todos os dias
espezinhados pelo exército de ocupação de Israel, como é próprio de qualquer
ocupação.
Antes
da independência de Israel movimentos terroristas judeus organizaram centenas
de ações terroristas, incluindo contra britânicos.
Se
se considerar como terrorista um jovem palestiniano que ataca um judeu, que
dizer do Estado Israelita que mata o jovem e destrói as casas dos pais e dos
familiares?
Se
um determinado ativista palestiniano ataca o exército palestiniano com facas ou
pedras ou o que tiver à mão, que dizer do Estado Israelita que de seguida
prende, tortura todos os familiares e os vizinhos desse palestiniano? E que
dizer dos milhares de palestinianos presos por lutarem pela aplicação das
decisões do direito internacional?
Israel
é um Estado fora da Lei. Tem contra ele inúmeras decisões do Conselho de
Segurança da ONU e da sua Assembleia Geral. Deve ser o Estado com mais
condenações na ONU.
Por
isso…” A Paz entre os palestinianos e os seus vizinhos israelitas irá ser
alcançada”… apenas quando a liderança israelita renunciar à sua política de
inflamar os judeus contra os árabes palestinianos reconhecendo como faz toda a
comunidade internacional a independência dos palestinianos nos territórios
ocupados após a guerra dos Seis Dias, em 1967.
Enquanto
não o fizer não tem autoridade moral, politica e jurídica para condenar as
ações dos palestinianos porque é essa ocupação que justifica a luta pela
libertação dos territórios ocupados.
A
ocupação de um país é das ações mais violentas que as sociedades humanas
conheceram e ainda conhecem (como é o caso da ocupação israelita dos
territórios ocupados na palestina) e os montes Golan na Síria.
Cesse
a ocupação e a paz entre palestinianos e Israel terá dado um passo decisivo. Há
ações terroristas que merecem a condenação de toda a comunidade internacional,
como os ataques de Paris e de Bruxelas, que por acaso foram perpetrados por
europeus da França e da Bélgica e certamente com apoios de outros jiadistas
muçulmanos ligados ao Daesh.
Merecerão
igualmente condenação todos os ataques cometidos por palestinianos contra gente
perfeitamente indefesa e que não está vinculada aos instrumentos da política de
ocupação.
Israel
não pode querer para si uma lei à parte que a absolva sempre e condene os que
sofrem a violência das suas ações que decorrem da ocupação dos territórios
árabes após a guerra dos Seis Dias.
Não
é adequado falar de paz, legalidade, boa vizinhança, cooperação e manter a
ocupação dos Montes Golan da Síria e como supra se referiu os territórios
palestinianos.
Não
se pode criar uma tempestade na arena internacional face à possibilidade
(entretanto abandonada) com ameaças de invasão à mistura porque o Irão poderia
vir a possuir a arma nuclear quando Israel a tem e não assinou o Tratado de Não
Proliferação Nuclear.
Por
muito importante que seja o Estado de Israel e por muito que tenham sofrido os
judeus (e sofreram) não é aceitável que haja duas leis: uma para Israel e outra
para os outros Estados, sendo que a lei a aplicar a Israel à partida a absolve
de tudo o que faça; enquanto a lei que se aplica aos palestinianos os condenam
por tudo o que não seja aceitar a ocupação como uma dádiva divina ao povo
eleito.
Face ao terror jiadista do
Daesh seria de esperar que Israel desse passos no sentido de criar com os
palestinianos relações de boa vizinhança, reconhecendo a independência da
Palestina, nos termos da lei internacional e não de espezinhamento dos direitos
nacionais palestinianos, o que fortalece os terrorismos vários.
Israel, país de um povo com
milhares de anos, deveria reconhecer que o povo palestiniano com milhares de
anos, vai ter de viver mais outros milhares de anos a seu lado. Se quiser viver
em paz deverá reconhecer esses direitos nacionais. Caso contrário não haverá a
tão almejada paz porque não há paz com armas aperreadas contra quem quer que
seja. Mesmo quando se é muito forte. A força, por mais desproporcional que
seja, nunca fará transformar uma ocupação numa política de paz, como a História
demonstra, incluindo a de Israel e a dos judeus.
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