sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

CITAÇÕES

 
Virá porventura um dia em que se psicanalise o orgulho institucional em apresentar “contas certas”. 

(…)

Os ministros das contas certas apresentam-se como predestinados a governar esta súcia dos diminuídos, quem anda a contar os tostões e até a reclamar das contas que lhe atrapalham a vida.

(…)

O problema é que as contas certas estão erradas.

(…)

[Na política orçamental] há várias regras possíveis [para obter contas certas], dependem do que se pretende alcançar, e os métodos podem ou não ser adequados à função, além de que se disputam em permanência.

(…)

Nessas contas da política há o poder de usar e de abusar, de atrasar e de apressar, de distribuir e de reter.

(…)

Todos os anos é apresentado um valor generoso para o investimento público, sempre com a particularidade mágica de crescer, e depois vai-se a ver e o dinheiro não foi gasto.

(…)

A conta orçamental só está certa (um défice dos melhores da Europa!) por ter sido errada de propósito, não se cumprindo o prometido.

(…)

Sendo portanto estas contas do domínio do poder de mentir, pode haver dinheiro a mais — e vão-nos dizer que a conta está certa. 

(…)

A liberalidade com que se usa dinheiro público já se tinha tornado evidente em muitas ocasiões.

(…)

Os principais bancos portugueses, beneficiando dos apoios públicos pelas injeções de dinheiro pelo BCE, e agora do aumento da margem financeira com os juros, recuperaram brilhantemente depois do período da recessão. 

(…)

[Mas a banca paga o pior juro da zona euro]: em dezembro, quando os bancos já cobram 4% pelos créditos que concedem, o juro dos depósitos lá chegou a 0,35%.

(…)

São contas certas? Certíssimas.

(…)

[Outro] caso de contas certas é o da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). 

(…)

Mas ninguém sabe como e por que razão se vão gastar €161 milhões.

(…)

O país tem discutido, todos empossados em engenheiros e arquitetos, o modelo do palco da jornada, e os seus seis milhões soaram tão mal que mereceram intervenção do presidente, entrevistas de bispo e declarações aflitas de Carlos Moedas.

(…)

[O problema] são mesmo os €161 milhões, 27 vezes o palco milionário. 

(…)

Que obras monumentais arrastam essa conta?

(…)

Não tenho dúvida de que a aritmética destas contas, a do hospital [Militar], a dos bancos, a da Jornada [Mundial da Juventude], está certa: soma tudo.

(…)

Num país de pobreza, de pensões miseráveis, de salários curtos, de empregos precários e de investimento medíocre, a conta certa só poderia ser pagar a dívida do atraso.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Ouvi alguém dizer, recentemente, que Portugal não se pode dar ao luxo de copiar um país de primeiro mundo, o Canadá, ao limitar a compra de habitações por cidadãos estrangeiros.

(…)

A meu ver, o país não se pode dar ao luxo de continuar a escorraçar para outros países os seus jovens e atirar para crescentes situações de sem-abrigo, ou extremamente precárias, os seus próprios residentes e os cidadãos imigrantes que aqui chegam.

(…)

Portugal, o país com um dos salários mínimos mais baixos da Europa e recordista olímpico em obras públicas medalhadas na ordem dos milhões, está longe de ser a Terra Prometida, inclusivamente para pessoas oriundas de regiões difíceis e igualmente precárias.

(…)

Imaginar a vida daquelas 22 pessoas hospedadas num T0 da Mouraria embrulha o estômago a qualquer ser humano.

(…)

Olhamos para o decréscimo da taxa de natalidade como sendo um problema e cavamos ainda mais essa realidade, dizendo aos mais jovens que não têm como não habitar em casa dos progenitores até aos 30 e alguns anos de idade.

(…)

Por fim, é triste ver que uma pequeníssima fasquia da população portuguesa está a vender, a troco de uns milionários euros, o nosso país, a nossa identidade e a nossa dignidade de vida.

(…)

Talvez vivamos num tempo em que não devam ser apenas os professores, os enfermeiros, os polícias e os médicos a sair à rua.

Mafalda G. Moutinho, “Público” (sem link)

 

Quando os militares fizeram regressar a ditadura à Birmânia em Fevereiro de 2021, a União Nacional Karen (UNK), que há décadas luta por maior autonomia para o povo karen (3,5 milhões de pessoas na Birmânia e mais 400 mil na Tailândia), resolveu colocar a sua guerrilha ao serviço da resistência à ditadura.

(…)

[O porta-voz da UNK, Padoh Saw Taw Nee] reconhece que a resistência ao regime precisa de intensificar a sua luta e, sobretudo, garantir visibilidade internacional.

(…)

Datada de 22 de Dezembro, a Resolução 2669, de iniciativa da França, pede “o fim imediato de todas as formas de violência em Myanmar [Birmânia] e apela à contenção, à desescalada das tensões e à libertação de todos os prisioneiros”.

(…)

Rússia e China abstiveram-se, num sinal de que nem mesmo os habituais amigos dos militares birmaneses estão dispostos a defender publicamente o regime.

(…)

Um sinal que, no entanto, não é suficiente para obrigar a ditadura birmanesa a aliviar a repressão.

(…)

Com os bloqueios sino-russos a acções mais robustas contra a Junta birmanesa e a atenção da comunidade internacional virada para outras paragens, os militares birmaneses permaneceram inamovíveis.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

Os serviços de espionagem são a face invisível da diplomacia, despida de formalismos e de cimeiras.

(…)

A espionagem bem-sucedida é inventiva e eleva-se a arte do drible quando surte efeito e ludibria os canais oficiais.

(…)

O balão supostamente meteorológico abatido por um míssil disparado de um F-22 é um episódio teste de resistência para um conflito pré-anunciado a dois anos entre as duas maiores potências mundiais, servida em Taiwan como toalha de mesa estratégica.

(…)

Com o Japão em equação para o reforço militar norte-americano que possa atingir Pequim, é difícil conceber que a China continue a olhar para o balão.

(…)

A reacção beligerante norte-americana, premonitória, colocou Biden perante uma encruzilhada que o passado do seu antecessor se encarregou de resolver.

(…)

O balão nos céus de Montana, sobrevoando um arsenal de mísseis balísticos intercontinentais, é ar rarefeito e tóxico para qualquer perspectiva de esvaziamento pós-tensão.

(…)

A China continua a ter o papel "pivot" para fazer a paz na guerra que vivemos e eclodir a guerra que se segue.

Miguel Guedes, JN


Sem comentários:

Enviar um comentário