(…)
Os
ministros das contas certas apresentam-se como predestinados a governar esta
súcia dos diminuídos, quem anda a contar os tostões e até a reclamar das contas
que lhe atrapalham a vida.
(…)
O
problema é que as contas certas estão erradas.
(…)
[Na
política orçamental] há várias regras possíveis [para obter contas certas],
dependem do que se pretende alcançar, e os métodos podem ou não ser adequados à
função, além de que se disputam em permanência.
(…)
Nessas
contas da política há o poder de usar e de abusar, de atrasar e de apressar, de
distribuir e de reter.
(…)
Todos
os anos é apresentado um valor generoso para o investimento público, sempre com
a particularidade mágica de crescer, e depois vai-se a ver e o dinheiro não foi
gasto.
(…)
A
conta orçamental só está certa (um défice dos melhores da Europa!) por ter sido
errada de propósito, não se cumprindo o prometido.
(…)
Sendo
portanto estas contas do domínio do poder de mentir, pode haver dinheiro a mais
— e vão-nos dizer que a conta está certa.
(…)
A
liberalidade com que se usa dinheiro público já se tinha tornado evidente em
muitas ocasiões.
(…)
Os
principais bancos portugueses, beneficiando dos apoios públicos pelas injeções
de dinheiro pelo BCE, e agora do aumento da margem financeira com os juros,
recuperaram brilhantemente depois do período da recessão.
(…)
[Mas a
banca paga o pior juro da zona euro]: em dezembro, quando os bancos já cobram
4% pelos créditos que concedem, o juro dos depósitos lá chegou a 0,35%.
(…)
São
contas certas? Certíssimas.
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[Outro]
caso de contas certas é o da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
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Mas
ninguém sabe como e por que razão se vão gastar €161 milhões.
(…)
O país
tem discutido, todos empossados em engenheiros e arquitetos, o modelo do palco
da jornada, e os seus seis milhões soaram tão mal que mereceram intervenção do
presidente, entrevistas de bispo e declarações aflitas de Carlos Moedas.
(…)
[O
problema] são mesmo os €161 milhões, 27 vezes o palco milionário.
(…)
Que
obras monumentais arrastam essa conta?
(…)
Não
tenho dúvida de que a aritmética destas contas, a do hospital [Militar], a dos
bancos, a da Jornada [Mundial da Juventude], está certa: soma tudo.
(…)
Num
país de pobreza, de pensões miseráveis, de salários curtos, de empregos
precários e de investimento medíocre, a conta certa só poderia ser pagar a
dívida do atraso.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Ouvi
alguém dizer, recentemente, que Portugal não se pode dar ao luxo de copiar um
país de primeiro mundo, o Canadá, ao limitar a compra de habitações
por cidadãos estrangeiros.
(…)
A meu
ver, o país não se pode dar ao luxo de continuar a escorraçar para outros
países os seus jovens e atirar para crescentes situações de sem-abrigo, ou
extremamente precárias, os seus próprios residentes e os cidadãos imigrantes
que aqui chegam.
(…)
Portugal,
o país com um dos salários mínimos mais baixos da Europa e recordista olímpico
em obras públicas medalhadas na ordem dos milhões, está longe de ser a Terra
Prometida, inclusivamente para pessoas oriundas de regiões difíceis e
igualmente precárias.
(…)
Imaginar a vida daquelas 22 pessoas hospedadas num T0 da
Mouraria embrulha o estômago a qualquer ser humano.
(…)
Olhamos
para o decréscimo da taxa de natalidade como sendo um problema e cavamos ainda
mais essa realidade, dizendo aos mais jovens que não têm como não habitar em
casa dos progenitores até aos 30 e alguns anos de idade.
(…)
Por
fim, é triste ver que uma pequeníssima fasquia da população portuguesa está a
vender, a troco de uns milionários euros, o nosso país, a nossa identidade e a
nossa dignidade de vida.
(…)
Talvez
vivamos num tempo em que não devam ser apenas os professores, os enfermeiros,
os polícias e os médicos a sair à rua.
Mafalda G. Moutinho, “Público” (sem link)
Quando
os militares fizeram regressar a ditadura à Birmânia em Fevereiro de 2021, a
União Nacional Karen (UNK), que há décadas luta por maior autonomia para o povo
karen (3,5 milhões de pessoas na Birmânia e mais 400 mil na Tailândia),
resolveu colocar a sua guerrilha ao serviço da resistência à ditadura.
(…)
[O porta-voz da UNK, Padoh Saw Taw Nee] reconhece que
a resistência ao regime precisa de intensificar a sua luta e, sobretudo,
garantir visibilidade internacional.
(…)
Datada
de 22 de Dezembro, a Resolução 2669, de
iniciativa da França, pede “o fim imediato de todas as formas de violência em
Myanmar [Birmânia] e apela à contenção, à desescalada das tensões e à
libertação de todos os prisioneiros”.
(…)
Rússia
e China abstiveram-se, num sinal de que nem mesmo os habituais amigos dos
militares birmaneses estão dispostos a defender publicamente o regime.
(…)
Um sinal que, no entanto, não é suficiente para obrigar a
ditadura birmanesa a aliviar a repressão.
(…)
Com os
bloqueios sino-russos a acções mais robustas contra a Junta birmanesa e a
atenção da comunidade internacional virada para outras paragens, os militares
birmaneses permaneceram inamovíveis.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Os serviços de espionagem são a face
invisível da diplomacia, despida de formalismos e de cimeiras.
(…)
A espionagem bem-sucedida é inventiva e
eleva-se a arte do drible quando surte efeito e ludibria os canais oficiais.
(…)
O balão supostamente meteorológico
abatido por um míssil disparado de um F-22 é um episódio teste de resistência
para um conflito pré-anunciado a dois anos entre as duas maiores potências
mundiais, servida em Taiwan como toalha de mesa estratégica.
(…)
Com o Japão em equação para o reforço
militar norte-americano que possa atingir Pequim, é difícil conceber que a
China continue a olhar para o balão.
(…)
A reacção beligerante norte-americana,
premonitória, colocou Biden perante uma encruzilhada que o passado do seu
antecessor se encarregou de resolver.
(…)
O balão nos céus de Montana, sobrevoando
um arsenal de mísseis balísticos intercontinentais, é ar rarefeito e tóxico
para qualquer perspectiva de esvaziamento pós-tensão.
(…)
A China continua a ter o papel
"pivot" para fazer a paz na guerra que vivemos e eclodir a guerra que
se segue.
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