(…)
Onde se exigia primado absoluto da compaixão concreta com as
vítimas, houve razão burocrática e legalista.
(…)
Onde se exigia assunção inequívoca de responsabilidades,
houve bolas para canto.
(…)
Onde se exigia todo o arrojo, houve toda a retração.
(…)
Onde se exigia arrependimento pelo pecado coletivo, houve
retórica de advogado de defesa.
(…)
Onde se exigia coerência com a crítica ao relativismo, houve
relativismo acrítico.
(…)
Não
faltou aos bispos portugueses nem tempo nem informação para prepararem uma
resposta redentora ao pecado horrendo instalado há tanto tempo.
(…)
E
sabiam, todos sabíamos, que por factos muito menos gravosos que os revelados no
relatório da Comissão Independente, houve sonoras resignações noutros países.
(…)
[O que ficou patente na reação dos bispos foi] esta
abordagem tíbia, defensiva, tão pouco expressiva da amizade cristã para com as
vítimas, foi exatamente a que foi querida e preparada.
(…)
Tristemente,
esta posição dos bispos faz com que essa desconfiança natural das vítimas nas
estruturas da instituição que encobriu os seus algozes se prolongue agora na
desconfiança de toda a sociedade para com a Igreja.
José Manuel Pureza, “Público” (sem link)
A vingança é a base cultural do inimiguismo: há quem se sinta
destinado a arrastar pelo tempo fora um ajuste de contas interminável.
(…)
O ataque de um ex-ministro da Saúde a uma ex-ministra da
Saúde do mesmo partido, o PS, é um esplêndido caso de estudo para esta tese.
(…)
Adalberto Campo Fernandes foi substituído por Marta Temido e,
à falta de se poder virar contra o primeiro-ministro que o demitiu, toma-a como
alvo.
(…)
Depois, Campos Fernandes festejou a demissão dela, foi um seu
aliado que foi escolhido para a substituir.
(…)
O remoque disparado contra Temido resulta do seu elogio ao
sector privado da Saúde durante a pandemia, que agora enalteceu e que antes
destroçara em críticas duras. A contradição é evidente.
(…)
Até me parece um atrevimento ingénuo pensar que as pessoas se
esqueceram da conta que os hospitais privados então exigiam por quem fosse
internado com covid.
(…)
A covid foi um negócio suculento e, se não fosse o SNS, o
país estaria desprotegido.
(…)
Assim, chegamos ao conteúdo: Campos Fernandes ataca agora
Temido por estar de acordo com ela, ou ela com ele.
(…)
Ajusta-se contas por haver uma aproximação de pontos de
vista, escolhendo a borda do insulto para acentuar a fragilização do bem
público que devia ser a saúde.
(…)
E, já agora, Portugal fica a perder com o resultado deste
estranho jogo partidário.
Francisco Louçã, “Expresso” online
Desde
então [1974], a mobilização de mulheres pela defesa das causas ambientais em
diferentes partes do mundo deu origem a uma nova corrente do movimento
feminista, o ecofeminismo ou feminismo ecológico.
(…)
As
mulheres conscientes das múltiplas discriminações que sofrem, por serem
mulheres, tomaram também consciência da necessidade de combater a exploração da
natureza.
(…)
As alterações
climáticas, a perda da biodiversidade
e a poluição representam uma tríade preocupante para a vida na Terra e as
guerras, como a que atualmente ocorre na Ucrânia, agravam drasticamente a crise
climática.
(…)
É
imprescindível ter presente que um meio ambiente saudável é essencial para que
a paz e os direitos humanos fundamentais sejam possíveis.
(…)
Segundo
o mais recente Relatório Global sobre Deslocamento Interno do Centro de
Monitorização de Deslocamento Interno (IDMC), 59,1 milhões de pessoas estavam
deslocadas internamente em todo o mundo no final de 2021, 53,2 milhões como
resultado de conflitos e violência e 5,9 milhões como resultado de catástrofes
ambientais.
(…)
É importante referir que mulheres e crianças representam a
maioria dos refugiados.
(…)
Com o
aumento da frequência de fenómenos extremos ambientais, a deslocação de
populações será cada vez mais frequente, particularmente nas regiões costeiras.
(…)
É natural que estes cenários preocupem as novas gerações.
(…)
Com o
início deste milénio, o debate em torno das alterações climáticas
intensificou-se e são muitas as vozes de mulheres que têm surgido em defesa das
causas climáticas.
(…)
A
manutenção da esperança na Humanidade, sabendo que uma resposta coletiva,
multinível e internacional poderá reverter muitos dos processos de colapso ambiental
a que assistimos atualmente é o mote para a ação.
Luísa Alvim Barateiro, “Público” (sem link)
Uma
administradora da TAP chegou a acordo com a companhia para fazer cessar o seu
mandato e um contrato de trabalho.
(…)
As
partes chegaram a acordo relativamente ao montante e só depois – na fase de
concretização ou redação do acordo – fizeram um cálculo de forma a perfazer o
montante que definiram.
(…)
Mas a
TAP é uma empresa pública e Alexandra Reis era uma gestora pública. A
partir daqui existiam uma série de condicionantes que tinham de ser respeitadas
na fixação da indemnização e na sua formalização.
(…)
Estamos aqui perante vários problemas ou perante vários
níveis do mesmo problema.
(…)
Por um
lado, os portugueses acharam imoral uma indemnização de 500 mil euros na TAP,
empresa que fez cortes salariais aos seus trabalhadores e que tem sido um
sorvedouro de dinheiros públicos.
(…)
Por
outro lado, graças à divulgação do parecer da Inspeção-Geral das Finanças os
portugueses passaram a saber que, além de imoral, o acordo que fixa a
compensação está ferido de ilegalidades várias.
(…)
Mas também quero dizer-vos que era possível ter formalizado a
atribuição da referida compensação sem violar a lei
(…)
É
verdadeiramente fascinante que tantas pessoas, e tão bem posicionadas, não se
tenham dado ao trabalho de equacionar o que sucederia se aquele acordo fosse
analisado por uma terceira entidade.
(…)
O nosso lado justicialista tem razões efetivas para se dar
por satisfeito.
(…)
O que
ficou a nu foi um modo de atuação, ao mais alto nível do país, em que os
protagonistas não cumpriram a lei e estavam convencidos que ninguém iria
reparar.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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