quarta-feira, 8 de março de 2023

CITAÇÕES À QUARTA (44)

 
[Aos bispos portugueses] foi-lhes unanimemente reprovado o estilo e, muito mais que o estilo, foi-lhes unanimemente reprovada a falta de coragem, de humildade e de capacidade de transfiguração que fez com que o estilo tenha sido aquele.

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Onde se exigia primado absoluto da compaixão concreta com as vítimas, houve razão burocrática e legalista.

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Onde se exigia assunção inequívoca de responsabilidades, houve bolas para canto.

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Onde se exigia todo o arrojo, houve toda a retração.

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Onde se exigia arrependimento pelo pecado coletivo, houve retórica de advogado de defesa.

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Onde se exigia coerência com a crítica ao relativismo, houve relativismo acrítico.

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Não faltou aos bispos portugueses nem tempo nem informação para prepararem uma resposta redentora ao pecado horrendo instalado há tanto tempo.

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E sabiam, todos sabíamos, que por factos muito menos gravosos que os revelados no relatório da Comissão Independente, houve sonoras resignações noutros países.

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[O que ficou patente na reação dos bispos foi] esta abordagem tíbia, defensiva, tão pouco expressiva da amizade cristã para com as vítimas, foi exatamente a que foi querida e preparada.

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Tristemente, esta posição dos bispos faz com que essa desconfiança natural das vítimas nas estruturas da instituição que encobriu os seus algozes se prolongue agora na desconfiança de toda a sociedade para com a Igreja.

José Manuel Pureza, “Público” (sem link)

 

A vingança é a base cultural do inimiguismo: há quem se sinta destinado a arrastar pelo tempo fora um ajuste de contas interminável.

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O ataque de um ex-ministro da Saúde a uma ex-ministra da Saúde do mesmo partido, o PS, é um esplêndido caso de estudo para esta tese.

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Adalberto Campo Fernandes foi substituído por Marta Temido e, à falta de se poder virar contra o primeiro-ministro que o demitiu, toma-a como alvo.

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Depois, Campos Fernandes festejou a demissão dela, foi um seu aliado que foi escolhido para a substituir. 

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O remoque disparado contra Temido resulta do seu elogio ao sector privado da Saúde durante a pandemia, que agora enalteceu e que antes destroçara em críticas duras. A contradição é evidente. 

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Até me parece um atrevimento ingénuo pensar que as pessoas se esqueceram da conta que os hospitais privados então exigiam por quem fosse internado com covid.

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A covid foi um negócio suculento e, se não fosse o SNS, o país estaria desprotegido. 

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Assim, chegamos ao conteúdo: Campos Fernandes ataca agora Temido por estar de acordo com ela, ou ela com ele. 

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Ajusta-se contas por haver uma aproximação de pontos de vista, escolhendo a borda do insulto para acentuar a fragilização do bem público que devia ser a saúde.

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E, já agora, Portugal fica a perder com o resultado deste estranho jogo partidário.

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

Desde então [1974], a mobilização de mulheres pela defesa das causas ambientais em diferentes partes do mundo deu origem a uma nova corrente do movimento feminista, o ecofeminismo ou feminismo ecológico.

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As mulheres conscientes das múltiplas discriminações que sofrem, por serem mulheres, tomaram também consciência da necessidade de combater a exploração da natureza.

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As alterações climáticas, a perda da biodiversidade e a poluição representam uma tríade preocupante para a vida na Terra e as guerras, como a que atualmente ocorre na Ucrânia, agravam drasticamente a crise climática.

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É imprescindível ter presente que um meio ambiente saudável é essencial para que a paz e os direitos humanos fundamentais sejam possíveis.

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Segundo o mais recente Relatório Global sobre Deslocamento Interno do Centro de Monitorização de Deslocamento Interno (IDMC), 59,1 milhões de pessoas estavam deslocadas internamente em todo o mundo no final de 2021, 53,2 milhões como resultado de conflitos e violência e 5,9 milhões como resultado de catástrofes ambientais.

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É importante referir que mulheres e crianças representam a maioria dos refugiados.

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Com o aumento da frequência de fenómenos extremos ambientais, a deslocação de populações será cada vez mais frequente, particularmente nas regiões costeiras.

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É natural que estes cenários preocupem as novas gerações.

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Com o início deste milénio, o debate em torno das alterações climáticas intensificou-se e são muitas as vozes de mulheres que têm surgido em defesa das causas climáticas.

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A manutenção da esperança na Humanidade, sabendo que uma resposta coletiva, multinível e internacional poderá reverter muitos dos processos de colapso ambiental a que assistimos atualmente é o mote para a ação.

Luísa Alvim Barateiro, “Público” (sem link)

 

Uma administradora da TAP chegou a acordo com a companhia para fazer cessar o seu mandato e um contrato de trabalho.

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As partes chegaram a acordo relativamente ao montante e só depois – na fase de concretização ou redação do acordo – fizeram um cálculo de forma a perfazer o montante que definiram.

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Mas a TAP é uma empresa pública e Alexandra Reis era uma gestora pública. A partir daqui existiam uma série de condicionantes que tinham de ser respeitadas na fixação da indemnização e na sua formalização.

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Estamos aqui perante vários problemas ou perante vários níveis do mesmo problema.

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Por um lado, os portugueses acharam imoral uma indemnização de 500 mil euros na TAP, empresa que fez cortes salariais aos seus trabalhadores e que tem sido um sorvedouro de dinheiros públicos.

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Por outro lado, graças à divulgação do parecer da Inspeção-Geral das Finanças os portugueses passaram a saber que, além de imoral, o acordo que fixa a compensação está ferido de ilegalidades várias.

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Mas também quero dizer-vos que era possível ter formalizado a atribuição da referida compensação sem violar a lei

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É verdadeiramente fascinante que tantas pessoas, e tão bem posicionadas, não se tenham dado ao trabalho de equacionar o que sucederia se aquele acordo fosse analisado por uma terceira entidade.

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O nosso lado justicialista tem razões efetivas para se dar por satisfeito.

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O que ficou a nu foi um modo de atuação, ao mais alto nível do país, em que os protagonistas não cumpriram a lei e estavam convencidos que ninguém iria reparar.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


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