(…)
Mas interessa-me outra história. Foi há três meses, em 28 de
fevereiro, que 130 trabalhadores da CP, tutelada diretamente por Galamba,
deixaram de receber.
(…)
A CP e o Ministério não se chegaram à frente, recusaram-se a
assumir o serviço mesmo que temporariamente.
(…)
Durante 54 dias, estes trabalhadores estiveram acampados
frente às estações de Campanhã e Santa Apolónia, sobrevivendo com as refeições
doadas pelo sindicato e com o apoio de vizinhos e colegas.
(…)
Só amanhã, 4 de maio, retomarão finalmente o emprego, com uma
nova empresa concessionária e a promessa de receberem o que lhes devem.
(…)
No passado dia 1 de maio, entraram em vigor as alterações à
legislação laboral.
(…)
Trabalhadores externalizados passam a estar abrangidos por
acordos de empresa, bem como por acordos e contratos coletivos de trabalho das
empresas onde prestam serviço.
(…)
É impossível combater a precariedade sem combater o
outsourcing, que é atualmente um dos seus principais instrumentos.
(…)
A “presunção de laboralidade” com as plataformas digitais, um
avanço legal significativo, por prever um vínculo laboral entre plataformas e
trabalhadores, que as plataformas já anunciaram como pretendem contornar.
(…)
São questões que não têm empolgado o campo mediático nem
merecido grande atenção - certamente menos que o escarcéu do computador e
a demissão encenada de Galamba.
(…)
A maior e mais escandalosa mentira deste governo aconteceu em
setembro do ano passado, quando a ministra do Trabalho advertiu que a Segurança
Social iria à falência caso se cumprisse a lei de atualização das pensões.
(…)
Mas creio que nenhum comentador falou da demissão da ministra
nem o Presidente interveio em nome da credibilidade e do prestígio das
instituições.
(…)
Por que gera tão pouco escândalo, comparativamente, o
abandono pelo Ministério das Infraestruturas dos trabalhadores dos bares dos
comboios?
(…)
A política que temos é feita de paixões, mas estas não dizem
respeito à “política dos muitos” nem à vida de quem trabalha.
José Soeiro, “Expresso” online
Esta mistura de magia Harry Potter e de malignidade Guerra
dos Tronos é o governo português em ação e já vamos no quarto dia. Uma
caubóiada.
(…)
Quando o presidente do partido pede a remodelação da
remodelação, nem vale a pena a repetição desconexa de tantos dirigentes que
pedem que o oráculo seja interpretado na minúcia (…) pois tudo é óbvio.
(…)
Em todo o caso, passamos um ponto de não retorno. A maioria
absoluta fez do governo o padrinho do populismo de que se queixa.
(…)
Ninguém fez agora mais para desacreditar a política, para
exibir desinteresse pelas soluções, para banalizar a conversa fiada (…) do que
o governo.
(…)
E, se há ali quem acredite que o país vive deslumbrado com o
PRR, ou que o povo se consola com o défice, desengane-se.
(…)
Transformar o país numa farsa pode animar uma sede
partidária, pode alimentar um modelo de intriga (…) mas é sempre uma
política que alimenta o populismo.
Francisco Louçã, “Expresso” online
(sem link)
As cidades devem estar no centro de qualquer visão realista
sobre a sustentabilidade.
(…)
As nossas cidades têm de facto uma enorme pegada
ecológica.
(…)
[A Bacia Mediterrânica] para
além de ser uma região particularmente vulnerável às alterações climáticas, tem também
uma das maiores taxas de urbanização do mundo.
(…)
[ As cidades da
região mediterrânica] estão também a enfrentar as ameaças crescentes
da subida do nível do mar, de inundações costeiras e de tempestades
(UN-Habitat, 2018).
(…)
É por
esta razão que a União para o Mediterrâneo (UpM) tem apelado constantemente à
cooperação internacional para impulsionar o desenvolvimento sustentável.
(…)
Especialmente
à medida que repensamos as nossas cidades pós-COVID-19, as respostas
estratégicas eficazes e conjuntas são mais cruciais do que nunca.
(…)
Uma dessas áreas-chave deve ser a falta de eficiência
energética nos edifícios,
correctamente referida como o "elefante na sala".
(…)
Actualmente,
os edifícios e a construção são responsáveis por 37% das emissões de gases com efeito de estufa
relacionadas com a energia.
(…)
Longe
de atingir as suas ambições de descarbonização até 2050, o consumo global de
energia do sector da construção está em vias de duplicar até [2050].
(…)
A
resposta é clara. Uma vez que o Mediterrâneo estará na vanguarda das alterações
climáticas, deve também ser um líder mundial em inovação.
(…)
É por
isso que a UpM apoiou a criação da iniciativa do Programa para a Eficiência
Energética nos Edifícios (PEEB) na região do Mediterrâneo.
(…)
Através
da sua recente colaboração com a OMS, a UpM conseguiu promover cidades mais
saudáveis e habitáveis que dão prioridade ao bem-estar dos seus habitantes.
(…)
Para
além das parcerias institucionais, o trabalho em prol do desenvolvimento urbano
sustentável exige também a inclusão, envolvendo os cidadãos, os jovens e as
mulheres para que todos tenham uma palavra a dizer sobre o local onde vivem.
(…)
Ao dar prioridade ao desenvolvimento urbano sustentável,
podemos reforçar a resiliência das cidades euro-mediterrânicas.
Erdal Sabri Ergen, “Público” (sem link)
[Não obstante a catástrofe climática em curso] o
Governo português decide continuar a acelerar na “autoestrada para o inferno climático”,
apostando na construção de uma nova infraestrutura aeroportuária de grandes
dimensões.
(…)
Sendo a aviação uma das atividades humanas mais poluentes (…)
torna-se difícil imaginar como as atuais miragens aeroportuárias possam ser
compatíveis com a neutralidade carbónica.
(…)
Depois
de contestado por organizações da sociedade civil que chegaram a utilizar a via
judicial para pedir a anulação da Declaração do Impacte Ambiental
condicionada, foi a oposição de dois municípios afetados que
acabou por travar os planos para o Montijo
(…)
[Uma lei] oportunamente revertida em abril deste ano por um acordo entre PS e
PSD que convergiram na amputação dos poderes locais, não vá o Diabo
tecê-las.
(…)
Em
última análise, não há volta a dar, ou a humanidade continua na autoestrada
para o inferno climático ou muda radicalmente de trajetória.
(…)
É
impossível evitar a catástrofe climática sem tocar na aviação internacional.
Hans Eickhoff, “Público” (sem link)
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