(…)
[Segundo
eles, haverá] uma segunda fase de ajustamento dos preços em que as subidas dos
salários começarão a compensar as perdas que já sofreram.
(…)
Na
dúvida, [Lagarde e os lagardólogos] recomenda aos Governos que ponham travão
aos salários.
(…)
O
ajustamento faz-se, portanto, pela perda nos salários.
(…)
O
problema é que isto é mais difícil de dizer pelos responsáveis políticos que
terçaram para que o BCE possa fazer exatamente assim.
(…)
Protestam,
portanto, unicamente para impressionar a opinião pública.
(…)
Caem
por vezes esses governantes na armadilha da precipitação.
(…)
Foi
assim que o Governo português alinhou pelo diapasão da inflação “temporária”.
(…)
Contudo,
o mais expressivo desses alinhamentos devotos foi a repetição de que os
salários não poderiam recuperar.
(…)
[Em
abril do ano passado, o mesmo primeiro-ministro tinha dito] que a espiral
inflacionista condicionaria as escolhas do Orçamento.
(…)
Portanto,
nada de salários.
(…)
Até é
difícil encontrar alguma lógica neste enredo, em que a perda de valor dos
salários deve ser “alinhada” pelo objetivo do BCE… para a inflação, que na
realidade é o quádruplo.
(…)
Vem
então agora o primeiro-ministro criticar o que antes era a sua certeza,
atacando Lagarde pelo que ele próprio dela repetiu.
(…)
Os
salários em Portugal continuarão muito abaixo dos cerca de 15% que a inflação
lhes come em 2022 e 2023.
(…)
Parece
um pouco exagerado o anúncio pelos lagardólogos de que haverá um processo
mágico de recuperação salarial em 2024.
(…)
Em
Portugal, onde um salário de mil euros em 2002 teria que ser hoje de 1422 euros
para manter o mesmo poder de compra.
(…)
O
efeito destas restrições tem sido um empobrecimento de quem trabalha.
(…)
[Estamos
perante] um buraco cósmico que explica tanto a emigração quanto a perda do
prémio da qualificação de ensino superior.
(…)
O
aumento dos salários é sempre a chave para desbloquear estas condenações.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O
Bloco e o PAN apresentaram dois projetos de lei que têm em comum introduzir o
critério da paridade de género na composição dos juízes do Tribunal
Constitucional (TC).
(…)
A
experiência tem demonstrado que introduzir quotas é a única forma eficaz de
garantir que deixamos de ter uma maioria absoluta de homens nos cargos mais
altos das organizações.
(…)
A IL e o Chega manifestaram-se contra.
(…)
Aqui entre nós: gosto mais quando a IL não se disfarça de progressista. Assim,
na versão sincera, é que estão bem.
(…)
Mas também o PCP se posicionou contra.
(…)
O PCP
consegue fazer uma coisa que nenhuma outra força política consegue: apresenta
argumentos válidos, que merecem reflexão, mesmo quando assume posições que são
contrárias ao que temos como sendo um avanço social.
(…)
O que
se passa ao mais alto nível deve ter tradução nos direitos das mulheres de
classes socioeconómicas mais baixas ou perde valor.
(…)
O Livre, o PS e o PSD foram deixando transparecer, mais ou
menos claramente, estar a favor.
(…)
A lei
que prevê e regula a eleição dos juízes para o TC é uma lei orgânica e o
ordenamento jurídico português prevê especificamente qual a maioria necessária [maioria
absoluta] para alterar essa lei.
(…)
Quem é advogado sabe bem o quanto a magistratura judicial é,
cada vez mais, um universo de mulheres.
(…)
Está ao alcance da democracia mudar isto no mais alto
tribunal português, onde a desigualdade é historicamente embaraçosa.
(…)
Nunca foi por falta de qualidade que as mulheres ficaram na
segunda fila.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Há um problema de segurança associado ao consumo de drogas
ilícitas a adensar-se, evidente e excessivo.
(…)
Confundir a necessidade de segurança ou de protecção da saúde
pública com a desnecessidade de adaptar uma lei que hoje permite que cerca de
30% dos condenados em 2021 por crimes relacionados com drogas sejam
consumidores, é uma total aberração.
(…)
Para uma lei que descriminalizou o consumo há 23 anos, algo se passa.
(…)
As substâncias psicoactivas passaram, ao longo de duas
décadas, por maiores transformações do que grande parte das matérias-primas e
indústrias.
(…)
Olhar para o contexto como uma oportunidade para nada fazer,
enquanto os problemas de saúde pública e de segurança se agravam, é agitar um
belo mix de cobardia e populismo.
Como
já era esperado, e várias vezes anunciado, este último mês de Junho bateu novo
recorde. Tornando-se o mês de Junho mais quente desde os últimos 200 anos, desde
o período pré-industrial.
(…)
[Já
foi anunciado pela Organização Mundial de
Meteorologia] de que, com grande probabilidade, 2024 poderá vir
a ser o ano de novo recorde de aquecimento global, superando-se novamente os
1.5 ºC.
(…)
Foi na
última década que assistimos ao maior aumento da anomalia da temperatura média
global, de 0.24 ºC, o dobro do aumento que ocorreu na década de 90.
(…)
A
superfície da Terra está a aquecer a um ritmo que é o dobro do que acontecia há
cerca de 20 anos.
(…)
A
tendência da curva de anomalia da temperatura média global é a de se superar
1.5 ºC no final desta década e a caminhar para os 2 ºC por volta de 2050.
(…)
A cada
recorde, a cada evento extremo possível de ser associado ao aquecimento global
e às alterações climáticas, soam os alarmes, tocam as sirenes, multiplicam-se
os avisos.
(…)
… Mas, vai-se a ver, e nada!
(…)
O clima está
a responder ao crescimento demográfico, ao crescimento económico e ao aumento
do consumo.
Carlos Antunes, “Público” (sem link)
Estarmos a viver, neste momento, uma semana marcada pelas mais altas
temperaturas médias alguma vez registadas no planeta está na categoria dessas
notícias cujo sobressalto que provocam não corresponde à dimensão do problema.
(…)
Entre
os jovens, aquela população que mais consciente se tem revelado do que está em
causa, a guerra, as alterações climáticas e a saúde são, por esta ordem, as
três maiores preocupações.
(…)
Os
cientistas dizem que 2023 trará novos recordes — ainda que num planeta que já
está com os termómetros a subir seja difícil prever o que nos trará desta vez o
fenómeno climático El Niño.
(…)
Não é por isso ignorância, é mesmo egoísmo, o que explica que
continuemos a dar pouca importância [aos alertas dos cientistas].
Andreia Sanches, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário