(…)
Quando
foi receber o prestigiado prémio da Writers Guild of America, tinha saldo
negativo na conta.
(…)
Familiares
e amigos arranjaram-lhe o smoking, mas o laço teve de ser comprado a crédito.
(…)
O
glamour da televisão tem como motor uma mão de obra precária que dificilmente
consegue pagar as contas ao fim do mês.
(…)
Quanto
mais o seu trabalho é reconhecido e culturalmente influente, pior são as suas
condições de vida.
(…)
Uma
série típica nos canais tradicionais tinha 20 a 22 episódios, o streaming
aposta em temporadas de oito a dez.
(…)
O
resultado para quem os faz [os filmes] foi uma redução de 40 para 20 semanas de
tempo médio de trabalho em casa série, num meio onde se é pago à peça.
(…)
E se
dantes recebiam por cada reposição nas televisões, agora, com o streaming,
recebem apenas uma vez.
(…)
Foi
para reverter a degradação das condições contratuais e salariais que os
argumentistas entraram numa greve a que se juntaram os atores e que vai durar
meses.
(…)
O
vencimento [dos argumentistas] caiu em 23% no mesmo período [há uma
década].
(…)
Quase
90% dos atores recebem menos de 26 mil dólares por ano, o mínimo para ter
direito a seguro de saúde.
(…)
Como
em todo o lado, dinheiro não falta.
(…)
Há é
quem, aproveitando este momento disruptivos, fique com grande parte do bolo.
(…)
A
intenção de reduzir os direitos e o rendimento distribuído aos criadores
intelectuais, (…), não podia ser mais clara.
(…)
Os
mesmos estúdios que movem montanhas para proteger os seus direitos sobre
propriedade intelectual querem retirar direito de identidade e imagem a quem
está na origem da propriedade intelectual que tão zelosamente defendem.
(…)
Hollywood
transformou-se numa parte da gig economy, em que todos são tratados como
estafetas da Uber.
(…)
[Se
nada fizermos, avanços tecnológicos podem servir] para concentrar ainda mais a
riqueza.
(…)
Não é
a tecnologia que nos escraviza, é a relação de poder que lhe é prévia.
(…)
A
greve em Hollywood é, como em qualquer fábrica, sobre essa relação de poder.
(…)
É a
capacidade de resistir e mover a balança do poder [que determinam as perdas ou
ganhos de quem vive do seu trabalho].
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Segundo
o Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR, entre janeiro e novembro de
2022 ocorreram 22 femicídios em Portugal, todos em relações de intimidade e
levados a cabo por homens.
(…)
Cerca
de metade das situações era do conhecimento de familiares e vizinhos.
(…)
Até
março deste ano, morreram três mulheres, às quais poderão somar-se mais algumas
no 2º trimestre.
(…)
As
Estruturas de Apoio à Vítima são essenciais na identificação de situações, na
mitigação do impacto das dinâmicas abusivas e na criação de oportunidades de
mudança.
(…)
Ainda
assim, o fenómeno de violência doméstica é complexo.
(…)
Desde
julho de 2021, foram atendidas 311 pessoas no Espaço Vida e 68 tiveram apoio
psicológico no SAIV [Serviço de Apoio e Informação à Vítima] da CESPU
[Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário].
(…)
Ainda
somos uma sociedade pouco mobilizada e que desconhece que a violência é um
crime público.
Alexandra Serra, “Expresso” (sem link)
Na Europa a que pertencemos por geografia e por outros
compromissos coletivos, vemos as democracias enfraquecerem perigosamente
(…)
O eurocentrismo e o ocidentalismo têm negado dignidade e
direitos iguais a todos os povos.
(…)
Os resultados [das eleições do último domingo em Espanha]
foram uma grande vitória da democracia.
(…)
Reforçou-se a responsabilidade da Esquerda.
(…)
Na Europa há uma real onda neofascista que cavalga a grande
velocidade.
(…)
A extrema-direita e forças fascistas estão instaladas nos
parlamentos e governos de grande número de países da EU.
(…)
Pressupor que a “ganância” dos trabalhadores e dos
pensionistas (quando reivindicam melhores salários e pensões) é simétrica da
ganância dos detentores de fortunas escandalosas feitas do dia para a noite é
negar a igualdade, a solidariedade, a justiça.
(…)
[Os povos de Espanha] não querem a ultradireita no governo.
Numa
decisão com a importância da venda da TAP importa entender a lógica do que irá
acontecer depois.
(…)
É
muito importante para o país o chamado “Hub de Lisboa”.
(…)
Hub é
a plataforma giratória de voos, e centro de conexão.
(…)
Nenhum
hub pertence a um aeroporto ou cidade, mas sim às companhias aéreas.
(…)
Lisboa
não tem nenhum hub. Quem tem hub é a TAP que faz do aeroporto Humberto Delgado
um centro de ligações entre continentes.
(…)
Lisboa
é o hub da TAP e só haverá um hub em Lisboa enquanto a TAP (…) decidir que é em
Lisboa que pretende manter ou instalar a base da sua rede.
(…)
[Se o
comprador for uma companhia aérea europeia] será consequente a deslocação do
hub da TAP [para dora de Portugal].
(…)
Portanto,
com a venda da TAP ficamos sem TAP e com um aeroporto secundário.
(…)
Acabarão
os voos diretos de e para a áfrica, América Latina e América do Norte.
(…)
Em
termos de tráfico aéreo, Portugal deixa de ter importância internacional.
(…)
[Quando
se espera lucro efetivo] na TAP é que é que se pretende destruir o prestígio
Nacional que a TAP representa?
(…)
Mantendo
a TAP nacionalizada, ela terá o seu hub em Lisboa e há indicadores económicos
fortes da sua viabilização.
(…)
Ainda
tem a TAP a criar riqueza em Portugal, a criar emprego em Portugal, a exportar
por Portugal, a alimentar a receita fiscal dos portugueses.
(…)
A
gestão da TAP tem é que perceber o que é uma empresa pública e para que é que o
povo português precisa de uma empresa pública.
(…)
Aquilo
que se passa hoje na Altice Portuga, antiga PT, está a acontecer porque houve
um crime principal, que abriu caminho para todos os outros. Esse crime foi o da
privatização da PT.
Celestino Flórido Quaresma, “Diário de Coimbra”, (sem link)
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