(…)
Pois
estamos a assistir à sofrida agonia de um deles, o de que o Estado não deve ter
política industrial, o mercado resolve.
(…)
A
União Europeia proibiu as “ajudas de Estado” e impôs uma restrição orçamental
para a privatização dos bens públicos.
(…)
Mesmo
num país com grande folga orçamental, a Alemanha, a degradação da
infraestrutura social é pesada, faltam 60 mil médicos e os hospitais estão como
os nossos.
(…)
[Diversos
governos financiam] maciçamente projetos nas tecnologias de comunicação, a
guerra fria do 5G e da AI, e no armamento, a guerra quente.
(…)
A
condução militar dos processos de inovação industrial não é de agora.
(…)
A
concentração de recursos neste setor [militar] vai-se agigantar, nada como uma
boa guerra prolongada.
(…)
As
novas políticas fiscais têm significado mais impostos sobre quem trabalha para
pagar mais subsídios a empresas, financiando a sua rentabilidade.
(…)
Uma
política industrial é uma oportunidade para a transição energética, como também
pode ser uma abertura para o fóssil, e este tem vindo a ganhar.
(…)
Só uma
política industrial ambiciosa pode criar emprego com salários qualificados e
garantir o bem-estar social, ou criar o sistema de cuidados que são a parte da
democracia na economia.
(…)
A
política industrial, se não for o desperdício que se está a anunciar, poderia
ser a âncora para a recuperação com emprego e com salários.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Então
se o Estado é dono de ações da empresa [TAP]e alguém é o seu representante, essa
pessoa não deve receber instruções sobre como votar?
(…)
Mal
faria o Estado se, usando o nosso dinheiro, não se responsabilizasse por ele.
(…)
Esta
doutrina segundo a qual o Estado é dono, mas uns senhores fazem o que querem
com a sua representação, por serem as vozes do mercado, é uma aberração.
(…)
De
facto, esta bizarria da independência dos gestores públicos é uma forma de
evitar o escrutínio que realmente importa, sobre o que fazem e como conduzem a
empresa.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
As comparações [entre possíveis alianças PP-Vox e
PSD-Chega] são legitimas, dados os
vários aspetos comuns.
(…)
Será que o Vox é o Chega português, ou vice-versa?
(…)
O Vox,
tal como o Chega, pertence ao universo da ultradireita – casa da
extrema-direita e da direita radical, onde habitam diferentes partidos e
organizações.
(…)
O partido de Santiago Abascal é identificado, unanimemente,
pela ciência política como habitando o lado radical da ultradireita.
(…)
[O VOX] apresenta as três principais características da
direita radical, (muito) resumidas no parágrafo anterior: o nativismo, o autoritarismo
e o populismo.
(…)
Mas o Vox tem também particularidades presentes e passadas
que fazem do partido um fenómeno diferente do Chega.
(…)
Para
além do discurso nativista anti-imigração, o Vox irrompeu na política espanhola
enquanto partido nacionalista e unionista, apostando numa lógica punitiva contra
o independentismo catalão.
(…)
No contexto do Chega não existe um movimento político
adversário tao fraturante a nível nacional, como são os separatismos.
(…)
Se o nacionalismo serve para combater o separatismo, o Vox
usa o nativismo como arma contra a imigração.
(…)
O partido espanhol, ao contrário do seu congénere português,
é um partido de quadros.
(…)
Ao contrário do Chega, o Vox não é um partido unipessoal.
(…)
E, para além do próprio Vox, existe ainda uma rede de
organizações que alimentam a ação política do partido.
(…)
O Vox
encontra-se mais preparado para o exercício da conquista e manutenção do poder;
é o partido que o Chega gostaria de ser.
(…)
Contudo,
esta conclusão não exclui a hipótese de aliança futura entre o espaço do
centro-direita e a direita radical em Portugal.
David Pimenta, “Público” (sem link)
Perguntar-se-á o eleitor base do PSD se foi para isto que
Montenegro assumiu a liderança, se foi para mimetizar comportamentos a reboque
da extrema-direita.
(…)
[Há uma] incapacidade de diferenciação prática entre boa
parte das posições deste PSD e boa parte das teorias demagogas do partido de
André Ventura.
(…)
Todo o processo de reacção do PSD ao cartoon “Carreira de
Tiro” na RTP é um manual de desacerto.
(…)
Atacar um cartoonista é atacar o jornalismo livre.
(…)
Há um PSD que, estranhamente porque em autofagia, não perde
uma oportunidade para concorrer com a loja de horrores da extrema-direita.
(…)
Quanto tempo mais veremos o maior partido da Oposição em
carreira de tiro aos próprios pés?
Aproxima-se
a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e parece que tudo o que tem que ver com o
evento tem o potencial de ser notícia e não por boas razões.
(…)
Os
custos astronómicos que têm vindo a público também não ajudam e o transtorno
que se antecipa na vida das pessoas também não.
(…)
A mensagem que é atribuída a Jesus Cristo no Novo Testamento é
absolutamente digna de ser difundida.
(…)
O bem
comum, a partilha e a distribuição da riqueza são a base dos ensinamentos de Cristo.
E terá passado à prática.
(…)
Também expulsou comerciantes das imediações de um templo e
não terá sido macio nessa diligência.
(…)
E o
Vaticano tem sido, ao longo dos séculos, um grande exemplo de má interpretação
de um texto. Não perceberam nada.
(…)
Nunca
um Papa [como Francisco] pareceu tão alinhado com a doutrina inicial e nunca a
Igreja tinha feito um esforço tão assinalável de se aproximar do progressismo.
(…)
Existem duas Igrejas: a do Papa Francisco e uma velha Igreja
bafienta e conservadora.
(…)
Neste período de preparação da JMJ ficou bem à vista qual
dessas correntes da Igreja prevalece em Portugal [a conservadora].
(…)
Este executivo camarário tem demonstrado um perfeito
entendimento, e cumplicidade, com esta lógica obsoleta.
(…)
O último caso é o tratamento que está a ser dado às pessoas
sem-abrigo.
(…)
A novidade aqui é a pressa em retirar estas pessoas das ruas
a tempo da JMJ.
(…)
A grande virtude deste executivo é a gestão da sua imagem.
(…)
Priorizam a estratégia de comunicação em relação ao trabalho
camarário.
(…)
É o que está a acontecer em relação à situação das pessoas
sem-abrigo
(…)
A vinda deste Papa a Lisboa deveria ser uma boa notícia para
quem vive em tendas nas ruas.
(…)
Estão destinados a ser obliterados do espaço público e agora
com hora marcada.
(…)
Se deixarem de os ver, acreditam que não existem.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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