(…)
Tornou-se
senso comum, isento de motivação ideológica.
(…)
O
texto [do recente artigo de Fernando Medina no “Expresso] começa com um
equívoco lateral mas pouco inocente.
(…)
O
ministro acusa de dogmatismo quem critica a folga orçamental.
(…)
Ora,
esta folga é o sistemático incumprimento, por excesso, das metas definidas pelo
Governo.
(…)
Não
por acaso económico ou incompetência política, mas por estratégia manipulatória
(…)
Para
terminar, a ideia pequenina de que o país não pode ter prioridades e aspirações
para lá da aceleração do pagamento da dívida.
(…)
Com
base nestes mandamentos, Medina assegura que pode haver negociações com
professores, desde que a despesa estrutural não aumente.
(…)
Nenhuma
destas [leia-se “das”] contenções é um ato de coragem, bom senso ou honestidade
orçamental.
(…)
A
“poupança” em investimentos essenciais regressa mais tarde como despesa
adicional.
(…)
Quanto
teríamos poupado em tarefeiros, contratação de serviços e aluguer de material
com investimento atempado na saúde e na ferrovia?
(…)
Quanto
será desperdiçado em fundos europeus devido ao depauperamento sistemático do
Estado em quadros técnicos capazes de processá-los e geri-los?
(…)
O
Portugal do passinho-menor-que-a-perna ficará sempre atrasado, porque as
condições de crescimento não passam no garrote da contenção orçamental.
(…)
O
próprio [Medina] reconhece a desvalorização dos salários face à inflação e que
o país empobrece.
(…)
Se aplicarmos
o excedente em políticas públicas, o que nos espera é a punição de Bruxelas e
Frankfurt.
(…)
Percebe-se
a sequência de lugares-comuns e preconceitos neoliberais da pena do ministro.
Mariana Mortágua, “Expresso” (sem link)
Como
qualquer pessoa normal, choquei-me quando vi o vídeo em que uma influencer
descrevia a sua técnica para resolver as birras da filha: enfiava-a em água
fria.
(…)
Tudo o
que dizemos, escrevemos e exibimos ficará para sempre dito, escrito e exibido.
(…)
Num país
que convive em silêncio com a violência quotidiana sobre mulheres, velhos e
crianças, a fúria viral dá a ilusão de civismo.
(…)
O meu
incómodo passou para a assustadora fúria viral a que todos se entregavam, que
se assemelha à cobardia agressiva dos linchamentos.
(…)
O
abuso desta mãe é uma história infelizmente banal que se deve resolver por
intervenção especializada.
(…)
Uma
coisa é certa: a exibição do caso a milhões de pessoas não faz parte da
estratégia aconselhada.
(…)
Apesar
da militância digital nas redes contrastar com a inércia cívica dos portugueses
(…), quero acreditar que as coisas estão a mudar.
(…)
Que a
convicção de que uma palmada no momento certo ajuda a educar está a cair em
desuso.
(…)
Pelo
menos em alguns meios, até já vivemos o oposto, que é a incapacidade de muitos
pais perceberem que a palavra “não” é sinal de cuidado e afeto e que a
superproteção é uma forma de negligência.
(…)
Nestas
coisas, não devemos acrescentar espalhafato ao problema que queremos ajudar a
resolver.
(…)
A
diferença em relação a tantas outras histórias, é que esta mãe não se limita a
maltratar a sua filha, mas divulga-o de forma “didática” aos seus seguidores.
(…)
Infelizmente,
só a estupidez é viral. Da promoção da indignidade à sua correção justiceira.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
[Durante
a II Guerra Mundial] a palavra ersatz acabou por designar os produtos de
substituição, de um modo geral de pior qualidade do que o original.
(…)
Antes
de aparecer uma ideia, aparece um lugar-comum, um divertimento, um produto de
propaganda moderna a que chamamos marketing, uma rapidez verbal que funciona
bem com a redução do vocabulário circulante e com a ausência do pensar.
(…)
Ao
pensar-se pouco e ao falar-se guturalmente, com um “saber” resultado dos
fragmentos virais oriundos das redes sociais, as pessoas tornam-se fáceis
produtos para a manipulação.
(…)
E não tenham ilusões de que há especialistas nessa manipulação.
(…)
Como
não há quase nenhum escrutínio destes processos, usados por serviços secretos,
por agências de comunicação, ao serviço de governos ou de empresas, as pessoas
são facilmente manipuladas em toda a sua vida.
(…)
[A liberdade] é ainda mais posta em causa quando se torna
fácil enganar-nos e, no fundo, mandar em nós.
(…)
Por
exemplo, ainda ninguém me explicou qual é o trade-off que um jornalista ou
editor de um jornal faz para publicar as notícias que chegam por via de uma
agência de comunicação, sem qualquer critério jornalístico.
(…)
Estes
processos são facilitados pela crescente substituição da comunicação social
como fonte de informação pelo sistema das redes sociais onde também actuam
manipuladores profissionais.
(…)
[Olhem] para a crescente impregnação da antigamente chamada
comunicação social “de referência” pelo “tabloidismo”.
(…)
[O grande motivo é] ganhar dinheiro, por boas e más razões.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
A
Arábia Saudita está em transformação. Porque precisa de limpar a imagem
internacional, porque precisa de pensar num futuro sem petróleo, porque sonha
em tornar-se um actor geopolítico central daqui a umas décadas.
(…)
Segundo
os números do último censo publicados no final de Maio, [ 63% da sua população tem menos de 30 anos
] e a Casa de Saud teme que a mesma comece a questionar a monarquia, se não lhe
for dado algum ópio.
(…)
O futebol é, por isso, também uma arma política apontada às
democracias ocidentais.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Tudo o que a FIFA decide tem que ver com política.
(…)
No
entanto, Gianni Infantino, o presidente do organismo que manda no futebol
internacional, passa o tempo a dizer-nos que não quer a modalidade misturada
com a política.
(…)
Na
semana em que começa o Mundial Feminino de Futebol na Nova Zelândia e
Austrália, Infantino voltou a infantilizar o seu discurso, respondendo a
questões como a disparidade nos salários dos homens e das mulheres no futebol.
(…)
Em
Doha, Infantino debitara aquela colecção de palavras tão hipócritas face a tudo
o que se estava a passar com a organização do Mundial, que se transformaram
instantaneamente em manancial para humoristas.
(…)
Neste mundial feminino a FIFA] continuou a proibir a
braçadeira One Love em defesa dos direitos LGBT+.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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