(…)
A razão da enchente impressionante parece-me
óbvia: 50 anos depois, os inimigos mais frontais do 25 de abril elegeram 50 deputados.
(…)
O desconforto de parte da direita democrática
com a data, por nela ter tido um papel secundário (…), não é uma novidade.
(…)
Primeiro tentaram vender a ideia da “evolução”,
diminuindo o papel fundador de abril.
(…)
Como não resultou, tenta-se equiparar o 25 de
novembro, a travagem de um processo que se estava a descontrolar, ao 25 de
abril.
(…)
Com o aparecimento do Chega, o saudosismo
perdeu a vergonha. A extrema-direita cresceu muito e é possível que vá crescer
mais.
(…)
O susto é tal que tendemos a ignorar que nós,
os que amam abril, somos a larga maioria do país.
(…)
Como se viu na quinta-feira, a memória da mais
bela revolução do século XX é uma arma poderosa contra isso.
(…)
[A força simbólica de abril também está
associada] à descolonização e a um conjunto impressionante de conquistas
sociais.
(…)
Somos uma democracia mais sólida do que a
espanhola. Com menos traços autoritários. (…) É por causa da revolução e
da força popular de abril.
(…)
[O facto de o 25 de abril ter sido um golpe de
baixa patente] ajudou a que fosse tomado pelo povo ao fim de poucos dias,
transformando-se numa revolução.
(…)
[“25 de abril sempre”] é o apelo que nos
fará sair à rua sempre que a minoria do ódio mostrar os dentes.
(…)
Mas, mesmo em comparação com tantas democracias
na Europa, a nossa tem uma força especial: não nos foi oferecida.
(…)
[A democracia foi conquistada] por militares
vindos do povo e por um povo que não queria apenas o voto e a palavra, queria a
paz e a dignidade, sair da guerra e sair do bairro de lata.
(…)
Na última quinta-feira, mostrámos que somos uma
ruidosa maioria que não ficará calada perante a fanfarronice saudosista.
(…)
Não será fácil murchar este cravo.
Daniel Oliveira, “Expresso”
online (sem link)
1 de
Maio de 1886. Nesse sábado e nos dias seguintes, em Chicago, nos Estados Unidos
da América, dezenas de pessoas foram feridas e mortas pela polícia.
(…)
[Massacrados
por reclamarem] a limitação do
horário de trabalho a oito horas diárias e 48 horas semanais.
(…)
Então, há 138 anos, o trabalhador (ainda) não
tinha dia. Era um trabalhador “sem dia”.
(…)
Morreram
a lutar pela vida, por uma míngua de descanso pessoal e de disponibilidade para
a família, por porem cobro a jornadas de trabalho que podiam ir até às 10, 12 e
mesmo 16 horas de trabalho por dia.
(…)
Salários miseráveis, trabalhos penosos e
insalubres, condições de segurança e saúde no trabalho e horários de trabalho
desumanos, trabalho infantil [que a História regista no contexto da Revolução
Industrial onde preponderava o ultraliberalismo económico]
(…)
O Dia
do Trabalhador passou a ser assinalado em Portugal em 1890 e, suspensa e
reprimida pela ditadura durante 48 anos, a sua manifestação livre só se
verificou pela primeira vez no 1.º de Maio de 1974.
(…)
Até ao
25 de Abril de 1974, [o trabalhador] podia, a qualquer momento e sem explicação
ou causa (justa ou injusta), ir para “o olho da rua” (ou até preso, se
reclamasse muito).
(…)
Nesse
1.º de Maio como Dia do Trabalhador de há meio século, ainda que não tendo
passado pela prévia violência e morte de há 138 anos, o trabalhador acreditou
com convicção no direito ao exercício de um trabalho seguro.
(…)
[A 1
de maio de 2024, ao trabalhador português] aflige e revolta a dúvida de se tal
dia significa (ainda) o Dia do Trabalhador, naquele seu sentido social, de
identidade colectiva no e pelo trabalho.
(…)
Uma vida que pela precariedade do que lhe é
sempre central como suporte e condicionante – o trabalho – se torna
também cada vez mais permanentemente precária em tudo o que dia a dia a
consubstancia.
(…)
O significado das expectativas deste dia de há
50 anos retrocedeu em não poucos domínios das condições de trabalho [como, por
exemplo, a sobre-intensificação do trabalho].
João Fraga de
Oliveira, “Público” (sem link)
As
reparações pelos crimes do colonialismo português surgiram inesperadamente na
ordem do dia, pela mão de um ator ainda mais inesperado [Marcelo Rebelo de
Sousa].
(…)
As
narrativas que Ventura, Núncio e tantos outros propagam – de que Portugal
“trouxe a civilização” aos territórios colonizados – ignoram as inúmeras formas
de organização social e política dos povos africanos que viviam nestas terras.
(…)
Um
país que se debruça sobre o seu passado precisa de repensar e desconstruir os
mitos imperiais, repetidos como verdades incontestáveis, e nos quais ainda
assentam vários elementos da identidade nacional portuguesa.
(…)
[O
argumento] que reduz a história do colonialismo a uma amálgama de “coisas boas
e más” do passado que nada nos dizem respeito, é a quantidade de pessoas vivas
que sofreram às mãos do aparelho colonial português.
(…)
O
passado não é um artefacto perdido em tempos memoriais nos quais alguns
escolhem mexer, mas, pelo contrário, forma uma estrutura de poder densa na qual
todos estamos imersos.
(…)
Debater
as reparações não significa remexer num passado longínquo e inócuo, como alguns
o pretendem pintar, mas sobre como essa história dá forma ao nosso presente.
(…)
Porque não avançar, agora, com uma Comissão da
Verdade do Colonialismo Português (…) ?
(…)
Assistimos a processos semelhantes na Bélgica,
Holanda, Alemanha e França.
Leonor Rosas e João
Moreira da Silva, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário