(…)
Não me interessa a frase de Ventura sobre os turcos, mas a
resposta que Aguiar-Branco deu a Alexandra Leitão — que um deputado pode dizer
que uma raça é burra ou menos digna.
(…)
O presidente da Assembleia da República não tem razão quando
diz que a difusão desta afirmação está constitucionalmente protegida.
(…)
A lei não trata o racismo como trata opiniões políticas sobre
as leis de imigração, por exemplo.
(…)
[Os deputados] têm imunidade parlamentar para proteger o
poder legislativo da interferência do poder judicial.
(…)
Quanto menos regulada é uma instituição mais ela tem de se
autorregular.
(…)
Se um presidente da Assembleia da República pode intervir
para impedir o tratamento por “tu” ou uma saudação às galerias, também o pode
fazer para sinalizar uma intervenção que viola a lei.
(…)
A não ser, claro, que se considere que o racismo explícito é
matéria de debate político.
(…)
Os verdadeiros liberais sabem que a democracia não garante a
liberdade e que a liberdade não garante a democracia.
(…)
Só um conjunto complexo de regras legais e sociais permite
que as liberdades não se esmaguem umas às outras.
(…)
A liberdade ilimitada de uns acaba na escravidão dos outros.
(…)
A democracia é forma. E o que ouvi esta semana foi o oposto:
que a democracia é caos.
(…)
Parte do crescimento da extrema-direita resulta do fim da
censura social que as redes e a representação parlamentar promoveram. Não há
vida em sociedade sem contenção social.
(…)
Afrouxando a censura social ao racismo, os grupos violentos
ganham espaço de ação.
(…)
O problema dos principistas é tenderem a defender um
princípio até criarem as condições para a sua própria destruição.
(…)
A defesa de uma absoluta liberdade de expressão levaria à
destruição das condições para o exercício da liberdade, incluindo a de expressão.
(…)
Num espaço público dominado por redes sociais privadas que
dependem da polarização, do ódio e da mentira para serem lucrativas querem um
espaço de manobra ilimitado.
(…)
Quem defende que a liberdade não depende de regras quer
destruir as regras para depois destruir a liberdade.
Daniel Oliveira, “Expresso” Daniel Oliveira, “Expresso”
Eu
tenho andado de escola em escola em escola, por todo o país, a falar do 25 de
Abril, por iniciativa do Arquivo Ephemera.
(…)
Nestes públicos a grande diferença vem dos
locais e das escolas, e é a óbvia diferença social.
(…)
Salvo
raras excepções, os alunos estão lá por obrigação, não têm outro remédio senão
ir como se fossem para uma aula.
(…)
Percebe-se
o esforço dos professores para dar sentido a uma data em que muitos deles ainda
não eram nascidos, mas apanharam o “vento” da revolução nos seus primeiros anos.
(…)
Os alunos nem “vento” nem brisa, para eles cabe
bem a frase “o passado é um país estrangeiro”.
(…)
Falar da força e valor da liberdade a quem
sempre a teve não é fácil.
(…)
Para
eles, a liberdade é como o ar que se respira e, como não têm falta de ar, não
dão por ela.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Nos mais variados debates sobre reparações e
migrações a dignidade e valorização pela vida humana têm ficado para segundo
plano.
(…)
[A dignidade] é o princípio que guia o valor
inerente a cada ser humano, não obstante a sua proveniência, estatuto ou
circunstância.
(…)
A
incapacidade de olharmos para cada ser humano com base neste princípio fundamental
é o reflexo da crise de valores que hoje assombra o Ocidente.
(…)
Não é surpreendente que [o Pacto da UE sobre
Asilo e Migração aprovado em abril] tenha gerado tanto controvérsia
entre organizações como a Human Rights Watch ou a International Rescue
Committee.
(…)
O
Pacto, alertam os críticos, baseia-se numa lógica de acordos que perpetua o
ciclo de injustiça ao deixar pessoas em trânsito e requerentes de asilo
sujeitos a maior vigilância, detenções arbitrárias e maior risco de deportação,
desprotegidos e desprovidos de direitos humanos.
(…)
As
trajetórias migratórias inverteram-se do Norte-Sul para o Sul-Norte global, mas
as desigualdades que caracterizam a divisão destes “dois mundos” prevalecem.
(…)
A
velha Europa, que acolheu em Paris, a 10 de Dezembro de 1948, a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, encontra-se num profundo esquecimento daquilo
que um dia foi tido como o cerne da sua identidade moral e política.
(…)
Tomar
como ponto de partida o lugar que a dignidade humana ocupa dentro dos regimes
de desigualdade e exclusão em qualquer debate sobre reparações ou migrações é
imperativo.
Cláudia Santos, “Público” (sem link)
O Governo apresentou um conjunto de medidas,
aprovadas em Conselho de Ministros, dirigido aos mais jovens.
(…)
Não se estranha que um Governo de direita
confunda melhores condições de vida com menos tributação.
(…)
Faz
parte da matéria de que são feitos os partidos de direita não valorizar (pelo
menos, não muito) a tributação enquanto mecanismo de combate às desigualdades e
de redistribuição de riqueza.
(…)
Foi a
AD que ganhou as eleições e foi a direita na sua globalidade que obteve a
maioria absoluta dos votos dos portugueses. Isso significa que escolheram esta
lógica.
(…)
Das
medidas aprovadas em Conselho de Ministros destaca-se o IRS
Jovem, que prevê uma taxa máxima de 15% para os jovens até 35 anos e até ao
oitavo escalão.
(…)
Dito em numerário significa que ainda se aplica
aos jovens que ganhem 81.200 euros por ano.
(…)
Estamos a falar de uma remuneração mensal de
5800 euros.
(…)
É uma medida para poucos.
(…)
Se [um jovem] tem esse salário já tem razões de
sobra para ficar em Portugal.
(…)
Imaginem
que, mesmo aqueles que ganham 20 mil euros por mês, terão direito a uma isenção
de IMT e de imposto de selo na compra de casa. Leram bem.
(…)
Há que reconhecer: tudo isto é uma grande ajuda
para quem não precisava de ajuda nenhuma.
(…)
Claro que isso [jovens em Portugal que ganhem
muito] não significa que concorde que o Governo os beneficie fiscalmente em
necessário prejuízo dos restantes contribuintes.
(…)
Devemos
ter presente que mais de metade dos trabalhadores portugueses ganha menos de
mil euros e que apenas 3,3% dos trabalhadores ganha mais de três mil euros.
(…)
Uma
pessoa ouve falar de um conjunto de medidas aprovadas para que os jovens não
tenham de emigrar e não conta com este delírio.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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