sexta-feira, 31 de maio de 2024

CITAÇÕES

 
O planeta está à beira de entrar em roda livre, com a circulação do Atlântico Norte em risco e com mais um exemplo da guerra climática no estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

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As perdas de colheitas de arroz, batatas e soja, entre outras, levaram a uma subida de preços da comida, acompanhando a crise de custo de vida generalizada.

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Estes factos já nem sequer são negados, mas normalizados e desligados da sua origem: a queima de combustíveis fósseis cujo aumento continua a ser promovido em todo o mundo.

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[Aliás, a queima de combustíveis fósseis é promovida] pelos decisores políticos e económicos.

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Este é o ano em que vemos uma grande ascensão da extrema-direita, cujo programa já é transversal em quase todo o establishment político.

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Até este momento o programa de extrema-direita está a “ganhar” de forma total, embora saibamos que essa vitória significa o colapso da civilização.

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Portugal, como o continente europeu, precisa de cortar radicalmente emissões de gases com efeito de estufa.

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Governantes e empresas lançam novos projetos para aumentar as emissões.

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[Temos] mais de 16 mil kilómetros de estradas contra perto de 3 mil de ferrovia.

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O projeto do aeroporto de Lisboa, como outras fábricas de morte que operam por essa Europa fora, terá de ser travado. 

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Na Europa, o anúncio desesperado de tentar constituir uma espécie de linha vermelha à extrema-direita por parte do centrão europeu com o apoio da esquerda não passa disso: desespero.

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O Partido Popular Europeu já integrou amplamente as medidas essenciais dos dois grupos de extrema-direita ECR e ID.

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Socialistas Democratas no Parlamento Europeu apoiam a política migratória de extrema-direita. 

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O programa de capitalismo pintado de verde aprofunda a crise climática e ambiental e é apoiado por todo o centrão.

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Que espécie de alternativa espera [a esquerda] construir ao aceitar uma linha que desenha uma aliança que inclui o colapso climático?

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As sondagens europeias deixam poucas dúvidas sobre o resultado: bem-vindas a uma Europa cuja representação política será maioritariamente negacionista climática, maioritariamente racista, sexista, anti-LGBT, militarista e autoritária.

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Esta guerra [que o capitalismo declarou à sociedade] terá de ser travada por uma política popular nas ruas.

João Camargo, “Expresso” online

 

Temos assistido a esta inversão de palavras, de conceitos, de práticas de várias formas.

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Um dos exemplos mais emblemáticos é o da palavra woke, que surge inicialmente em movimentos antirracistas.

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[woke] foi subvertida numa palavra com uma conotação negativa pela extrema-direita, direita e uma parte da esquerda.

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O “wokismo”, tal como a fantasiosa “ideologia de género”, transformou-se assim numa ideologia caracterizada como perigosa.

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No contexto da guerra genocida de Israel contra o povo palestiniano, esta inversão é recorrente a vários níveis, um das mais perturbantes é a crítica indignada do slogan “From the River to the Sea” como sendo um cântico nas manifestações que defende o desaparecimento de Israel.

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Não são cânticos, é fome, sede, mutilações, queimaduras, pessoas enterradas vivas, assassinatos, bombas, destruição de casas, museus, bibliotecas, universidades, escolas, tendas, etc.

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Outra inversão surpreendente é a de chamar radicais ou extremistas a quem se manifesta contra um genocídio, contra um massacre abominável de crianças.

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Quem reage a estas imagens e grita para que este horror cesse não é uma pessoa radical ou extremista, é uma pessoa humana, que está no lado certo da História.

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Pensamos que a neutralidade, o silêncio é a atitude moderada face aos problemas do mundo, e, no entanto, o silêncio tem consequências dramáticas.

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Em matéria de genocídio, de massacre de crianças, não há silêncios inocentes.

Luísa Semedo, “Público” (sem link)

 

Uma preocupação atual é o putativo perigo das redes sociais para a propagação de desinformação.

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Como é sabido nessa área [redes sociais], os casos de desinformação com maior repercussão são propagados pelos meios de comunicação convencionais.

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É natural os políticos e governos fazerem o enquadramento dos assuntos de forma a canalizar a opinião da população para os seus interesses.

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Quando os meios de comunicação o fazem sem base factual, perdem legitimidade enquanto "quarto poder independente", reduzindo-se a agentes de propaganda do poder oficial. Infelizmente esse enquadramento é mais a norma do que a exceção.

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A situação no jornalismo português fica ainda pior dada a facilidade de propagar notícias do estrangeiro sem confirmação direta das fontes.

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Dados os recursos limitados do jornalismo convencional nacional, a tentação de passar noticias desses canais sem comprovar a fonte será forte.

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[Este jornalismo] é potencialmente mais nocivo na transmissão de desinformação do que as redes sociais, porque parte da autoridade ainda reconhecida aos media convencionais.

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Tratando-se do sistema académico americano que integro há mais de 30 anos, foi deveras frustrante ver a retransmissão de desinformação sobre o assunto [guerra em Gaza], em Portugal.

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Fui vendo os alunos das nossas universidades retratados como uma elite radical, preocupando-se caprichosamente com uma guerra distante.

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O problema é que o enquadramento falso dos alunos como elitistas radicais fica assim lançado na discussão do assunto em Portugal com a autoridade de um jornal importante [como o “Público].

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O enquadramento dos protestos baseou-se noutras narrativas falsas, algumas das quais projetadas da realidade portuguesa para a americana.

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Nas minhas aulas tenho frequentemente veteranos (feridos física e emocionalmente) dessas guerras [Vietname e Médio Oriente], na sua maioria começadas sobre premissas falsas fabricadas com ajuda dos media convencionais.

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Israel é o maior beneficiário de fundos dos EUA — só este ano foram aprovados 14 mil milhões acima dos habituais 4 mil milhões anuais.

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O que acontece em Gaza é da absoluta responsabilidade do contribuinte americano.

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É precisamente por causa do dinheiro investido em seu nome que os alunos [americanos] protestam (impostos, propinas e património universitário).

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Em democracia não é capricho exigir que o dinheiro de todos seja investido de acordo com os seus valores.

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Os protestos da universidade de Columbia (os primeiros) são organizados por uma coligação de 116 grupos com visões distintas.

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No final das contas, o enquadramento destes protestos usa desinformação para ofuscar o facto que os protestos de alunos americanos têm sempre estado do lado certo da história — é isso que assusta o poder e a sua geração.

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Alguém acha hoje que a guerra do Vietname foi uma boa ideia?

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Os protestos estudantis foram fundamentais para acabar com a segregação racial.

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Foram também os protestos de alunos nos anos 80 que levaram a universidade de Columbia a ser a primeira a desinvestir do regime de apartheid na África do Sul.

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Tal como nesses momentos de protesto, é provável que estejamos realmente numa encruzilhada da História em que são os alunos a mostrar o caminho da decência.
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Se os media convencionais não quiserem desaparecer (…) têm de funcionar como um quarto poder legítimo, e não como mecanismo de propagação da propaganda do poder vigente.

Luís M. Rocha, “Público” (sem link)


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