(…)
Este
genocídio [perpetrado por Israel contra os Palestinianos] é o mais filmado de
sempre, o primeiro em tempo real, os jovens são os seus primeiros espectadores,
e justamente por isso não querem ser apenas espectadores
(…)
Sentem
que não podem, têm de agir. Tal como muitos agem contra a destruição do
planeta, que será o deles quando os Scholz, os Bidens, as Von der Leyen já cá
não estiverem.
(…)
Esta é a geração para além do querer. Em estado
de emergência.
(…)
Também porque as gerações anteriores não
agiram. Por isso há tanta gente fisicamente estoica nela.
(…)
O
Velho Mundo de que falo não é só a Europa. É o mundo dos líderes que perderam
essa ligação directa com seres humanos a serem amputados, em todos os sentidos,
à nossa frente. Porque não os vêem como humanos.
(…)
Mas
foi isso que os poderes do Velho Mundo fizeram desde 7 de Outubro, agir como se
os palestinianos não merecessem da vida o mesmo que cada um deles — e que cada
israelita.
(…)
Para o
resto do mundo, nunca foi tão patético ver os EUA e boa parte da Europa
reclamarem-se guardiões dos Direitos Humanos.
(…)
O Velho Mundo foi pai de Israel. O
anti-semitismo matou durante séculos na Europa.
(…)
E depois do Holocausto a Europa ficou refém do
Estado judaico.
(…)
Mas a criatura é criadora. O Velho Mundo foi
pai de Israel e desde então é seu filho.
(…)
As primeiras gerações europeias pós-Holocausto
viram Israel sempre como vítima: a sua vítima.
(…)
E vimos desde 7 de Outubro como Israel pode ser
mais importante para a Alemanha do que a democracia.
(…)
Os
jovens de hoje são talvez a primeira geração a ver Israel como agressor em
tempo real. Porque é o que têm visto no seu tempo de vida, e porque as redes o
permitem como nunca.
(…)
Os fundadores de Israel não o fundaram como
vítima: a ambição era nunca mais ser vítima.
(…)
Com licença para ocupar um povo porque o Velho
Mundo lhes tinha morto os ascendentes. E tinha mesmo.
(…)
Desde
7 de Outubro nunca pareceu tão grande o fosso de gerações. O passado é pai e
filho de Israel. O futuro é filho de Gaza.
(…)
Depois
do ataque de Israel ao consulado iraniano, e da resposta iraniana, e da
resposta israelita, o horror de Gaza desapareceu das manchetes por dias, e os
EUA aprovaram biliões de ajuda e armas a Israel.
(…)
[Israel]
propôs-se ser invencível e cobra ao mundo em permanência o seu estatuto único.
De facto, não se fez nada como Israel no planeta.
(…)
Sabemos agora o que os filhos do Holocausto são
capazes de fazer.
(…)
Israel
precisa urgentemente de uma intifada. Pelo fim de um estado que só se importa,
de facto, com a sua porção de judeus. Pela criação de um estado em que todos tenham o mesmo direito à vida, do
rio ao mar.
Alexandra Lucas
Coelho, “Público” (sem link)
Todas as forças políticas condenaram os ataques
[contra imigrantes no Porto], mas, como escrevi na última crónica, o
Chega deu-lhe um contexto de justificação.
(…)
Era previsível que André Ventura fosse incapaz
de condenar os ataques a imigrantes sem os desculpabilizar.
(…)
[A ligação entre criminalidade e imigração] já
tinha sido amplamente estabelecida por
Pedro Passos Coelho na campanha eleitoral da AD.
(…)
Não se
consegue perceber a relação entre os ataques racistas e a extinção da AIMA [Agência
para a Integração, Migração e Asilo], mas há uma coisa que é clara: Rui Moreira
considera que a imigração está descontrolada.
(…)
Mas [Rui
Moreira] deixou a semente do mal: caracterizou a imigração como estando
descontrolada e apelou à extinção de uma agência que representa um passo em
frente na forma como o país trata a imigração.
(…)
[Também
Lucília Gago] achou que este era um bom momento para falar do tema
“imigrantes”, para prever que os jovens imigrantes poderão vir a cometer
crimes.
(…)
Carlos Moedas também falou e para apoiar o que
Rui Moreira tinha dito.
(…)
[Também aqui estamos perante a] incapacidade de
condenar os ataques sem os relacionar com a imigração. Isto é muito grave.
(…)
O que
se sabe dos ataques é que foram praticados por portugueses, que esses
portugueses estão ligados a grupos de extrema-direita.
(…)
Sabe-se também que tiveram motivação racial.
Nada disto tem que ver com imigração ou com políticas de imigração.
(…)
Estas pessoas estão a transformar uma discussão
sobre criminalidade violenta e racismo numa discussão sobre imigração.
(…)
No caso dos ataques racistas no Porto, os
imigrantes foram as vítimas.
(…)
Não existe relação entre imigração e
criminalidade.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
A
persistência do mito que associa imigração a um aumento da criminalidade é um
dos equívocos mais arraigados em torno deste tema.
(…)
É tempo de desmontar este mito e encarar os
factos de forma objectiva.
(…)
Muito
recentemente, foi lançado um livro de um dos principais estudiosos da migração
a nível mundial, o professor e sociólogo holandês Hein de Haas.
(…)
Contrariando
a crença popular, De Haas apresenta vários estudos que refutam a ideia de que a
imigração desencadeia um aumento da criminalidade.
(…)
Os estudos demonstram consistentemente que os
imigrantes, em geral, apresentam taxas de criminalidade inferiores às da
população autóctone.
(…)
A
ideia que se pretende realçar é que os imigrantes tendem a estar mais
interessados em integrar-se na sociedade de acolhimento, ao mesmo tempo que
procuram activamente obter a residência permanente ou a cidadania.
(…)
Os dados mostram precisamente o contrário: à
medida que a imigração aumenta, as taxas de criminalidade tendem a diminuir.
(…)
Essencialmente, as nossas sociedades
tornaram-se mais seguras ao mesmo tempo que as populações de imigrantes
cresceram.
(…)
O paradoxo é que, com frequência, a imigração
torna os locais mais seguros.
(…)
Em última análise, a narrativa que associa
imigração a um aumento da criminalidade afigura-se, não só desinformada, mas
também prejudicial.
Francisco Amado, “Público”
(sem link)
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