sexta-feira, 10 de maio de 2024

CITAÇÕES

 
O debate sobre o crescimento da extrema-direita e sobre ataques racistas é sobre isto: milícias criminosas e racismo. 

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O que aconteceu no Porto no final da semana passada foi um crime.

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Insegurança é isto: viver numa cidade em que um gang encapuçado invade a propriedade privada, destrói uma casa e espanca moradores que estão a dormir.

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[A condenação deste crime] não deve, por isso, vir acompanhada de nenhum “mas”.

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Já agora, por que razão, em tantas notícias, não se fala das vítimas como moradores, que é o que também são, como se apenas outros fossem “moradores” e aqueles não?

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[Os responsáveis políticos] são aqueles que no espaço público associam imigração e criminalidade, o que é objetivamente falso.

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É quem incentiva o preconceito contra os imigrantes e o leva para a esfera institucional, como André Ventura, cuja reação à atuação da milícia foi desculpar o crime.

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A motivação do crime foi o racismo e a ideia de que se pode espancar imigrantes e obter aplausos.

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[Rui Moreira] criticou o ataque e opôs-se a qualquer ato racista e xenófobo, o que é evidentemente de louvar.

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Depois não resistiu a desviar a discussão para o debate em torno da suposta “imigração descontrolada” e, mais grave, sugeriu a extinção da Agência para a Integração, Migrações e Asilo. 

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Regressar ao SEF que tínhamos seria um desastre absoluto.

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Rui Moreira tem também responsabilidades na legitimação da extrema-direita, por ter permitido uma manifestação neonazi no Porto, no passado mês de abril.

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[A Câmara] não tem ajudado a resolver o problema da habitação que afeta trabalhadores portugueses e estrangeiros.

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É preciso contrariar até à exaustão uma mentira e uma ideia falsa: não há nenhuma relação entre criminalidade e imigração.

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Entre 2017 e 2022, dizem os Relatórios Anuais de Segurança Interna, a criminalidade geral e a criminalidade violenta baixaram. 

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Não é a imigração que os causa: há muito mais portugueses a cometer crimes do que estrangeiros.

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Há uma franja no nosso país que hoje se sente legitimada para exercer a sua violência verbal e física, porque encontra respaldo em discursos públicos e institucionais.

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Há palavras e associações que são gatilhos para a violência.

José Soeiro, “Expresso” online

 

Foi no dia 23 de abril de 2024 votado no Parlamento Europeu a proposta do (novo) Regulamento que permite à União Europeia (UE) proibir a venda, a importação e a exportação de bens fabricados com recurso ao trabalho forçado.

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Apesar de em pleno século XXI, há cerca de 27,6 milhões de pessoas em trabalho forçado, o equivalente a quase três vezes a população de Portugal.

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Esta realidade verifica-se, sobretudo, em grupos de pessoas vulneráveis, nomeadamente, mulheres, crianças, migrantes, entre outros.

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Os números mostram que nenhuma parte do mundo está livre desta realidade.

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A UE está agora mais perto de poder ter um papel fundamental — pelo menos mais ativo — na eliminação do trabalho forçado a nível global.

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No caso de violação das normas previstas no Regulamento, ficam as empresas infratoras sujeitas ao pagamento de coimas que se esperam ser pesadas e dissuasoras.

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[Todas as empresas] irão ter de assegurar que nenhum dos produtos que vendem ou colocam à venda teve, durante todo o seu processo de produção, a utilização de trabalho forçado.

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Não tenho dúvidas que os consumidores vão estar cada vez mais atentos e as empresas vão ter, necessariamente, de fazer a sua parte.

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Vai, seguramente, haver um antes e um depois deste Regulamento!

Tiago Magalhães, “Expresso” online

 

O aproveitamento demagógico dos problemas da imigração tem sido uma carta aberta à inscrição de algumas das piores e mais trágicas expressões da natureza humana na última década. 

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São já demasiados os casos em que responsáveis políticos, deputados inclusive, escolhem o caminho grotesco do racismo e xenofobia perante algo que possa ter o dedo de um imigrante.

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O racismo político escolhe os seus alvos pela cor da pele e coloca a tónica não no ataque racista mas no problema que, aparentemente, quer resolver pela violência da mentira.

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O crime de ódio perpetrado contra cidadãos magrebinos no Porto (…) continuaria a ser um exemplo implacável do sentimento irracional que cresce na sociedade portuguesa por ver como imigrantes fazem o trabalho que ninguém quer fazer.

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Há tanta gente a fechar os olhos à História de um país que pode agradecer o favor de existir aos migrantes com i ou com e. 

Miguel Guedes, JN

 

Uma boa parte da sociedade portuguesa gosta da ideia de que a colonização portuguesa foi mais suave, mais ligeira, menos horrível do que as outras colonizações.

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A esmagadora maioria da narrativa histórica sobre o passado colonial português, é construída a partir do olhar colonizador de Portugal.

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Esta narrativa é parcial e pretende, propositadamente, embelezar um fenómeno que, por definição, tanto na sua génese como na sua evolução, é trágico.

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Nós, os colonizados, ainda não conseguimos traduzir a nossa versão, não conseguimos construir a nossa narrativa histórica sobre o passado colonial.

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Não tenho a pretensão de afirmar que narrativa dos colonizados é a mais verdadeira e imparcial do que a do colonizador.

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O que defendo é a urgência de um confronto entre as duas visões, que nos permita alcançar, uma terceira via, alternativa e coletiva.

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Esta ausência de confronto de pensamentos sobre o passado tem tido reflexos no debate sobre a questão do racismo, nomeadamente no racismo estrutural, que está a agravar-se em Portugal.

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Pessoalmente, entendo que a História foi o que foi.

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A História reflete “um olhar” e não “o olhar” sobre os factos.

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Parece-me mais produtivo e inteligente a criação da narrativa própria dos colonizados e de espaços para sua visibilidade. Importante é a tal terceira via.

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A intervenção do Presidente tem a importância de fazer com que se discuta a história colonial, as suas consequências e como poderemos utilizá-la para elevar as relações de Portugal com as antigas colónias.

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Nunca a narrativa histórica será neutral.

Paulo Mendes, “Público” (sem link)


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