(…)
Na
terça-feira à noite, véspera de feriado, jovens a 12.200 quilómetros de Gaza,
com vidas mais ou menos confortáveis, estavam ali [na Universidade da Califórnia
- UCLA] numa barricada, a serem atacados por uma milícia pró-Israel.
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Foi um raide bélico contra um acampamento pacífico.
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Na terça, os atacantes foram mascarados, mas não há dúvida de
que eram pró-Israel.
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Havia sinais de perigo desde domingo e nada foi feito para
evitar a escalada.
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Com a
força de ser quem é, Myers [“Distinguished
Professor” de história e cultura judaica, no Forward, jornal com mais de cem anos]
desafia ainda os líderes da comunidade judaica a denunciarem atacantes que agem
em nome de uma suposta protecção dos estudantes judeus.
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Há incontáveis judeus em protesto nos campus, e eles mesmos foram alvos do ataque de 30 de Abril.
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No dia
seguinte, a UCLA ainda viveu a brutalidade do desmantelamento policial dos
acampados. Com balas de borracha: sim. Com 200 estudantes detidos.
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Toda a
América do Norte, já, porque nos últimos dias sucederam-se acampamentos no
Canadá, e também na Universidade Autónoma do México.
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Gaza é o novo Vietname nos campus da América, desta vez em directo.
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Esta
geração vê o horror nos seus telefones há sete meses, e viu agora o que a
polícia fez a estudantes. E professores.
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Não só
milhares de estudantes foram feridos, detidos, como suspensos, impedidos de
assistir às aulas, ameaçados de expulsão, ou banidos, mesmo. E, ainda assim,
estão determinados a não parar.
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Chamar
a polícia para reprimir estudantes no campus
é uma linha vermelha. Ser presidente numa universidade e marioneta de um tribunal
público é incompatível.
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Enquanto
isso, duas universidades tão prestigiadas como a Rutgers e a Brown mostraram
como era possível dialogar com os estudantes, e os
acampamentos serem desmontados pacificamente.
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Contraste
total entre as imagens ali e a militarização em Colúmbia ou na UCLA. Ou seja,
havia boas alternativas a chamar a polícia.
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Entretanto em Yale, um provocador de megafone, com um
discurso de ódio contra os palestinianos, insultava os manifestantes.
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Eu vi centenas de imagens e relatos de várias universidades.
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No
retrato geral que me chegava de Israel era como se os campus da América estivessem
a gritar ao megafone que os sionistas não mereciam viver.
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Estava resolvido: o que se passava nos campus da América era anti-semitismo. Mas esta intifada
também é contra isso: a exploração do anti-semitismo.
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O que está a acontecer nos campus da América não é pequeno, e não é anti-semitismo.
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O futuro dos judeus não está no governo de Israel. Está na
mão deles.
Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)
Que sinais surgem sobre as prioridades da governação? Vêm aí
respostas aos problemas fundamentais com que nos deparamos, ou temos de agir
rápido contra reversões negativas?
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Entretanto, já arrancou, acelerada, a substituição de altos
dirigentes da Administração Pública em instituições de grande sensibilidade, na
ânsia de deitar a mão ao poder.
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O ferrete secular que paira sobre todos os que nascem na
margem, ou que para ela são empurrados, é algo ignóbil numa sociedade
democrática.
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A escolha de Sebastião Bugalho para cabeça de lista da AD às
eleições para o Parlamento Europeu não é anacrónica, mas é uma reversão:
políticos são dispensados em favor de figuras mediáticas de ocasião.
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O grande choque fiscal que a Direita prometeu em campanha
eleitoral é, afinal, um enorme embuste.
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Jamais virá das políticas fiscais da Direita, em particular
de mexidas no IRS, contributo sério para melhorar o rendimento dos
trabalhadores.
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O valor médio dos salários reais dos portugueses devia estar
20% acima daquele que temos, mesmo considerando apenas a riqueza que hoje é
produzida.
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Enquanto não houver negociação coletiva a sério, aumentará a
pobreza laboral e os salários não crescerão tanto quanto necessário e possível.
Chegámos a meio século do 25 de Abril com grandes motivos de
orgulho na área ambiental, mas também enormes motivos de preocupação.
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[Por exemplo] em 50 anos o país passou de menos de metade dos
alojamentos com água canalizada para 99% com acesso a água e de boa qualidade;
de 40% de casas sem retrete para 100% equipadas com retrete privada.
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Os impactos das alterações climáticas e a vasta cadeia de
problemas sociais e políticos que imediatamente eles envolvem, encontra hoje um
ânimo, oxalá temporário, de retrocesso que nos pode ser fatal.
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A grande fragilidade em que nos encontramos decorre não do
muito que se fez desde o 25 de Abril, mas do que não se fez e que os novos
riscos tornam cada vez mais aguda.
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Todos sabemos bem do que se trata: a incapacidade das
administrações para implementarem as medidas de ordenamento do território e de
planeamento.
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A sua expressão mais notória estará nas pressões do
imobiliário sobre a linha de costa e zonas húmidas, ou na transformação das
cidades de lugares de cidadãos residentes em parques recreativos para visitantes.
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As políticas para a biodiversidade, conservação da natureza e
áreas protegidas parecem não conseguir avançar para lá da proclamação das suas
próprias intenções.
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O impacto das alterações climáticas será impiedoso num país
com vastas construções em leitos de cheia e zonas costeiras, em declives
instáveis e em subúrbios asfixiantes.
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É agora que é preciso agarrar a declinante biodiversidade
sobretudo nas áreas classificadas e nas suas redes tanto em terra como no mar;
é agora (…)
Em que Portugal e com que portugueses será celebrado um
século de democracia ambiental?
Luísa Schmidt “Expresso” (sem link)
A «memória construída», reconhecida hoje pelas ciências
cognitivas, é um processo de leitura do passado que tende a refazê-lo ou a
mascará-lo, sendo, porém, útil como forma de compreender o momento em que se
revela.
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O primeiro [olhar sobre o 25 de abril] é o celebratório,
consistindo sobretudo na organização de iniciativas oficiais que procuram
lembrar, muitas vezes apenas de uma forma cerimonial, aquele tempo de profunda
viragem da nossa história contemporânea.
(…)
O segundo registo é o nostálgico, levado a cabo por quem,
daquele período, tem sobretudo uma leitura heroica e emotiva, marcada pela
forte recordação de um tempo de juventude e de esperança.
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Já o terceiro registo, o mais dinâmico e útil, é o crítico.
Parte da observação histórica, para situar os acontecimentos no seu tempo,
compreendendo-lhes o impacto, projetando-lhes a influência e abrindo caminho à
compreensão das lições e dos estímulos que eles podem oferecer aos diferentes
desafios que agora nos cabem.
Rui Bebiano, “diário as beiras”
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