(…)
A Escola Pública é um espaço fundamental para a
formação cultural, social, ética e intelectual dos indivíduos, e é a
instituição mais democrática no processo de socialização: combate as
desigualdades, promove a diversidade cultural, os valores, normas e expectativas
sociais da generalidade dos cidadãos.
(…)
Até agora, os projetos de segregação que
existem no setor são alimentados por grupos ultrafavorecidos.
(…)
Fazem-no para reproduzir a classe privilegiada
a que pertencem.
(…)
Muitas maldades têm sido feitas aos professores
e a outros profissionais do ensino.
(…)
Entretanto, o aumento exponencial da imigração
trouxe exigentes desafios à Escola.
(…)
[Entre 2007 e 2024] as verbas para as escolas
aumentaram 16,9%”, enquanto a inflação foi de 32,65%”.
(…)
Representavam 3,41% do PIB em 2007 e apenas
2,45% em 2024. Nesse período o número de alunos teve um decréscimo de 9%, mas o
de docentes diminuiu 14%.
(…)
Foi a Escola Pública, tão vilipendiada, que
formou “a geração de jovens mais qualificada de sempre”.
(…)
Uma parte emigra e outra vê as suas
competências esfumarem-se.
A
crise institucional da democracia que se vive também no nosso país e se
traduziu no desfecho eleitoral tem como origem o desprestígio e a
impopularidade do monopólio rotativo da governação PS-PSD.
(…)
Adotando
em áreas fundamentais políticas essencialmente idênticas, ela permitiu a
degradação dos principais serviços públicos, agravou as desigualdades sociais e
as condições de vida.
(…)
Como sucedeu noutros países, também em Portugal
a extrema-direita potenciou e cavalgou (…) esse mal-estar de setores
relevantes das classes médias e assalariadas.
(…)
Mentiu todos os dias, manipulou, sempre
estimulada por uma generosa e cúmplice cobertura mediática dominante.
(…)
A vitória eleitoral do PSD é, por isso mesmo,
mais aparente e efémera do que real e estabilizadora do regime.
(…)
O esgotado situacionismo rotativo do
centro-direita foi precisamente o que fez crescer a extrema-direita.
(…)
O PSD pode jogar no equilíbrio instável.
(…)
A direita tradicional pode desfazer-se
paulatinamente do “não é não” e mandar às urtigas a aparência de “cordão
sanitário”
(…)
Nesse
caso, temos uma aliança parlamentar da velha direita com a nova
extrema-direita, a caminho de um novo tipo de regime autoritário: uma espécie
de neofascismo.
(…)
Na
realidade, à luz da democracia conquistada em Abril, as soluções aparentemente
previsíveis para a direita desembocam num caminho de regressão cívica e
civilizacional a curto ou a médio prazo.
(…)
Devemos talvez, nesta situação grave, procurar
com lucidez e coragem reinventar o antifascismo.
(…)
Devemos
promover uma solução à esquerda, plural, que una tudo o que pode ser junto em
torno de um duplo objetivo geral: defender a democracia e a liberdade, por um
lado, salvaguardar e aprofundar a justiça social e distributiva por outro.
(…)
Um
antifascismo que se coloque contra a guerra e a demência armamentista que a
promove e se pronuncie sem tibiezas aviltantes contra o massacre genocida em
Gaza e pelos direitos do povo palestiniano.
(…)
Não é, certamente, um caminho fácil neste
rescaldo de um duro revés eleitoral.
(…)
Apesar de tudo, Abril vale bem um entendimento.
E de cabeça erguida.
Fernando Rosas, “Público”
(sem link)
A
direita global está a coordenar-se numa escala sem precedentes. Isto deve
preocupar qualquer pessoa que se preocupe com os valores e a liberdade que conhecemos
e de que desfrutamos.
Zsuzsanna Vegh, “Público” (sem link)
O desastre eleitoral da esquerda tem como
epicentro o PS, mas vai muito mais longe do que o PS.
(…)
Nem
Pedro Nuno Santos é um “radical”, a palavra mais abastardada destas eleições,
nem o PS derrubou o Governo, que se suicidou em público.
(…)
O
domínio da comunicação social pela direita fez com que este tipo de
“explicações” se tornasse dominante, sem muitas vezes a percepção de que
estavam a reproduzir como análise aquilo que era o argumentário da AD.
(…)
Uma
das razões do actual sucesso da direita na comunicação social vem de ter um
comentário muito mais agressivo e grupal à direita, face ao “outro” lado, muito
mais mole.
(…)
Com o
eficaz lobby do
Observador de um lado e do outro António José Seguro, o que é que se esperava?
(…)
Na
verdade, há factores comuns na crise da democracia na Europa e nos EUA e a
crise nacional, mas, no caso português, há também factores endógenos a
explicá-la.
(…)
Do
mesmo modo que a ascensão do Chega tem a ver com o crescimento da
extrema-direita noutras democracias, esta ascensão tem também de ser interpretada
junto com a crise da esquerda, como um processo que tem factores comuns.
(…)
O
“admirável mundo novo” em que estamos a viver e cada vez mais a entrar é hostil
às democracias não por fora, mas por dentro.
(…)
Ou
seja, é tudo mais grave do que se pensa, vai mais fundo do que se imagina, e
processos como o Chega (…) e a crise da esquerda são epifenómenos.
(…)
Há
gente que ajuda ao que está acontecer, há gente que sabe o que está a
acontecer, há gente que ganha com o que está a acontecer, por isso pode e deve
ser combatida em nome da democracia.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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