(…)
A extrema-direita pode chegar ao poder ou ficar
em primeiro com a mesma velocidade extraordinária.
(…)
[Faltam-nos] instrumentos que, noutros países,
retardaram a sua progressão ou atenuaram o seu impacto.
(…)
Faltam-nos resistências institucionais.
(…)
Portugal tem das mais baixas taxas de leitura
de jornais da Europa e dos menores apoios públicos à imprensa.
(…)
Parte das instituições do Estado, (…), já foram
tomadas pelo populismo dominante, com destaque para a justiça.
(…)
E temos uma sociedade civil estruturalmente
anémica.
(…)
A começar pelo sindicalismo, que o poder
político fez tudo para fragilizar.
(…)
Portugal tem das taxas de sindicalização mais
baixas da Europa.
(…)
Faltam-nos resistências culturais.
(…)
Segundo o “European Social Survey”, 62% dos
portugueses tinham no início da década crenças racistas.
(…)
Já temos mais autoconsciência do racismo — 61%
aceitam que há discriminação em relação à cor da pele.
(…)
Enquanto os alemães falam do seu passado, nós
só o celebramos: demos novos mundos ao mundo e o resto não se pode recordar
porque isso é “reescrever” a história.
(…)
Montenegro passou um ano a distribuir o
excedente e subiu três pontos quando o seu maior competidor afundou.
(…)
[Na AD] não percebem que serão os seguintes.
(…)
A extrema-direita chegou mais tarde, cresceu
mais depressa e tem todas as condições para manter a trajetória acelerada.
(…)
O terreno está todo aberto.
(…)
Quem julga que teremos quatro anos de paz ainda
não percebeu o que está a acontecer.
Em
grande parte das escolas francesas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos
encontra-se afixada nas paredes de cada sala de aula, como princípio orientador
da educação para a cidadania.
(…)
A
Declaração Universal dos Direitos Humanos não apela a uma falsa neutralidade,
não substitui a empatia pela indiferença nem exige silêncio diante da
injustiça.
(…)
[A
Declaração Universal dos Direitos Humanos] reconhece o direito à liberdade de
expressão, à liberdade de consciência, à resistência contra a opressão, à
igualdade entres todos os seres humanos.
(…)
E são precisamente esses direitos que têm sido
sistematicamente desautorizados quando se trata da Palestina.
(…)
Nenhum [povo como o palestiniano] é objeto
deste nível de censura voluntária, organizada, generalizada.
(…)
Cala-se quem denuncia o genocídio, vigia-se
quem ensina, e restringe-se o direito à indignação às causas oficialmente
autorizadas.
(…)
A fraternidade, divisa da República Francesa,
foi então [aquando da invasão da Ucrânia pela Rússia], volto a dizer e bem,
respeitada.
(…)
Porque é que as pessoas pró-palestinianos não
têm direito à liberdade de sentir e exprimir a sua solidariedade?
(…)
Relembro as palavras justas de Desmond Tutu:
“Se és neutro em situações de injustiça escolheste o lado do opressor.”
(…)
Mais de 53 mil mortos em Gaza entre os quais
milhares de crianças órfãs, mutiladas, enterradas ou queimadas vivas.
(…)
Perante isto, o silêncio institucional não é
neutro, é cúmplice.
(…)
Falar de consentimento ao genocídio não é uma
provocação, é nomear um pacto tácito de permissividade.
(…)
O que
está a ser apagado por Israel e os seus parceiros de crime, para além de um
povo são também os nossos valores mais fundamentais, a nossa humanidade.
(…)
Precisamos de honrar quem nos antecedeu
na luta pelos direitos humanos.
Luísa Semedo, “Público”
(sem link)
O sistema não se questiona a si mesmo, apenas
encontra a melhor forma de romantizar a extrema-direita, à boleia do segundo
lugar do pódio que lhe entregaram para subir.
(…)
O que importa, agora e para muitos (…)
[é normalizar] aquilo que até há bem pouco tempo era considerado como
impensável, inultrapassável ou proscrito.
(…)
Neste momento, vive-se na senda da cooptação da
outrora besta. Só porque, ainda mais perigosa, aumentou de tamanho.
(…)
A manipulação da opinião pública em plena
campanha eleitoral aconteceu, perante os olhos de todos, sem denúncia ou
incomodidade.
(…)
André Ventura [foi entrevistado] duas vezes
mais do que Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos juntos.
(…)
São falsos 58% dos perfis e contas que existem
e interagem em nome e defesa do Chega na rede X contra, sobretudo, PS e PSD.
(…)
O grau de investimento na mentira, no ódio e na
desinformação pode mesmo vir a ganhar eleições.
(…)
Em caso de segunda volta [nas eleições
presidenciais], a Esquerda será convocada para engolir mais um sapo, desta vez
sem a mínima certeza sobre o seu eleitorado.
As últimas eleições deixaram
claro onde a extrema-direita cresceu mais: nos concelhos do interior, nos
territórios onde o Estado deixou de ser presença e passou a ser ausência.
(…)
[O problema do interior] não é só económico.
Nem apenas demográfico. É, acima de tudo, político. Profundamente político.
(…)
E há décadas que exige uma resposta à altura: a regionalização.
(…)
Mas é,
na verdade, uma das poucas reformas com coragem bastante para travar o ciclo de
abandono e ressentimento que alimenta o populismo.
Rodrigo Rosa, “Público” (sem link)
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