sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Comemoração do dia da cidade de Portimão: Discurso de Luísa Penisga - B.E.



Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal

Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal

Exmos. Srs. Vereadores e membros da Assembleia Municipal

Exmas. Autoridades aqui presentes

Exmos. Familiares de Manuel Teixeira Gomes e outros convidados

Minhas Senhoras e Meus Senhores

Agradeço a vossa presença neste salão nobre da Câmara, no dia do aniversário da “Vila Nova de Portimão”, quando, há oitenta e cinco anos, o nosso ilustre concidadão Manuel Teixeira Gomes concedeu-lhe o estatuto de cidade.

O que faz uma cidade não são as coisas – são as pessoas, e, se recordarmos a História, quando os Cartagineses fundaram “Portus Hanibalis, provavelmente, já Aníbal, ao subir o rio, visionara neste recanto pitoresco o seu lugar de eleição para o comércio marítimo; num passado recente, também Manuel Teixeira Gomes assinalava este espaço privilegiado na sua obra, como eximiamente descrevera o enquadramento do rio Arade com a serra de Monchique: ”No plano ardente as altas serras do Algarve, que fecham a baía do rio, ampliam-se e endurecem tornadas em maciço … a corrente do rio apertada na vazante entre a coroa de areia que o vai assoreando …” Regressos, 1935.

É preciso trabalhar no nosso jardim. Portimão soube renascer das ruínas de 1755, pessoas determinadas, esquecendo as contrariedades, levantaram a cidade com toda a sua força e perseverança. É este exemplo de simbiose entre o trabalho e a coragem dos portimonenses que se definiu o futuro da nossa cidade.

As pessoas caminham abrindo novos horizontes. A História que nos interessa não é a que nos fecha mas sim aquela que abre para o futuro. É por isso que o primeiro compromisso do Bloco de Esquerda para com a cidade é contribuir, como força política, para uma dinâmica de mudança, capaz de traçar caminhos de verdade, dando prioridade às pessoas e ao bem comum da nossa cidade. A título de exemplo, Manuel Teixeira Gomes salienta o seu amor à terra natal da seguinte forma:”…foi assim o amor que me inspirou o mar da minha terra…ali, durante anos, livre e forte, como um semi-deus, vivi na pureza das águas desse mar… Regressos, 1935

É este reconhecimento de amor à terra natal que norteia o nosso programa, o Bloco de Esquerda, segundo a sua perspectiva humanística, segue a máxima de Fernando Pessoa:”Um Parisiense não admira Paris, gosta de Paris”.

Se outrora dava-se primazia aos transportes fluviais, hoje em dia a rede rodoviária de Portimão é o porto de partida e de chegada dos cidadãos, nacionais e estrangeiros. A projecção da nossa imagem no exterior começa por ser planificada no seu interior: um bom planeamento rodoviário tem de redimensionar o seu tráfego para o futuro, as intervenções recentes são insuficientes e o trânsito torna-se caótico nas horas de maior afluência, deixando as pessoas “à beira de um ataque de nervos”. Urge, portanto, um plano de melhoramento rodoviário capaz de criar novas acessibilidades, gerir o espaço urbano de forma que o trânsito circule livremente e sem resistência, porque esta cidade não é outra senão a que fazemos.

Manuel Teixeira Gomes enaltece, a cada passo da sua obra, o espaço verde da sua cidade:” Foi nessa altura que eu comecei a olhar a paisagem como quem contempla quadros num museu. Agora, ao amadurecer das searas… as figueiras brilham, em roda de manjericões, com um verniz mais fresco, levava grande parte dos dias passeando pelos arredores da Vila Nova onde há pontos de vista realmente encantadores”. Maria Adelaide, 1938.

Os espaços verdes urbanos associam-se à qualidade de vida e advém da responsabilidade política. Tornou-se, por excelência, uma área estratégica que é preciso recuperar para a saúde e bem-estar dos portimonenses. O conforto humano está cada vez mais ligado ao ambiente e, por isso, a necessidade da autarquia reabilitar a cidade de Portimão com jardins e parques opulentos para que o equilíbrio ecológico volte ao nosso meio urbano.

Manuel Teixeira Gomes imortalizou a nossa cidade quando escreveu: “Portimão, onde eu nasci… não se vê do mar: fica recolhida na bacia do rio Arade, encostada quase às faldas da serra, … e tendo fronteira uma pitoresca aldeia, em forma de pirâmide, que se chama Ferragudo”. Regressos, 1935.

O centro urbano de uma cidade espelha a sua fundação e referencia-se como um ex libris de qualquer urbe. Portimão devia orgulhar-se do valor dos seus edifícios antigos e do seu passado histórico, restituindo o seu centro urbano, tão autêntico e singular, à vida da cidade. Esta herança insubstituível deve saber preservar a sua História para as gerações vindouras e não deixá-la exposta ao abandono, à insegurança e à criminalidade, em suma, façamos da ambição de cada um, um projecto para todos. Quanto vale, afinal, reabilitar o nosso centro urbano, em comparação com um Oceanário, Aeródromo ou Estúdio de Cinema?


É na cidade que o homem reconhece-se a si próprio e reconhece os outros como homens. Curiosamente, é no nosso espaço urbano que mais visivelmente se manifestam as fronteiras que se erguem a cada cidadão para interagir com a Câmara Municipal. Urge, portanto, numa primeira etapa, atenuar a burocracia dos seus serviços e aproximar as pessoas da autarquia, correspondendo aos seus interesses e objectivos. Uma cidade responsável deverá, numa altura de crise, repensar as obras grandiosas e, numa segunda etapa, salvar o seu risco de investimento público e não deixar os lucros por mãos alheias de privados que gozam de compensações excessivas, ou em prol de uma clientela partidária que pretende o enriquecimento fácil. O próprio Teixeira Gomes, no Carnaval Literário, 1939, dizia:” Há pessoas mal fadadas para as sendas da honestidade. Quantas conhecemos nós a quem por isso mesmo negamos crédito… aí se aproximam elas com toda a aparência de humildade… mas já com aquele sorriso de quem traz a sua fisgada.”

O que faz uma cidade não são as coisas – são as pessoas”.

A título de conclusão, O Bloco de Esquerda quer convocar os cidadãos de Portimão para um mundo economicamente mais justo, politicamente mais democrático, e ecologicamente mais sustentável.

A cidade de Portimão precisa de uma instituição camarária forte, credível e transparente, que ajude a pensar a cidade e a rasgar caminhos que hoje parecem intransponíveis.

Termino, pois, fazendo uso da máxima de Winston Churchill “ Os problemas da vitória são mais agradáveis do que aqueles da derrota, mas não são menos difíceis”, por isso, apelo a uma autarquia realista, séria, rigorosa e aceitemos de vez que os projectos megalómanos, ainda que possam parecer originais, nem sempre são a melhor opção.

Portimão, 11 de Dezembro de 2009

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