O MONSTRO CAPITALISTA
Parte do artigo de opinião de Daniel Oliveira inserido na edição de 5 de Dezembro no “Expresso”.
DISSOLVE-SE NO AR
No deserto cresceu uma ilusão. Mas como nada a sustentava, o Dubai declarou falência. E o mesmo acontecerá a todos os que escolheram o caminho que desde os anos 90 parecia indiscutível: o do Capitalismo especulativo. Escreveu Karl Marx que tudo o que é sólido se dissolve no ar. Convenceram-nos, nas últimas décadas, que o que tínhamos era sólido como um dogma. Como se vê, pode bem dissolver-se nas areias de um deserto.
Foi sobre estes assuntos comezinhos que Michael Moore decidiu fazer um documentário que já está nas salas de cinema. Atreve-se a dizer umas evidências. A propósito da crise tem-se falado da ganância, como se de uma perversão do capitalismo se tratasse. Pelo contrário, a ganância é o seu motor. E sem amarras a liberdade económica toma conta de todas as outras. Por isso não espanta que Stephen Moore (sem relação com o realizador) economista e membro do Conselho Editorial do “The Wall Street Journal”, explique no documentário que o capitalismo é mais importante do que a democracia. Tem razão numa coisa: é falsa a ideia de que há um parentesco próximo entre os dois conceitos.
Podemos aprender qualquer coisa com os últimos vinte anos: que o capitalismo devora as suas próprias crias. Temos duas possibilidades: ou esperar que ele se dissolva no ar ou pôr-lhe um açaime e uma trela curta. Como? Decidindo que, ao contrário do que pensa o economista do “The Wall Street Journal”, a democracia é mais importante do que o capitalismo. Ou nós controlamos, através do poder que elegemos, o monstro, ou ele nos controla a nós.
Recolha efectuada por Luís Moleiro
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