Subida ameaça poder de compra
O preço dos combustíveis tem vindo a aumentar nos últimos seis meses: o gasóleo já subiu 8,7% e a gasolina 6,1%. Só na última semana, o preço nas bombas subiu duas vezes. Mas a manter-se este ritmo não serão só os automobilistas a pagar uma factura mais elevada.
A pressão terá repercussões no poder de compra dos portugueses, dado que sobem os preços na alimentação e semelhantes, de modo a reflectir os custos de transporte. Os passes também estão sob ameaça de aumentos.
Os aumentos registados nos últimos meses no preço dos combustíveis já são bem visíveis na hora de pagar o abastecimento. Hoje, quem encher um depósito de 50 litros, seja de gasolina seja de gasóleo, já paga mais 7,5 euros do que em Outubro passado.
O ritmo de aumento tem sido constante, mas desde a segunda semana de Fevereiro que tem vindo a intensificar-se. Na última semana, três petrolíferas aumentaram mesmo o preço duas vezes. Já a Galp optou apenas por um aumento, mas superior às congéneres (ver quadro).
Estes aumentos, que começam a ser "significativos", estão a ser "acompanhados com preocupação" pela Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros (ANTROP). "Estas variações representam um aumento de custos imediatos " nas contas das transportadoras, recorda ao Correio da Manhã Cabaço Martins, dirigente da ANTROP.
A manter-se este ritmo, os transportes públicos terão de reflectir as subidas dos combustíveis, admite o responsável, mas sublinhando que "ainda é cedo, só em Maio" deverão ter uma ideia mais precisa. O sector dos transportadores rodoviários de passageiros tem um acordo com o Governo que passa por, a cada seis meses, avaliar o aumento dos combustíveis. Trata-se de uma fórmula que tem em conta três factores: os custos com o pessoal, a inflação e o preço dos combustíveis. Os transportes públicos já não são aumentados há dois anos e meio.
A variação de preços em Portugal reflecte as subidas dos produtos refinados a nível internacional que, desde a segunda semana de Fevereiro, registou um aumento de 19,6% da gasolina e de 15,5% no gasóleo. Recorde-se, no entanto, que as subidas dos combustíveis são sempre mais depressa reflectidas do que as descidas.
PORMENORES
Reaproveitamento
A Valnor, a empresa responsável pela reciclagem de lixo no norte alentejano, afirmou estar disponível para investir cerca de dois milhões de euros na criação de uma unidade de Combustíveis Derivados de Resíduos.
Açores mais caro
Na última quarta-feira, o preço dos combustíveis aumentou nos Açores. A gasolina subiu dois cêntimos por litro e o gasóleo um cêntimo, segundo o anúncio do Governo Regional. A subida atingiu também o gasóleo agrícola e das pescas, que aumentou um cêntimo.
SAIBA MAIS
Evolução
O mercado dos combustíveis rodoviários teve uma ligeira recuperação em 2009, segundo a Apetro. Houve um aumento de cerca de 1,9% no gasóleo rodoviário face a 2008. A gasolina caiu cerca de 1,7%.
81,19
O brent, crude do Mar do Norte e referência para as compras portuguesas, cedia ontem 0,36%, para cotar 81,19 dólares por barril.
125
A Galp alcançou lucros de 125 milhões de euros nos últimos três meses de 2008, uma subida de 198,8% face a igual período do ano anterior.
Queixas em Bruxelas
Os preços dos combustíveis praticados em Portugal deram origem à apresentação de queixas em Bruxelas, revelou o presidente da Autoridade da Concorrência, Manuel Sebastião.
4.º
O preço da gasolina em Portugal é dos mais elevados da Europa e mantém-se no quarto lugar do ranking. Holanda, Dinamarca e Finlândia lideram lista.
Aumentos
Os representantes dos trabalhadores da Galp Energia concentram-se esta semana para reivindicar um aumento salarial geral de 2,8%.
RAIANOS VÃO A ESPANHA
Liliana Martins mora no sítio da Altura, nos arredores de Vila Real de Santo António e, quinta-feira, foi dos raros clientes do posto de combustíveis da GALP da avenida dos Bombeiros Portugueses da cidade pombalina.
"O carro entrou na reserva e tive de vir meter dez euros", justificou a jovem recepcionista, que não tem dúvidas quando quer encher o depósito. "Atravesso a fronteira e atesto em Espanha. Poupo entre 10 e 15 euros entre cada depósito", garante.
Situação que Miguel Salas, gerente do posto, está habituado a enfrentar no seu dia-a-dia. "Só cá vêm para meter combustível que lhes permita atravessar a fronteira. Clientes de cinco e dez euros são alguns, mas poucos", afirma o comerciante, que já foi obrigado a encerrar o posto situado na rotunda de acesso à cidade. "Ultimamente a situação tem piorado. A diferença, principalmente entre os preços da gasolina, nos dois países, tem vindo a aumentar e a afugentar clientes".
Miguel Salas, apesar de só pagar 530 euros a um funcionário, quase metade do que aufere um gasolineiro espanhol, não vê futuro para o seu negócio. "Se ninguém olhar para a concorrência que os espanhóis nos fazem, dando-nos compensações, os postos fronteiriços correm grave risco", afiança o comerciante que já teve de resolver diferendos com clientes.
"Já cá têm vindo espanhóis, em férias, de localidades afastadas da fronteira que mandam atestar a viatura e só depois reparam nos preços.
Começam a insultar-me, como se tivesse culpa que o nosso governo tribute tanto os combustíveis", justifica.
Em contrapartida, basta atravessar a ponte internacional do rio Guadiana e, do outro lado, no posto da GALP de Ayamonte, há um rodopio de viaturas com matrícula portuguesa a abastecer.
"Então aos fins-de-semana não temos mãos a medir", explica o andaluz Manolo Ronda, funcionário da GALP em Ayamonte, que aufere, mensalmente, cerca de 900 euros.
"Antigamente os portugueses só abasteciam as viaturas e compravam produtos de limpeza. Agora, levam ainda garrafas de gás – 11,05 euros cada – (em Portugal custam 20 euros), carne de porco e atum fresco", explica o funcionário, que diz não perceber como "vocês conseguem viver com os ordenados que têm", realça.
CARGA FISCAL JUSTIFICA MAIS DE METADE DO PREÇO
A carga fiscal sobre a gasolina é superior a 62%. Ou seja, em cada euro de gasolina, 0,62 € vão para os cofres do Estado, em impostos. Já a do gasóleo fixa-se nos 51,7%. Em ambos, a carga fiscal é inferior à média da UE a 27, de acordo com a Autoridade da Concorrência.
Mas se em termos europeus os preços estão alinhados, o mesmo não se pode dizer quando a comparação se faz entre Portugal e Espanha, que aplica menos impostos sobre os combustíveis. Com efeito, a diferença da carga fiscal entre os dois países é superior a sete por cento no caso da gasolina e fixa-se nos 2,5 por cento no gasóleo.
"DISTORÇÃO INTRODUZIDA PELOS IMPOSTOS"
"A situação portuguesa é perfeitamente alinhada com a média da UE. Contudo, a distorção que há é introduzida pelos impostos", avança Augusto Mateus. O antigo ministro da Economia fez um trabalho revelador que, no caso dos grandes operadores, os preços dos combustíveis sobem mais nos ciclos de alta, enquanto que nos mais pequenos descem mais nos ciclos de baixa, sem que nunca ponham em causa a rentabilidade do negócio.
ESTADO PERDE MILHÕES EM ISP PARA ESPANHA
A Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas pede ao Governo a redução do ISP, afirmando que os cofres públicos estão a perder 1000 milhões de euros por ano com os automobilistas que abastecem em Espanha.
Recordando que "34 537 carros portugueses abastecem em Espanha por mês", particularmente as frotas de camiões, António Lóios considera que um corte no ISP poderia reverter essa situação.
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