domingo, 28 de março de 2010

A VITÓRIA DE PORTAS

As propostas do Governo para o PEC, nos planos económico e social, devem ter causado gargalhadas a Paulo Portas e, ao mesmo tempo alguma perplexidade já que o Partido de Sócrates ameaça ocupar o espaço político que corresponde ao CDS, depois de ter ultrapassado pela direita o PSD. Com a situação a continuar nestes termos, qualquer socialista que se preze deve envergonhar-se do nome que o seu partido ainda mantém. O texto seguinte é de Daniel Oliveira e aborda a situação dos mais atingidos com as medidas sociais do PEC (Expresso 20/3/2010).

A VITÓRIA DE PORTAS

A notícia de que os ricos vão pagar a crise foi francamente exagerada. No próximo ano, o PEC vai buscar mais aos pobres do que ao adiamento das grandes obras. Mais às prestações sociais do que ao novo escalão de IRS de 45%. E para vender os cortes sociais o Governo decidiu não improvisar. Usou métodos de propaganda já experimentados por Paulo Portas. O corte de que fez alarde foi no rendimento mínimo (uma pequena parte do total dos cortes em despesas sociais). E trata-se, tal como tinha proposto o CDS, de um corte meramente administrativo. Destacados militantes socialistas como Paulo Pedroso e Pedro Adão e Silva fizeram notar a deriva populista. “Hoje sinto-me particularmente feliz por não ter sido candidato a deputado neta legislatura”, disse o primeiro. “O que era demagogia recente de Paulo Portas passou a ser norma do executivo”, queixou-se o segundo.
Os segundos sacrificados a exibir na praça pública foram os desempregados. Como a coisa é mais difícil de vender, o Governo explicou à comunicação social que há 12 mil empregos que ninguém quer. Ou seja, há 12 mil mandriões que não querem trabalhar. Portas já deve ter entregue a sua queixa à Sociedade Portuguesa de Autores por mais um plágio escandaloso.
Podíamos explicar a quem nos governa que os cortes são quase para 600 mil desempregados. Que os empregos disponíveis de que falam correspondem quase todos a salários mínimos e que muitos desempregados são qualificados. Podíamos explicar que este subsídio serve também para impedir que o aumento do desemprego resulte numa redução geral dos salários. E que não é uma esmola ou um favor. Que quem recebe descontou durante anos para a segurança social. Mas para desmontar a demagogia com a desgraça alheia sem nos enojarmos teríamos de nos esquecer que o partido que está no poder tem “socialista” no seu nome.
O Governo começou o debate do PEC com argumentos de esquerda contra as deduções. Continuou com argumentos da direita liberal pelas privatizações. A meio desta semana já se socorria dos argumentos de Paulo Portas contra as prestações sociais. Se isto dura mais tempo ainda acabaremos a explicar a Sócrates que a culpa da crise não é dos imigrantes.
Apesar de continuarmos a ser um país de brandos costumes, nunca se sabe em que momento o povo se farta de ser enganado, perde a paciência e leva tudo à frente. Depois, não há direitos humanos que valham.

Luís Moleiro

Sem comentários:

Enviar um comentário