Centeno sempre foi um homem com um pensamento clara e
marcadamente à direita.
(…)
Em pleno período de austeridade, as soluções que
apresentava para o país no que ao trabalho diz respeito não se diferenciavam
substancialmente das teses da troika e dos austeritários.
(…)
O caminho proposto por Centeno passava por embaratecer os
despedimentos, criar um contrato único para nivelar por baixo a segurança no
emprego.
(…)
Convidado por Costa em 2015 para chefiar o grupo que fez o
programa económico do PS, Centeno conformou-o e transformou-o, sem surpresas,
no programa eleitoral mais à direita de sempre do PS.
(…)
Centeno, que gostou de ser ministro das finanças
beneficiando dos resultados e das receitas de uma política económica oposta à
que defendeu antes de ir para o Governo, quer agora ir embora.
(…)
A sua política sempre esteve nos antípodas de uma visão de
esquerda ou de uma orientação socialista para o país.
(…)
[Centeno] acha normal que se transfiram 850 milhões de
euros para o Novo Banco, depois de este ter aumentando os salários fixos dos
administradores no mesmo ano (2019) em que deu um prejuízo de mais de 1000
milhões.
(…)
É tudo mau de mais neste episódio, ainda por cima num
momento em que o país se vê a braços com uma crise, em que faltam tantos apoios
aos trabalhadores que sofrem com ela.
(…)
Centeno é o representante de uma continuidade de fundo
entre o PS e a direita no que ao sistema financeiro diz respeito.
Morangos, espargos e pêssegos que ficam por apanhar.
Ovelhas com a lã por tosquiar. Um pouco por toda a Europa vai aumentando o
desespero de agricultores que não têm mão-de-obra.
(…)
Aqueles que durante anos dependeram de trabalho
migrante sem direitos ou reconhecimento apelam hoje aos governos para legalizar
a mão-de-obra existente.
(…)
A agricultura não se faz sem trabalho manual e a
pandemia acabou por trazer visibilidade a uma realidade tantas vezes escondida.
(…)
O cinismo é por de mais evidente, já que dificilmente
nos chega comida à mesa se eliminarmos o trabalho migrante.
Enquanto nos dão a entender que podemos
respirar fundo, que depois da tempestade veio a bonança, foram mais 850 milhões
de euros nossos parar aos
cofres do Novo Banco.
(…)
Sempre nos prometeram que não haveria custos
para os contribuintes com o BES e o Novo Banco, mas a realidade mostrou como
isso era um enorme embuste.
(…)
Até 2015, a resolução que PSD e CDS garantiam
não ter custos levou 3900 milhões de euros dos cofres do Estado.
(…)
Depois, a venda do Novo Banco que António
Costa jurava não ter encargos significou um rombo de 2130 milhões de euros.
(…)
[Centeno] não esperou pelo resultado [da
auditoria] para despejar mais 850 milhões de euros públicos nos cofres do Novo
Banco.
(…)
Mário Centeno diz que foi um problema de comunicação que justifica
o desentendimento com António Costa mas não consegue explicar porque não podia
esperar umas semanas até que a auditoria fosse concluída.
(…)
Centeno não sai mas também não fica, é uma
espécie de antecâmara para o tão desejado cargo de governador do Banco de
Portugal.
(…)
E, no meio disto tudo, centenas de milhões
que podiam ajudar a responder à crise já foram parar aos cofres do Novo Banco.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
O susto "simétrico" produzido pela
pandemia no seu início já é passado. Muitas juras de solidariedade são
esquecidas e apresentam-se de volta o egoísmo e o utilitarismo.
(…)
Dali [UE] não se perspetiva mais que uma
montanha de crédito (aumento da dívida), acompanhado de algumas subvenções para
disfarçar, na certeza de que tudo pagaremos com língua de palmo
(…)
Este fechamento favorece o avanço das forças
ultraconservadoras e fascistas que agora procuram engordar cavalgando aspetos
dolorosos da crise.
(…)
Com a agressividade típica de quem se fecha
por falta de razão, o velho centrão de interesses ressurge em força, e os seus
porta-vozes tentam o espezinhamento intelectual e político de quem busca
alternativas.
(…)
Quem questiona a entrega de mais 850 milhões
de euros ao Novo Banco antes de uma informação clara é chamado de
irresponsável, de colocar o povo a odiar a Banca.
(…)
Perspetiva-se o enfraquecimento dos
compromissos para consolidar o SNS, o sistema de ensino, a proteção dos mais
pobres e dos trabalhadores.
(…)
A grande prioridade colocada ao Estado e ao
Orçamento do Estado pelo centrão é salvaguardar os direitos de propriedade e
consolidar a coletivização dos prejuízos.
Será que quando sairmos deste isolamento
olharemos para a situação dos refugiados de guerra da mesma forma? Será que a
nossa empatia para com a sua história terá mais compaixão?
(…)
Para vos ser franco, não trocaria uma vida em
isolamento social por um dia na pele de um refugiado de guerra.
(…)
Que esta quarentena torne a humanidade 5%
mais consciente do todo de que
fazemos parte, e tudo isto terá valido a pena.
Dino D’Santiago, “Público” (sem link)
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