Ao mesmo tempo que é preciso criar
medidas que respondam à urgência e não deixem ninguém desamparado, não
deveríamos começar já a desenhar o sistema para uma resposta robusta ao mundo
do trabalho que efetivamente temos?
(…)
Muitos dos trabalhadores [precários] não
têm acesso ao subsídio de desemprego por não terem o contrato de trabalho que
deviam ter (…) ou por não terem o número de dias de descontos suficientes.
(…)
Ao patrão, a informalidade [dos
contratos] não faz qualquer diferença e é conveniente, mas o preço é pesado
para o trabalhador que fica sem qualquer apoio, por não ter tido qualquer
contribuição.
(…)
O governo fez finalmente o que há já
dois meses era obvio, que é deixar de excluir do apoio extraordinário os
trabalhadores independentes que estavam no primeiro ano de atividade, ou os que
a fecharam logo a seguir ao início da pandemia.
A proposta sem nome de André Ventura de
um plano de confinamento específico para a comunidade cigana é só mais uma
confirmação do que não precisamos.
(…)
A
contrarresposta de Ventura a Quaresma é uma súmula perfeita do programa
político da extrema-direita: caladinhos, obedientes e com muito medo...
(…)
O deputado Ventura que foi eleito prometendo
mundos e fundos para acabar com os privilégios é o mesmo que não abdicou de
continuar a acumular salários, que não mexeu um dedo para combater as
desigualdades num país em que os oito mais ricos possuem o mesmo que os 50% da
população mais pobre.
O problema dos ciganos é o “os”, esse
“os” generalizador que é sempre instrumento de estigmatização coletiva e de
desdiferenciação do que é heterogéneo.
(…)
A estratégia da extrema direita começa
aí, nesse uso de amálgamas para estigmatizar grupos inteiros.
(…)
A estratégia da extrema direita começa
aí, nessa ficção de uma cultura (a “deles”) parada no tempo, monobloco,
associada a comportamentos marginais e inferior a outra cultura (“a nossa”).
(…)
[Os ciganos] na sua grande maioria, são
pobres, na sua grande maioria vivem mal, na sua grande maioria têm uma
escolaridade reduzida, na sua grande maioria têm profissões precárias e pouco
qualificadas com especial incidência na economia informal.
Olhamos em redor e vemos elevado desemprego,
agravamento de desigualdades, carências gritantes e o espetro da fome para
muitas pessoas.
(…)
Da União Europeia (UE), que se diz ser ancoradouro
de solidariedade, chegam-nos sinais inequívocos de bloqueio e de negação de
apoios financeiros e outros.
(…)
As políticas dualistas e
muitas vezes propositadamente obscuras seguidas pela UE – (…) – criaram nos
cidadãos europeus fracionamentos perigosos, interpretações erradas sobre quem
beneficia e quem perde no funcionamento da União.
(…)
O cenário que vivemos
prefigura a necessidade de cada país e cada povo terem como prioridade tomar em
mãos, com os seus recursos e instituições, a resolução dos problemas.
O país está a atravessar
uma crise pandémica que está a afetar arduamente os trabalhadores e as
famílias, mas isso não interessa nada a André Ventura.
(…)
A prioridade de André
Ventura é o racismo.
(…)
Sobre o aumento repentino
dos pedidos de ajuda alimentar que, segundo a Cáritas, já atinge famílias da
classe média, um completo silêncio.
(…)
[O] deputado [Ventura]
tentou censurar [Ricardo Quaresma], negando a liberdade de expressão que sempre
defendeu para si próprio.
(…)
A arrogância de Ventura
não foi disfarçável, bem ao jeito de quem se acha superior aos restantes
cidadãos.
(…)
[Ventura] Acha que a
liberdade de expressão é um privilégio para os que, como ele, vivem do sistema.
(…)
Num momento em que as
empresas como aquela que paga um terceiro salário ao deputado-consultor são
criticadas por ajudar nos esquemas fiscais por onde fogem milhões de euros para
offshore, desvia a
atenção para uma nova controvérsia.
Pedro
Filipe Soares, “Público” (sem link)
Não podemos viver num
mundo onde o trabalhador só tem o direito de trabalhar, cingindo-se a produzir
e a fugir para casa no fim de cada jornada de trabalho cheio de medo e
incertezas.
João
André Costa, “Público” (sem
link)
O sentido de comunidade
não está no medo paralisante. Está na cidadania plena. E se esta se manifesta
na rua, é na rua que está a cidadania.
Manuel
Loff, “Público”
A inteligência do fascismo
está em fazer-nos acreditar que é um salvador, quando na realidade não passa de
um Flautista de Hamelin que nos hipnotiza e nos conduz para a destruição de
toda a humanidade que temos vindo a preservar.
(…)
Temos de denunciar todos
os discursos e actos abusivos que observarmos ou dos quais tenhamos conhecimento,
mostrando como colocam em perigo a saúde democrática.
Samuel
F. Pimenta, “Público” (sem link)
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