Caiu hoje na nossa mesa
de trabalho, através de uma rede social, um curto texto com excertos do
primeiro programa do PPD/PSD – na realidade, nessa altura a sigla era apenas
PPD de Partido Popular Democrático – elaborado logo em 1974. Trata-se de uma
pequena preciosidade ou “pérola”, como designamos no título deste artigo porque
o programa é muito mais extenso e digno de uma pormenorizada análise atual a
que ainda ninguém se debruçou. Convenhamos que seria muito interessante… como
se pode constatar perante o que aqui deixamos a seguir. Quem já leu o primeiro
programa do PPD ainda se lembra das propostas dos “sociais-democratas” e da via
“social-democrata para o socialismo”. De qualquer maneira, a sugestão que, para
já aqui deixamos aos frequentadores deste blog, é que procurem o texto integral
do citado primeiro programa do PPD e se deleite a ler um puro exercício do mais
desbragado oportunismo político. Alguém que não conheça do que se trata, pode
ser levado(a) a acreditar que é obra de algum partido ideologicamente próximo dos
ideais comunistas.
Na realidade, nada do que
lá está escrito foi alguma vez defendido para o futuro dos portugueses nem essa
foi a intenção de quem elaborou o programa nem dos que o aprovaram. Estamos, antes,
perante um exemplo real do oportunismo político que atravessou toda a direita
no pós-25 de Abril, tentando não perder o contacto com os justos anseios de
mudança da esmagadora maioria da população portuguesa, mas sem a intenção de
lhes dar qualquer seguimento. Veja-se que, até o Prof. Freitas do Amaral,
primeiro presidente do CDS, chegou a defender num comício uma “sociedade sem
classes” em Portugal – há um vídeo que documenta esta afirmação.
É claro que toda esta
retórica da direita em 1974 jamais teve qualquer avanço e rapidamente se
esfumou para a defesa dos interesses mesquinhos e de classe que estes grupos
representavam e representam.
Senão, façamos um simples
exercício mental no sentido de nos interrogarmos como é que, de um dia para o
outro, simpatizantes e defensores convictos da ditadura, passaram a criticar de
forma radical o sistema capitalista, propondo a nacionalização de muitas empresas
privadas e ações como a expropriação ou arrendamento compulsivo da propriedade
agrária ou mesmo a defesa de uma “sociedade sem classes”… Nada disto tinha
qualquer ligação à realidade mas a verdade é que, muitas vezes com a ajuda de
democratas, foram impondo um retrocesso até chegarmos à situação atual em que a
defesa da mais pequena melhoria das condições de vida para os mais
desfavorecidos tem de ser conseguida a pulso por parte das forças do progresso.
Vejamos, pois, alguns curtos excertos do primeiro programa do PPD (mais tarde PSD), uma verdadeira pérola a quase meio século de distância da sua elaboração.
“Não há verdadeira democracia sem socialismo, nem
socialismo sem democracia”;
p. 14 – “O capitalismo multiplicou as desigualdades
sociais”;
p. 15 – “O capitalismo conseguiu expandir a produção a
um ritmo extraordinário (…) mas fê-lo à custa da exploração dos trabalhadores e
das nações produtoras de matérias primas, colocando a maioria da população na dependência
de alguns diretores de grandes grupos económicos incontroláveis e deixando
afinal insatisfeitas muitas necessidades essenciais através da criação
artificial de necessidades e da manipulação do consumidor”;
p. 17 – “A industrialização conduziu à acumulação do
capital financeiro que deu um poder extraordinário aos grupos que dominam os
grandes bancos comerciais”;
p. 19 – “Um sistema económico baseado no lucro
individual revelou-se incapaz de, por si só, sem intervenção do Estado,
assegurar o pleno emprego e planear a satisfação das necessidades coletivas.”
p. 21 – “urgência da eliminação de outras causas de alienação
e opressão e, desde logo, da superação da estrutura jurídica da empresa que a
torna num espaço social estranho para a pessoa do trabalhador, da eliminação dos
temores pela segurança perante riscos de existência”.
Na p. 100 propõe a eliminação de monopólios ou
privilégios de qualquer espécie para o setor privado.
Na p. 103 e 103 pretende-se assegurar a efetiva
submissão do poder económico ao poder político, pelo que o estado intervirá
diretamente na produção, nacionalizando, e resumimos, monopólios naturais,
empresas sectorialmente dominantes, indústrias básicas ou “de tal modo importantes
que daí avenha poder excessivo”, etc.
Na p. 104 defende-se a planificação económica
democrática.
Na p. 116 a expropriação ou arrendamento compulsivo da
propriedade agrária.
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