(…)
Estas empresas [tipo Uber] instalam-se falseando a
concorrência através da subsidiação das viagens numa primeira fase (para
conquistar clientes e a opinião pública) e de uma estratégia monopolista.
(…)
Este comportamento implica violar regras económicas,
externalizar uma parte do seu capital fixo (…) e esquivar-se aos custos das
responsabilidades patronais.
(…)
Além da opacidade, a Uber também enganou deliberadamente as
autoridades para fugir à fiscalização.
(…)
Quando era ainda ministro da Economia, este último [Macron]
teve um papel chave em garantir a operação da empresa em França, o primeiro
país europeu onde a multinacional apostou, em 2014.
(…)
Em 2016, por iniciativa de Macron, a lei mudaria a favor da
empresa [Uber].
(…)
Em vários países, o então presidente executivo da Uber,
Travis Kalanik, incentivou conflitos com os taxistas e até contramanifestações,
por entender que as agressões de que os motoristas fossem vítimas jogariam a
favor da empresa.
(…)
A estratégia de manipulação da opinião pública é assumida em
várias comunicações que fazem dos trabalhadores carne para canhão.
(…)
Um outro campo de ação foi a identificação de académicos
disponíveis para publicar estudos com uma narrativa positiva sobre o modelo de
negócio da empresa.
(…)
Em França, a Uber pagou 100 mil euros a Augustin Landier, à
época professor na Faculdade de Economia de Toulouse, ex-economista do FMI e
figura em ascensão no debate público francês, por um estudo que ajudou à
instalação da empresa no país.
(…)
O mesmo tipo de processos teve lugar na Alemanha e nos
Estados Unidos.
(…)
Por agora, as informações reveladas acerca de Portugal dizem
respeito à utilização das manifestações de taxistas para alimentar a “narrativa
da violência” que viraria a opinião pública a favor da empresa.
(…)
[A afeição da Uber] pelo “modelo português”, único no mundo,
deve-se à figura legal do intermediário (o “operador TVDE”), que liberta as
plataformas de quaisquer responsabilidades patronais.
(…)
[Portugal] legislou contra o reconhecimento legal da relação
laboral com a plataforma.
(…)
Quando foi conhecida a primeira versão do Livro Verde [sobre
o Futuro do Trabalho], as plataformas reagiram violentamente em intervenções
públicas.
(…)
A proposta [revista da lei da Agenda do Trabalho Digno]
perpetua [em Portugal] o modelo defendido pela Uber.
(…)
O que fez o Governo mudar?
(…)
[Na semana passada, num debate com a Ministra do Trabalho] o
secretário de Estado foi enfático na defesa da formulação legal do agrado da
Uber. Terá sido ele a promover a alteração?
(…)
É uma contradição absoluta [as plataformas conseguiram passar
a estar representadas na Concertação Social], porque a principal batalha destas
empresas é justamente não serem consideradas empregadoras.
(…)
[Entretanto] as plataformas investiram também, neste período,
nos seus “estudos à medida”.
(…)
A referência em várias notícias a um estudo “do ISCTE”
permite transferir o capital científico da instituição para os resultados
promovidos pelas empresas com o seu questionário.
(…)
Resta saber quanto custou às multinacionais esta ousada
operação mediático-política que colocou os créditos académicos do professor e
das instituições a que pertence ao serviço das plataformas.
José Soeiro, “Expresso” online
Não há regionalização, mas isso não é surpresa nenhuma, desde
que o referendo foi imposto como condição que a promessa se foi tornando uma
farsa.
(…)
O assunto transformou-se num jogo floral, palavras para aqui
ou para ali, quando eu posso tu não queres, quando eu quero tu não podes, e
vamos sendo entretidos.
(…)
O assunto é uma mazela, ou uma piolheira, como se dizia à
antiga.
(…)
Resta o país, que vai sobrevivendo às entoações destas
políticas promissórias.
(…)
Esta Viagem a Portugal [através da TSF e das reportagens de
Fernando Alves], agora numa rádio que
saboreia o tempo e não tem pressa, é a melhor prova de que as regiões existem
com comunidades e com culturas que nos falam.
Francisco Louçã, “Expresso” online
Chegou ao fim o suspense mantido durante anos em torno das negociações
do Tratado da Carta da Energia (TCE).
(…)
Sabia-se
que qualquer resultado deste processo teria de passar o crivo da tremida
arquitectura das mais de 50 Partes Contratantes (PC) do TCE.
(…)
A
Comissão [Europeia] partiu para as negociações com propostas carentes de
ambição, inaceitáveis do ponto de vista do clima, do ambiente e dos cidadãos.
(…)
O TCE “modernizado” continuará a proteger os investimentos
fósseis já existentes até, pelo menos, 2033.
(…)
Até
2033 o TCE continuará a ameaçar e até impedir a acção governativa pró-climática
quando esta possa interferir com os lucros das empresas energéticas e a ser um
risco para as contas públicas.
(…)
Significa isto meter travão a fundo na transição energética.
(…)
A UE e
o Reino Unido podem agora ir eliminando ao ralenti
a protecção do investimento dos fósseis, enquanto outras PC [Partes
Contratantes] a podem manter indefinidamente.
(…)
Uma
das mais chocantes componentes do TCE é a justiça paralela VIP para investidores
estrangeiros, consubstanciada no questionável mecanismo de resolução de
litígios entre investidores e estados (ISDS).
(…)
O TCE
é magnânimo quando se trata de garantias aos investidores; a chamada cláusula
de caducidade garante a protecção dos investimentos durante 20 anos após a
retirada de um país do TCE.
(…)
O TCE “modernizado” continua a ser uma arma da indústria da
energia contra o clima e os cidadãos.
(…)
É
sintomático que a Comissão Europeia, que pretende liderar no rumo à
neutralidade carbónica, tenha preferido vergar-se às vontades das
multinacionais e ao primado da economia.
(…)
[No TCE “modernizado”] as expectativas de lucro dos
investidores são prioritárias face à protecção do clima e do bem comum.
Ana Moreno, “Público” (sem link)
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