(…)
Pelo
contrário, Walpole [o primeiro primeiro-ministro efetivo do Reino Unido]
enriqueceu com a fraude.
(…)
[Numa
reunião de cinco antigos primeiros-ministros do Reino Unido] um deles,
Callaghan, perguntou aos seus colegas o que teriam em comum, e MacMillan, um
conservador que exercera funções duas décadas atrás, terá sugerido “a falta de
princípios”.
(…)
As
mentiras que levaram à demissão de Boris Johnson têm ilustres precedentes.
(…)
Qual é
o futuro de uma democracia governada ao longo dos tempos por tal falta de
princípios.
(…)
[Essa
falta de princípios] é uma banalidade, se não, porventura, o modo
deslavado de descrever as constelações dos interesses na sombra e na luz de
Governos poderosos.
(…)
[Por
exemplo] o filho de Thatcher teria aproveitado os fulgores do poder para ser
intermediário em vendas de armas aos sauditas.
(…)
[Por
exemplo] catadupas de governantes aparecem nos Panama Papers e em cada uma das
revelações posteriores.
(…)
[Por
exemplo] Trump continua a esquivar-se à investigação sobre a sua trafulhice nos
impostos.
(…)
[Falta
de princípios?] Trata-se, em todos estes casos, de decisões consistentes
segundo o princípio do exercício do poder.
(…)
O
discurso de Bolsonaro aos embaixadores acreditados em Brasília para justificar
um golpe militar contra as próximas eleições é evidência do modo de governar
dentro da toca do coelho.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Durante
muito tempo [as democracias] foram formas de coordenação da dominação,
excluindo as mulheres, os pobres e os escravos.
(…)
Também
continuaram a ser o espaço de disputa de direitos sociais pelas classes
dominadas.
(…)
Democracias
foram aniquiladas por populismos (…) e tuteladas por dinastias (…), em ambos os
casos presumindo a estabilidade do poder.
(…)
Se o
bem comum é substituído pela vantagem pessoal dos mandarins ou pela arte da
mentira, onde soçobra a lei sobra a força.
(…)
Hoje,
só a guerra distrai e confirma a mentira.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O desespero dos autarcas, sobretudo
durante estes dois últimos anos, com os percalços do processo de
descentralização, aparenta ter um fim tácito no momento em que se celebra um
acordo parcial.
(…)
Quatro anos depois do aperto de mão entre
António Costa e Rui Rio, o poder central encarregou-se de nos mostrar todo um
cardápio de horrores, entre atrasos e incapacidades, obstáculos e indecisões,
incompetências ou negligências.
(…)
Com este processo de descentralização,
que não trabalha nem culmina no passo seguinte da regionalização, o engodo
materializa-se num faz de conta ou num a ver vamos.
(…)
Com este acordo que chega tarde e a más
horas, cambaleante, não podemos esquecer todo o processo travado a solavancos e
o engodo sobre a regionalização espelhado na absoluta incapacidade do poder
central para cumprir um desígnio constitucional com 46 anos.
(…)
Com ou sem referendo, com ou sem acerto
ou alteração constitucional, a classe política que ocupa o poder desde o 25 de
Abril continua a mentir ao país sobre a regionalização.
Os
artigos de opinião publicados nas últimas semanas podem soar a discussões
intelectuais e etéreas, mas chegam à maior parte das pessoas LGBTI+ que os leem como atos de
bullying.
(…)
Os opinion-makers parecem
querer atirar areia para os olhos e ignorar a realidade dolorosa de milhares de
pessoas LGBTI+ que ainda sofrem com o silêncio, com o medo e com a
discriminação infligida pela sociedade portuguesa.
(…)
Entre 2020 e 2021, os pedidos de apoio psicológico recebidos
pela ILGA Portugal aumentaram 60%.
(…)
Milhares
de pessoas trans continuam em lista de espera durante anos para conseguir
aceder a cuidados de saúde que lhes são negados.
(…)
Na UE,
uma em cada cinco pessoas sente-se discriminada no seu local de trabalho e uma
em cada duas pessoas trabalhadoras LGBTI+ foi vítima de assédio e ameaças.
(…)
A
maioria das pessoas LGBTI+ jovens em Portugal ainda são vítimas preferenciais
de cyberbullying e
de bullying em
contextos como a escola, o espaço público e também na
família.
(…)
E a
cereja no topo do bolo: o Orçamento do Estado continua a fazer de conta que as
pessoas LGBTI+ não existem.
(…)
Venham trilhar connosco o caminho tortuoso da reivindicação
dos nossos direitos novamente ameaçados.
Ana Aresta, “Público” (sem link)
A Uber é um caso evidente de uma nova tecnologia que nos
facilitou a vida.
(…)
Uma
revolução destas não chega a um mercado sem provocar ondas de choque, muito
menos num tão regulado como o dos táxis, onde tudo, desde o preço à entrada no
mercado obedece a regras estritas.
(…)
Portanto, a chegada da Uber iria sempre ser intempestiva, independentemente
do método.
(…)
Mas a fuga de informação revelada pelo The Guardian mostra mais do que a intempestividade
normal deste tipo de inovações nos mercados.
(…)
Em primeiro lugar, a Uber agiu fora da lei, sabia
perfeitamente disso, e tinha até orgulho nesse facto.
(…)
A Uber agiu à margem da lei de proteção de privacidade dos
clientes e condutores.
(…)
A Uber desenvolveu estratégias para fintar
deliberadamente o controlo das autoridades.
(…)
O que
não é aceitável são reuniões secretas com responsáveis políticos, que em muitos
países têm de revelar a sua agenda publicamente devido às regras que regulam a
atividade de lobbying.
(…)
Os files sugerem que a Uber
perdeu dinheiro, vendendo serviços baratos relativamente ao que pagava a quem
conduzia, com o objetivo de conquistar clientes e motoristas.
(…)
Quando
o objetivo desta prática é aniquilar a concorrência, ela até pode parecer muito
boa no imediato, mas acaba por prejudicar os consumidores a prazo.
(…)
Parece
evidente que a Uber não oferece uma relação normal de emprego, até porque estes
não têm horário de trabalho fixo.
(…)
Uma
coisa é reconhecer que as leis normais do trabalho dependente e independente
não estão adaptadas a esta realidade, outra aceitar que vale tudo.
(…)
Em suma, a Uber prosseguiu deliberadamente uma estratégia de
facto consumado. Entrou em centenas de cidades de forma assumidamente ilegal.
(…)
Depois
[a Uber] confrontou os responsáveis eleitos com a sua existência de facto,
forçando alterações legais que se adaptaram à Uber, em vez do contrário.
(…)
A
vertigem da tecnologia não vai parar e por isso outras Ubers, porventura mais
sofisticadas e sinistras, podem estar ao virar da esquina ou já entre nós.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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