(…)
Nem a
paz americana resistiu ao terrorismo dos seus próprios aliados, nem a guerra
infinita fez a lei.
(…)
[O
livro de Fukuyama “O fim da História e o Ultimo Homem”] foi mais citado pelo
título do que pela constatação de alguma angústia intestina.
(…)
A
cartografia deste fim da história é também assustadora. Aliás, a atualidade é
sempre impiedosa para a noção de hegemonia perpétua.
(…)
A
bancarrota do Sri Lanka reduziu a importação de bens essenciais, ainda antes da
guerra na Ucrânia.
(…)
Na
Europa, ainda antes da crise energética na sequência da invasão da Ucrânia, já
estavam ameaçadas as maiorias de governo no Reino Unido, França e Itália.
(…)
[Na
Alemanha] a economia europeia mais poderosa está à beira da recessão.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
Há
também, neste mundo do fim da história, quem levante uma força desmedida, o
que, ao contrário do que supunha Fukuyama, aumenta a fragilidade do sistema
global.
(…)
São os
gigantes que dominam a economia.
(…)
Dominam
a agenda política, a começar pelo santo dos santos, o território do sistema
fiscal.
(…)
Essas
grandes empresas, a finança antes de tudo, têm artes de beneficiar mesmo da
emergência.
(…)
O BCE
é agora obrigado a evitar que os bancos realizem lucros extraordinários
ao depositar no banco central, algum do capital que receberam de empréstimo a
juro baixo durante a pandemia.
(…)
Com a
operação, calcula a equipa de Lagarde, esses bancos poderão embolsar entre 4 e
24 mil milhões de lucros suplementares até final de 2024, por um simples gesto
de computador.
(…)
Acerca
desse poder, o nosso país tem dado abundantes provas de facilidade.
(…)
Em
meados de 2022, a auditoria do Tribunal de Contas constatou sem surpresa que a
administração do Novo Banco tudo fez para se aproveitar dos bolsos do Estado,
ignorando estrategicamente as regras básicas de gestão.
(…)
Mais o
negócio misterioso da venda da Groundforce com um subsídio ao comprador e o seu
desinvestimento, a que se soma agora o efeito dominó da falta de pessoal em
todas as grandes companhias aéreas.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
Nem primeiro-ministro nem presidente da
República vão a banhos em dias de incerteza.
(…)
Ano após ano, exceptuando algum descanso
da mão humana que a pandemia ironicamente trouxe, os permanentes e incessantes
incêndios são o grande enigma português.
(…)
Portugal vive uma segunda onda de calor
mas, no futuro, pode vir a sentir dez ondas de calor por ano.
(…)
A incapacidade do país para responder ao
que se soma, ano após ano, como uma inevitabilidade, é um crime perpetrado pelo
poder político.
(…)
Nada do que é antecipável pode ser
encarado como uma inevitabilidade.
(…)
E, ainda assim, continuamos à espera que
as temperaturas ajudem, que os pirómanos se curem ou que os interesses
desapareçam como fogo extinto.
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Nos últimos cinco anos, o investimento do
Governo na prevenção dos fogos florestais é irrisório.
(…)
Quanto tempo mais será necessário para
prepararmos o encontro com o inevitável que consentimos por única e exclusiva
culpa?
A partir do
pensamento de feministas como Judith Butler, as teorias de género
complexificaram a relação entre o social e o biológico na construção de
identidades.
(…)
O
movimento histórico antirracista, anticolonial, feminista e LGBTQIA+ (não é
assim tão difícil) que permitiu afirmar grupos explorados e oprimidos pela
sociedade capitalista, racista e patriarcal, foi uma luta pelo direito à
existência, à visibilidade, à dignidade e à vida.
(…)
Pela
ideia de que, tal como a discriminação (e a violência) não se contém apenas nas
características sexuais binárias (homem e mulher), também o princípio da não
discriminação não pode ser contido por elas.
(…)
Aparentemente,
alguém [Pacheco Pereira] que não quer o pensamento único incomoda-se com as
outras expressões, mesmo que algumas lhe sejam imperceptíveis de tão distantes.
Para muites, essa foi a maior surpresa.
Joana Mortágua, “Público” (sem link)
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