(…)
Em vez
de esperar por licenciamento ou adaptar-se à legislação de cada país,
aproveitou o vazio legal ou contornou a lei e, com prejuízos, ofereceu preços
impossíveis para destruir a concorrência que estava presa à regulação.
(…)
“Vendemos
uma mentira”, disse Mark MacGann, antigo responsável pela empresa na Europa.
(…)
Depois
dos incentivos iniciais, as comissões da Uber aumentam drasticamente.
(…)
“É
melhor pedir perdão do que permissão”, era o mantra.
(…)
O
negócio da Uber foi beneficiar das vantagens desta ilegalidade.
(…)
“Abracem
o caos”, disse o principal executivo para a Ásia aos gerentes. Porque enquanto
a tempestade judicial se formava, destruíam a concorrência.
(…)
A
primeira incursão em Paris tinha corrido mal, com fiscalizações fiscais e
oposição dos taxistas.
(…)
Um
conselheiro da empresa fez uma lista de 1850 pessoas influentes em 29 países.
(…)
Contrataram-se
muitos ex-políticos e ex-funcionários para influenciar os seus antigos colegas.
(…)
Quando
Joe Biden se atrasou num encontro, em Davos, Kalanick escreveu a um colega:
“Cada minuto de atraso é um minuto a menos comigo.”
(…)
Apesar
do desprezo, a reunião rendeu uma alteração de última hora no discurso do então
vice-presidente, para defender que a Uber criaria dois milhões de novos
empregos num ano.
(…)
Até a
violência era uma oportunidade.
(…)
Durante
as greves de taxistas e tumultos em Paris, Kalanick quis contraprotestos dos
motoristas da Uber.
(…)
Mas
não há como incutir uma nova cultura numa empresa insustentável num mercado
regulado.
(…)
A não
ser com regulação à medida, como a portuguesa, apresentada como “modelo de
ouro” pela Uber.
(…)
Portugal
parecia estar prestes a acompanhar a mudança [em alguns países da Europa que
determinavam que os motoristas estão cobertos pelas leis laborais], com a
Agenda do Trabalho Digno.
(…)
Mas, no
último minuto, foi reintroduzida a figura do intermediário em vez do contrato
com a plataforma.
(…)
Com o
que sabemos hoje, fica a pergunta: quem exigiu este recuo?
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
As políticas obcecadas com o crescimento
ilimitado, o lucro, as engenharias financeiras e o determinismo tecnológico, no
pressuposto de que tudo o resto vem por arrasto, não cumprem a missão central
da política que se situa na construção de respostas aos reais problemas das
pessoas, sempre com uma forte carga social.
(…)
A ansiedade social generalizada que hoje
se vive resulta de desagrados dos cidadãos.
(…)
A decisão sobre o novo aeroporto de
Lisboa exige reflexão sobre problemas que dizem respeito à cidade, à metrópole,
à área metropolitana, à sua relação com outras áreas e com os interesses dos
portugueses do todo nacional.
(…)
A solução a encontrar na região de Lisboa
condicionará ou potenciará as opções para todo o país, nomeadamente as
relativas ao caminho de ferro, aos sistemas de transportes e mobilidades, à
descentralização e regionalização.
(…)
A região de Lisboa vem empobrecendo. Ela
não resistiu à desindustrialização e perde centros de decisão privados que não
ficam no território nacional.
(…)
Só haverá soluções para o desenvolvimento
do país com políticas transversais devidamente planificadas, aplicadas em
várias escalas e articuladas para o todo nacional.
A exposição a temperaturas elevadas está associada a
desidratação, problemas cardiovasculares, alteração da qualidade de sono e do
humor.
(…)
Níveis de calor perigosos para a saúde apresentam um impacto
enorme na segurança e produtividade da população.
(…)
A
evidência científica tem demonstrado nos últimos anos, que as estimativas de
perda de mão-de-obra em ambientes com temperaturas elevadas são preocupantes,
especialmente para os trabalhadores do sector primário.
(…)
O stresse térmico ocupacional afeta a capacidade dos
trabalhadores de cumprirem as exigências cognitivas e físicas do seu trabalho.
(…)
Países
com economias mais fortes investem seriamente na investigação dos mecanismos
fisiológicos de adaptação ao ambiente quente e desenvolvimento de medidas de
aclimatização nos locais de trabalho.
(…)
[Um aumento significativo da temperatura] tem
impacto na economia de países do sul da Europa, como Portugal, o que deveria
motivar um maior investimento na promoção da saúde e investigação na área da
Medicina do Trabalho.
(…)
Portugal
é dos poucos países europeus que não possui um instituto do Estado dedicado
exclusivamente ao desenvolvimento, investigação e regulação da segurança e
saúde ocupacionais.
Carlos Ochoa Leite, “Público” (sem link)
O
agravamento do cenário [em torno da floresta] agrega vários factores, como a
proliferação do eucaliptal, o abandono do interior, as alterações climáticas,
que formaram um cocktail
explosivo.
(…)
Um
olhar mais profundo permite encontrar uma economia do costume que persiste no
negócio, que embora seja catastrófico para a natureza e para a maioria dos humanos,
enche os bolsos de poderosos.
(…)
Mesmo
com o inferno de 2017, e do muito que então foi prometido no rescaldo do luto,
na verdade as coisas estão hoje muito
piores.
(…)
Basta
ir ao terreno e ver como as matas se encontram cheias de eucaliptos e matos,
que formam um oceano de combustível.
(…)
Os
problemas ambientais, climáticos e florestais são fruto da forma como uma elite
da nossa sociedade e a sua economia tem agido sobre a natureza.
(…)
A
única forma de resolvermos estas questões é acordarmos colectivamente para a
maneira com esta elite de senhores comanda o nosso património natural.
(…)
Isto é possível quando começarmos a ver a terra como uma
comunidade à qual pertencemos.
(…)
Se queremos salvar a floresta precisamos de colocar a
economia ao serviço da humanidade e da natureza
Jorge Moreira, “Público” (sem link)
[Os rankings das escolas enquadram-se] num
“ecossistema” competitivo, onde toda a atividade humana se mede e se compara,
evidência do liberalismo económico de abrangência global associado a um modo de
avaliação que tudo transforma em números hierarquicamente organizados.
(…)
[Os que contestam os rankings entendem que] é
impossível avaliar a qualidade das aprendizagens realizadas ao longo de dois ou
três anos letivos, tendo por base uma demonstração de desempenho realizada em
cerca de duas horas.
(…)
Não
pondo em causa a utilidade dos exames, o que considero é que, por um lado, é
pernicioso e redutor usar os rankings para uma certa construção social da
excelência e do mérito.
(…)
Todos
sabemos que genericamente o desempenho dos alunos, dos professores e das
escolas depende das características económicas, sociais e culturais do público
que serve e do meio envolvente.
(…)
Não
podemos comparar os resultados de uma escola, num centro urbano, frequentada
por alunos de uma classe média alta com os de outra situada numa região
demograficamente deprimida.
(…)
À agenda neoliberal o tema dos exames e dos rankings servirá
para insistir na privatização e no cheque-ensino.
Elvira Tristão, “Público” (sem link)
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