(…)
Supôs-se
que ela [televisão] criaria majestaticamente os seus próprios públicos,
tornando-se a forma dominante da gestão do senso comum e, portanto,
alcandorando-se ao estatuto de fazedor de reis. Assim aconteceu.
(…)
O
crescimento da televisão, sob o controlo por grandes grupos mundiais, a que
correspondeu a padronização dos seus conteúdos, confirmou este projeto.
(…)
As
técnicas da conformação social foram-se tornando mais sofisticadas.
(…)
A
intermediação formal — jornais, rádios e TV — tornou-se hegemónica e, em
consequência não indesejada, ocupou o espaço político.
(…)
Este
sucesso abriu a porta para a ascensão de bufões, uma nova “classe” de ícones
(de Berlusconi a Trump).
(…)
Deste
modo, tem-se quebrado a vinculação a regras que prometiam a intermediação na
esfera pública para ampliar o espaço democrático.
(…)
Pelo
contrário, se gestão de senso comum em modo de televisão obsessiva criou reis,
descobrimos que são Frankensteins.
(…)
É no
segundo pilar da dualidade da comunicação na sociedade que a maior
transformação tem vindo a ocorrer, com a absorção das redes pessoais de
contacto pelas redes empresarializadas das maiores potências mundiais, as
empresas da internet.
(…)
A sua
estratégia tem sido domesticar o senso comum.
(…)
Quanto
mais rede social, maior é o isolamento individual.
(…)
O
tambor das informações na sociedade deixou de ser a intermediação profissional
pelas empresas de comunicação e passou a ser a comunicação pelas empresas de
redes.
(…)
Olhando
para 50 anos atrás, quando a comunicação era a democracia contra a ditadura, o panorama
inverteu-se: o novo modo da ressonância passou a ser a vida no capitalismo de
vigilância.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Tão
frágil era o seu poder que os militares [birmaneses] não aguentaram a
humilhação de uma derrota copiosa nas eleições de 2020 e, alegando uma fraude
em que ninguém acredita, intervieram, impondo uma nova ditadura dez anos depois
de ter aceitado a abertura.
(…)
Desde
aí, e perante os protestos desafiadores na rua, os militares não se poupam nos
esforços para aplacar a oposição nas ruas e nos gabinetes: mais de 16 mil
presos e mais de 2300 mortos, entre eles 157 crianças.
(…)
Num conjunto
de processos judiciais [Aung San Suu Kyi] acabou por
ser condenada a 33 anos de prisão, o que para alguém com 77 anos é quase como
se fosse uma pena de prisão perpétua.
(…)
A Junta Militar [birmanesa] tem garantido que a voz de Aung
San Suu Kyi deixou de se ouvir, ao mantê-la incomunicável.
(…)
Aung
San Suu Kyi foi transferida em Junho da sua casa, onde cumpria prisão
domiciliária, para uma prisão de Naypyidaw, a capital artificial construída
pelos militares, onde foi colocada numa solitária, remetida a um permanente
silêncio.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
É impossível não estabelecer paralelismos
[entre os ataques à escola pública] com os ataques ao SNS.
(…)
É a saúde da educação pública que está em
causa, numa luta que promete fazer parar o país.
(…)
Nunca a escola pública correu tantos
perigos, nunca teve tantos algozes capacitados, ao virar da esquina do
Parlamento, para a enfraquecer e destruir.
(…)
É ao poder político que compete dar o
sinal que entende a algumas das legítimas reivindicações dos professores e
comunidade escolar.
(…)
As legítimas greves no sector da educação
devem ser proporcionais ao dano que, inevitavelmente, causarão a centenas de
milhares de crianças e jovens.
(…)
Décadas de subinvestimento nas escolas e
nos seus profissionais, que culminam nos últimos anos de acrescidas
dificuldades e congelamento do tempo de serviço e progressão nas carreiras, são
verdades absolutas.
(…)
Uma greve geral prolongada na educação
pode ser dinamite no fim de um inverno rigoroso para o Governo. Competirá a
António Costa perceber o momento.
Entre
os vencedores – os que enriqueceram, que ganham muito mais, que têm um
património faustoso ou que atingiram o topo da carreira – a ilusão do mérito
gera arrogância.
(…)
Entre os vencidos – os que foram deixados para trás – a
tirania do mérito gera humilhação e ressentimento.
(…)
A avaliação do mérito dos docentes nas escolas é bem
exemplificativa desta ilusão e tirania do mérito.
(…)
Por causa de um sistema de quotas que “premeia”, quase
aleatoriamente, apenas uma parte dos docentes e exclui milhares.
(…)
A
profissão docente tem perdido valor e reconhecimento público, desde o início
deste século, em resultado de algumas (in)decisões políticas insensatas.
(…)
Dos
120 mil docentes que existem em Portugal, cerca de 26 mil são contratados, têm
uma média de 42 anos de idade, mais de metade com dez ou mais anos de serviço,
auferem salários que não ultrapassarão os 1150 euros.
(…)
A grande
maioria dos que estão nos quadros do ME vive num permanente desassossego – está
envelhecida (45% tem mais de 50 anos), é
mal paga.
(…)
A profissão
docente é desgastante e deixou de ser atractiva.
(…)
A falta de professores é, neste momento, o problema mais
grave do sistema educativo em Portugal.
(…)
Calcula-se
que, no final do 1.º período lectivo, cerca de 80 mil alunos possam estar sem
professor a uma ou mais disciplinas.
(…)
O
actual Ministro da Educação sabe disto. E sabe que só resolverá este problema
com a valorização e dignificação da profissão docente e outras medidas.
(…)
À precarização profissional (que se agravou com a actual
crise económica) juntar-se-á a precarização ética e deontológica dos docentes.
(…)
Com o novo regime de contratação/colocação os professores
perderão autonomia e independência intelectual porque ficarão agrilhoados ao
poder discricionário.
(…)
[Os professores] são os responsáveis por reproduzir
consciente e deliberadamente os valores, os conhecimentos e práticas sociais
estruturantes de uma sociedade civilizada.
(…)
Para tal, exige-se que seja assegurada a autonomia, a
liberdade e independência intelectual dos docentes.
(…)
Só não vê quem não quer. O Ministro da Educação não vê ou não
quer ver.
Sérgio Cortinhas, “Público” (sem link)
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