sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

CITAÇÕES

 
Duas transformações revolucionaram desde então esta dualidade de modos de comunicação. 

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Supôs-se que ela [televisão] criaria majestaticamente os seus próprios públicos, tornando-se a forma dominante da gestão do senso comum e, portanto, alcandorando-se ao estatuto de fazedor de reis. Assim aconteceu.

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O crescimento da televisão, sob o controlo por grandes grupos mundiais, a que correspondeu a padronização dos seus conteúdos, confirmou este projeto.

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As técnicas da conformação social foram-se tornando mais sofisticadas.

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A intermediação formal — jornais, rádios e TV — tornou-se hegemónica e, em consequência não indesejada, ocupou o espaço político. 

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Este sucesso abriu a porta para a ascensão de bufões, uma nova “classe” de ícones (de Berlusconi a Trump).

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Deste modo, tem-se quebrado a vinculação a regras que prometiam a intermediação na esfera pública para ampliar o espaço democrático.

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Pelo contrário, se gestão de senso comum em modo de televisão obsessiva criou reis, descobrimos que são Frankensteins.

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É no segundo pilar da dualidade da comunicação na sociedade que a ­maior transformação tem vindo a ocorrer, com a absorção das redes pessoais de contacto pelas redes empresarializadas das maiores potências mundiais, as empresas da internet.

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A sua estratégia tem sido domesticar o senso comum.

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Quanto mais rede social, maior é o isolamento individual.

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O tambor das informações na socie­dade deixou de ser a intermediação profissional pelas empresas de comunicação e passou a ser a comunicação pelas empresas de redes. 

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Olhando para 50 anos atrás, quando a comunicação era a democracia contra a ditadura, o panorama inverteu-se: o novo modo da ressonância passou a ser a vida no capitalismo de vigilância.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Tão frágil era o seu poder que os militares [birmaneses] não aguentaram a humilhação de uma derrota copiosa nas eleições de 2020 e, alegando uma fraude em que ninguém acredita, intervieram, impondo uma nova ditadura dez anos depois de ter aceitado a abertura.

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Desde aí, e perante os protestos desafiadores na rua, os militares não se poupam nos esforços para aplacar a oposição nas ruas e nos gabinetes: mais de 16 mil presos e mais de 2300 mortos, entre eles 157 crianças.

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Num conjunto de processos judiciais [Aung San Suu Kyi] acabou por ser condenada a 33 anos de prisão, o que para alguém com 77 anos é quase como se fosse uma pena de prisão perpétua.

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A Junta Militar [birmanesa] tem garantido que a voz de Aung San Suu Kyi deixou de se ouvir, ao mantê-la incomunicável.

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Aung San Suu Kyi foi transferida em Junho da sua casa, onde cumpria prisão domiciliária, para uma prisão de Naypyidaw, a capital artificial construída pelos militares, onde foi colocada numa solitária, remetida a um permanente silêncio.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

É impossível não estabelecer paralelismos [entre os ataques à escola pública] com os ataques ao SNS.

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É a saúde da educação pública que está em causa, numa luta que promete fazer parar o país.

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Nunca a escola pública correu tantos perigos, nunca teve tantos algozes capacitados, ao virar da esquina do Parlamento, para a enfraquecer e destruir.

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É ao poder político que compete dar o sinal que entende a algumas das legítimas reivindicações dos professores e comunidade escolar.

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As legítimas greves no sector da educação devem ser proporcionais ao dano que, inevitavelmente, causarão a centenas de milhares de crianças e jovens.

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Décadas de subinvestimento nas escolas e nos seus profissionais, que culminam nos últimos anos de acrescidas dificuldades e congelamento do tempo de serviço e progressão nas carreiras, são verdades absolutas.

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Uma greve geral prolongada na educação pode ser dinamite no fim de um inverno rigoroso para o Governo. Competirá a António Costa perceber o momento.

Miguel Guedes, JN 

 

Entre os vencedores – os que enriqueceram, que ganham muito mais, que têm um património faustoso ou que atingiram o topo da carreira – a ilusão do mérito gera arrogância.

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Entre os vencidos – os que foram deixados para trás – a tirania do mérito gera humilhação e ressentimento.

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A avaliação do mérito dos docentes nas escolas é bem exemplificativa desta ilusão e tirania do mérito.

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Por causa de um sistema de quotas que “premeia”, quase aleatoriamente, apenas uma parte dos docentes e exclui milhares.

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A profissão docente tem perdido valor e reconhecimento público, desde o início deste século, em resultado de algumas (in)decisões políticas insensatas.

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Dos 120 mil docentes que existem em Portugal, cerca de 26 mil são contratados, têm uma média de 42 anos de idade, mais de metade com dez ou mais anos de serviço, auferem salários que não ultrapassarão os 1150 euros.

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A grande maioria dos que estão nos quadros do ME vive num permanente desassossego – está envelhecida (45% tem mais de 50 anos), é mal paga.

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A profissão docente é desgastante e deixou de ser atractiva.

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A falta de professores é, neste momento, o problema mais grave do sistema educativo em Portugal.

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Calcula-se que, no final do 1.º período lectivo, cerca de 80 mil alunos possam estar sem professor a uma ou mais disciplinas.

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O actual Ministro da Educação sabe disto. E sabe que só resolverá este problema com a valorização e dignificação da profissão docente e outras medidas.

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À precarização profissional (que se agravou com a actual crise económica) juntar-se-á a precarização ética e deontológica dos docentes.

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Com o novo regime de contratação/colocação os professores perderão autonomia e independência intelectual porque ficarão agrilhoados ao poder discricionário.

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[Os professores] são os responsáveis por reproduzir consciente e deliberadamente os valores, os conhecimentos e práticas sociais estruturantes de uma sociedade civilizada.

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Para tal, exige-se que seja assegurada a autonomia, a liberdade e independência intelectual dos docentes. 

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Só não vê quem não quer. O Ministro da Educação não vê ou não quer ver.

Sérgio Cortinhas, “Público” (sem link)


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