(…)
Apesar
de garantir, teoricamente, mais estabilidade do que a ‘geringonça’, é muito
mais instável.
(…)
Porque
a estabilidade política não depende de maiorias aritméticas, mas da
estabilidade social que elas ofereçam.
(…)
Perante
uma crise inflacionista e sem receitas diferentes da direita, qual é o
propósito de António Costa?
(…)
Ao
contrário do que acontecia na ‘geringonça’, de que era a alma, Pedro Nuno
Santos era um corpo estranho neste Governo.
(…)
Não
sai fortalecido e, longe do Governo, perde parte do poder que tem no PS.
(…)
Se [o
Governo] correr mal, e há tanto por onde correr mal, será o mais bem colocado
para assumir um caminho alternativo para os socialistas.
(…)
Há
cada vez menos entusiasmo na sua [de Costa] defesa.
(…)
É o
cansaço, é a arrogância, é o que quiserem.
(…)
E
defender o partido de casos quando falta uma causa desgasta a moral das tropas.
(…)
Não é
a primeira vez que o PS se verga aos dogmas económicos da direita, mas agora
fá-lo depois de um Governo popular.
(…)
António
Costa está fechado no seu núcleo cada vez mais apertado.
(…)
Fora
da política ninguém quer lá entrar [no Governo], dentro dela ninguém quer
entrar num Governo que se desfaz.
(…)
Porque
não há alternativa, porque as alternativas são demasiado assustadoras, porque o
Presidente o segura, Costa até se pode manter no poder mais quatro anos.
Duvido.
(…)
[A
maioria absoluta] foi determinada por uma conjuntura, não por uma vontade.
(…)
Não
foi o entusiasmo dos eleitores que nos trouxe aqui. Foi o medo.
(…)
Esta
maioria absoluta em plena crise internacional pode ser fatal para o PS.
(…)
Apesar
da inflação, da obsessão de Medina pelo corte à bruta do défice e da
instabilidade interna do Governo, o PSD tem dificuldade em ultrapassar a
barreira dos 30%.
(…)
O PSD
vai sinalizando casos, a extrema-direita vai ganhando com eles.
(…)
Quanto
à crise económica e social, que era onde podia disputar os votos ao PS, [Montenegro]
tem pouco a dizer.
(…)
Está à
espera que a crise bata mais forte para culpar as escolhas do PS e nunca dizer
quais seriam as suas.
(…)
Quem
fatura com os escândalos é a extrema-direita.
(…)
Como
ficou provado há um ano, a função corretiva de uma crise política depende da
existência de uma alternativa.
(…)
Sem
alternativa, a crise social manifesta-se em pequenos ou grandes casos,
distantes dos problemas das pessoas.
(…)
Portugal
pode encaminhar-se para a desestruturação do seu sistema partidário, com um
enfraquecimento dos dois principais campos políticos.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Se há
tema ambiental que traga consigo a desanimadora memória das suas repetições é o
das cheias em Lisboa.
(…)
Entretanto,
ciclos e contraciclos de soluções técnicas foram sendo propostos, mas sempre
interrompidos ou adiados.
(…)
Mas
nada disto servirá se não houver uma inversão na abusiva política imobiliária
da cidade.
(…)
A
ocupação da zona ribeirinha de Lisboa é um acumular de disparates que todos
estamos já a pagar e pagaremos mais no futuro.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
O lamaçal político que se vem formando na vida política portuguesa pode
provocar uma acelerada erosão da confiança dos portugueses no Governo e perigos
para a democracia.
(…)
[Se o PS] não for capaz de estancar a incompetência, a incúria e cegueira
que marcam vários planos da governação, o cheiro a traição política começará a
ser forte.
(…)
A Direita não tem um programa político
alternativo.
(…)
A aparente incapacidade da liderança do
PSD é uma decorrência dessa realidade e do jeito que lhes dá o pântano dos
"casos" políticos.
(…)
Uma solução política alternativa ao atual
Governo, por agora, só pode vir da Direita e nela estará seguramente a
extrema-direita, que tem sempre programa preparado: aniquilar o regime
democrático.
(…)
O que mais contribuiu para a formação da
maioria absoluta, conquistada pelo PS no ano passado, foi o objetivo de barrar
o caminho à Direita, em particular à extrema- -direita.
(…)
[A esmagadora maioria dos portugueses] fazia
um balanço positivo das políticas do Governo, que eram apresentadas como
políticas de Esquerda.
(…)
António Costa teve desprezo pelo espaço e
pelos fundamentais objetivos programáticos dos seus parceiros da
"geringonça", que claramente não eram empecilho a uma boa governação.
(…)
O neoliberalismo entranhou-se, vai
negando espaço à ética, apostando forte na judicialização da política e reclamando
a gestão do Estado com regras do privado.
A
tomada de posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um momento
significativo da vida política internacional, entre outras coisas pela representatividade
da sociedade brasileira.
(…)
Uma
tomada de posse é uma performance, uma metáfora sintetizadora de processos mais
complexos de passagem do poder para novas mãos, para um novo projeto coletivo.
(…)
E isso
é particularmente importante porque é indicativo de uma orientação política que
assume a diversidade do Brasil e se compromete “com os de baixo”.
(…)
A
representatividade étnico-racial nas eleições brasileiras não se limitou ao
ritual da tomada de posse, ela é parte integrante da composição dos ministros
do novo governo.
(…)
Aos
sectores representados pelos corpos que subiram a rampa do Palácio do Planalto
ao lado de Lula correspondem estruturas políticas efetivas, designadamente o
Ministério dos Povos Indígenas, Ministério da Igualdade Racial e o Ministério
das Mulheres.
(…)
Temos
de aguardar para ver os resultados, mas há coisas com que desde já poderíamos
aprender. Uma tem que ver com o não escamoteamento das questões raciais.
(…)
[É importante referir] a
capacidade de um partido que tem a sua origem no movimento sindical conseguir
aliar-se às forças vivas dos movimentos negros, das mulheres e LGBTQIA+ sem se perder nas discussões estafadas sobre a
preponderância da classe ou sobre as divisões “identitaristas”.
(…)
A legitimidade política exige sair do ciclo de fechamento sob
sectores privilegiados da sociedade.
Cristina Roldão, “Público” (sem link)
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