A Revista E do Expresso publicou este
sábado uma longa entrevista com a deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua,
da qual retirámos as seguintes afirmações:
Quem
me conhece sabe que há poucas coisas que me tiram mais do sério do que ficar à
espera de alguém.
É
preciso muita humildade na vida.
O
que é importante para mim, é participar no mundo.
Era
maria-rapaz porque cresci ao ar livre, no campo, e porque os meus pais sempre
foram descontraídos.
[Os
pais] sempre quiseram saber a opinião [das filhas].
A
história do assalto ao “Santa Maria” não é igual aos 12 e aos 19 anos,
conhecendo a história do país e a sua realidade política.
[Os
assaltantes do “Santa Maria”] mostraram que, perante a incapacidade de outros
furarem o regime, houve quem conseguisse fazê-lo.
A
minha relação com Francisco Louçã sempre foi muito equilibrada, de igual para
igual.
Quando
se chega ao Parlamento e se começa a dar a cara, a primeira coisa que faz
confusão nem é a quantidade de trabalho, que é grande, é o ritmo, que é
alucinante.
Todos
os deputados [do Bloco] trabalham muitíssimo, e só assim é possível.
Ninguém
a credita que um homem como Zeinal Bava não soubesse como é que as decisões
eram tomadas, tal como ninguém acredita que Ricardo Salgado não soubesse nada
do que se estava a passar.
O
que me é exigido em termos de razoabilidade e de calma não é exigido à maior
parte dos homens.
Para
mudá-lo [o mundo], temos de ter hegemonia, convencer as pessoas de que há um
projeto alternativo e ter poder de governar.
Sempre
achei que só era possível mudar a relação de poder na Europa havendo respeito
por um governo eleito e nunca pensei que esse respeito pudesse ser quebrado.
[Passos
Coelho] está de acordo com a imposição desta política de austeridade, que não serve
para sair da crise.
As
pessoas não têm noção de como é fácil, legítimo e aceitável fugir aos impostos,
nos grandes negócios, em Portugal e no mundo, nem da desigualdade que há entre
os impostos pagos por uma pessoa que ganha 1500 euros por mês e uma empresa que
ganha milhões.
[Há partidos] que olham para o país e só vêem negócios
e mercados.
A
Grécia deu uma lição de democracia à Europa e foi esmagada.
O
capitalismo tem uma vertiginosa tendência para destruir tudo por onde passa,
com a sua lógica de acumulação.
Depois
da crise temos um capitalismo ainda mais violento e agressivo, com
características mais autoritárias.
A
opção de crescimento tem de ser alterada.
Hoje,
o nosso objetivo de vida não pode ser apenas gerar, acumular riqueza. Mas criar
bem-estar.
Os
interesses financeiros são sempre interesses de curto prazo.
Na
lógica dos mercados, cada um age de acordo com o seu melhor interesse, e é por isso
que é preciso existir um Estado que pondere os elementos e decida sobre o bem
comum.
Na
Europa não há espaço para qualquer governo que não sirva os interesses
económicos do centro da Europa e dos mercados financeiros.
O
que a Grécia nos mostrou é que a União Europeia em que vivemos, dominada pelas instituições
que conhecemos, não tolera quem pensa de modo diferente e quem queira ter
políticas diferentes.
O
que existe é uma imposição de uma série de interesses.
Acho
que há um projeto político alternativo e que é possível de ser implementado. É o
projeto que o Bloco propõe e que o Syriza propõe, que é a reestruturação da
dívida, a reforma fiscal, o investimento público em atividades que seja úteis à
sociedade.
A
forma como as instituições europeias estão a lidar com a Grécia vai ser a médio
prazo a condenação da própria União Europeia.
O
que podemos fazer enquanto esquerda, com o que se passou na Grécia, é estarmos
preparados para ter de romper.
Na
História não há inevitabilidades.
O Bloco de Esquerda deve ser
a voz da alternativa.
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