domingo, 17 de setembro de 2017

CIMEIRA DO PLANO B: A ESQUERDA EUROPEIA CONTRA AS DESIGUALDADES E EM DEFESA DA ESCOLHA DEMOCRÁTICA DOS POVOS


Vivemos um momento em que o foco político dos portugueses se concentra nas eleições autárquicas. No entanto, como soe dizer-se há mais vida (política) para além destas eleições e o texto seguinte, assinado por Marisa Matias no Expresso de ontem comprova isso mesmo e vem, implicitamente, chamar a nossa atenção no sentido de não embandeirarmos em arco nem nos iludirmos demasiado com a ligeira melhoria das condições de vida dos portugueses, fruto das políticas do actual governo ancorado à esquerda. Foi graças à acção pressionante das forças políticas colocadas à esquerda do PS, nomeadamente o BE, na “geringonça” que, sem ser alterado o garrote da UE sobre o nosso país, se conseguiu fazer uma viragem na política de austeridade levada a cabo pelo Governo PSD/CDS. É bom termos bem assente que o PS a governar sozinho não alteraria substancialmente as políticas da anterior maioria de direita, tal como se pode verificar por essa Europa fora. É por isso que se constata com facilidade que na última década teve lugar um agravamento como nunca, das desigualdades já existentes.
A reunião de várias organizações de esquerda europeia que terá lugar em Lisboa no próximo mês de Outubro tem exactamente como finalidade a procura de novas soluções para a Europa, que respeitem a vontade democrática dos povos contra “o autoritarismo das instituições europeias”. É preciso um “Plano B”.
No final deste ano completa-se uma década da assinatura do Tratado de Lisboa. A burocracia europeia aproveitará a efeméride para celebrar uma década em que se aprofundou a lógica liberal e autoritária imposta por Maastricht, pela União Económica e Monetária ou, mais recentemente, pelo Tratado Orçamental. Veremos Merkel e Schäuble elogiar o fosso que crescentemente separa o centro europeu dos países do Sul. E veremos Juncker ficar dividido entre a proclamação das várias velocidades de uma Europa que caminha sempre no mesmo sentido ou a proclamação de uma só Europa, que deixa uns para trás em benefício de outros.
Aos povos da Europa, pelo contrário, caberá retirar as lições de uma década em que se agravaram como nunca as desigualdades que existem desde sempre. É também isso que procuro fazer, com as restrições e abreviações a que o espaço me obriga.
À crise europeia a que assistimos na última década, marcada pela incompatibilidade entre a economia punitiva determinada pelas regras do euro e a aspiração democrática dos povos europeus, juntaram-se duas outras: uma crise legitimidade das instituições europeias e uma crise humanitária com epicentro no Mediterrâneo.
De cada vez que os princípios do Tratado de Lisboa foram referendados, a democracia rejeitou o projeto liberal de “construção europeia” — como se viu, por exemplo, nos referendos britânico e holandês, ambos desrespeitados pelas forças liberais (PSD e CDS) e sociais-democratas (PS). E, se dúvidas restassem, o próprio Tratado de Lisboa é, em si mesmo, a consagração da ideia de que há países que valem mais do que os outros. Com as alterações introduzidas, na maioria das decisões tomadas pelos governos da União, bastam seis países para obter 70% da votação; restando aos restantes 22 apenas 30% do peso da decisão. Dito de outra forma, de cada vez que o primeiro-ministro português se senta à mesma mesa que Angela Merkel a sua posição vale sete vezes menos.
Pelo efeito conjugado das várias crises, a extrema-direita cresceu numa Europa dividida. O mercado único e a concorrência liberal passaram a ser o alfa e o ómega de Bruxelas, as forças de direita aplaudiram e a social-democracia anuiu. O resultado é uma extrema-direita em força a Leste, a Norte e no Centro (que serve de pretexto à máquina europeia para justificar o vergonhoso tratamento dos refugiados e os inaceitáveis acordos com a Turquia e a Líbia). E se tudo isto se passava lá fora, agora também em Portugal o discurso de extrema-direita entrou na campanha autárquica por via do apoio do PSD a uma candidatura que, numa das maiores autarquias do país, se afirma abertamente xenófoba e simpatizante de práticas como a pena de morte.
Perante os velhos problemas, a Europa precisa de novas soluções. Em outubro, na mesma semana em que os líderes europeus se reúnem em mais um Conselho Europeu, os partidos de esquerda, organizações sindicais e movimentos sociais de toda a Europa reúnem-se em Lisboa para mais uma cimeira do Plano B. A escolha é simples: entre o autoritarismo das instituições europeias e a escolha democrática dos povos, a exigência de uma política à esquerda tem de optar pela segunda.

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