O
texto seguinte, que transcrevemos do Público de hoje, constitui um artigo de
opinião assinado pelo advogado Domingos Lopes (DL) onde faz uma análise aos
resultados das eleições alemãs de há dois dias.
Ambos
os partidos da coligação (CDU/SPD) que governou a Alemanha nestes últimos 12
anos foram fortemente penalizados, com benefício para os liberais (à direita de
Merkel) e para a extrema-direita xenófoba e racista. DL refere as possíveis
causas da penalização que o eleitorado infligiu à coligação mas nós vamos aqui
deixar apenas a parte do texto que diz respeito ao SPD, por ser um exemplo
muito significativo para Portugal e para o PS – partido ideologicamente irmão
do SPD.
As
políticas que o PS levou a eleições em 2015, nomeadamente as que se referem ao
congelamento de pensões e facilitação de despedimentos, contrárias à sua matriz
ideológica, só poderiam conduzir a um descalabro eleitoral dos “socialistas”
portugueses, tal como tem acontecido a outros partidos irmãos por essa Europa, fora
que embarcaram nas políticas de direita. Isto só não aconteceu em Portugal graças
à fórmula governativa corporizada na “geringonça”, onde Bloco e PCP impuseram
um conjunto de medidas de recuperação de rendimentos que trouxeram uma notória
melhoria das condições de vida para a generalidade da população portuguesa, em
especial, a mais afectada pela política austeritária do governo PSD/CDS.
É
importante que os eleitores portugueses não esqueçam que a reversão (verificada
nestes últimos dois anos e meio) do garrote imposto pela direita até 2015 se
deve maioritariamente à acção de BE e PCP. Sem ela, teríamos apenas uma
continuidade das políticas impostas pela direita no anterior Governo e que
poderão regressar caso o PS venha a obter uma maioria absoluta em 2019.
A coligação cinzenta CDU/SPD (vira o
disco e toca o mesmo) tende a asfixiar a democracia enquanto terreno gerador de
alternativas. Essa política que antes de ser já o era cria o populismo de todos
os matizes ideológicos. Permitiu, neste caso, à extrema-direita apresentar-se
como oposição tendo em conta o colaboracionismo do SPD.
O resultado do SPD com o mínimo
histórico, tal como a CDU, é bem revelador do que significa um partido social
democrático juntar-se à direita para partilhar uma política que não é a sua,
melhor, que não devia ser sua, pois a razão de ser da social-democracia é a sua
oposição às políticas liberais de direita. A social-democracia, para cumprir o
seu papel de alternativa, deve combater a política de direita; ao coligar-se
com a direita, tende a diluir-se e a desaparecer.
Os que em Portugal, nomeadamente
Francisco Assis, vaticinavam uma desgraça para o PS devido à atual governação
estão com as orelhas a arder face às perspetivas eleitorais do PS e à anunciada
hecatombe do PSD. É interessante que o PSD, pregando o passado, ao contrário do
CDS, em certo sentido, aparece mais penalizado que o partido mais à direita. Ou
o PSD passou para a direita do CDS ou o líder do PSD assim guinou o partido.
Quando uma ideologia que fez um longo
percurso de oposição mais forte ou mais branda à direita abandona o seu
ideário, e abraça a política financeira dos mercados, com a fundamentação que
não há outra, a sua razão de ser deixa de existir. É a crise de todas as
tentativas de fazer dos trabalhistas, dos socialistas e dos sociais-democratas
os artífices ou os ajudantes da política neoliberal dominante na União Europa.
Os resultados estão à vista na França (o quase desaparecimento do PS), na
Espanha (o rombo no PSOE) e na Holanda. Ao contrário, o Partido Trabalhista
britânico, fazendo o partido regressar às origens com Corbyn na liderança,
aumentou a sua credibilidade e retirou-o do pântano para onde o guiou Blair, o
da cimeira da guerra.
Não deixa de ser curioso assinalar que
quer nos jornais, quer na rádio, quer na televisão, no panorama alemão o
partido Die Linke (a esquerda) é como se não existisse, apesar de ter subido
num contexto desfavorável.
Afinal, como se vê também na Alemanha, o
sistema de coligações é uma constante, ao contrário do pio do pio Cavaco; só
que desta vez o SPD, se continuasse de mão dada com a CDU, poderia ver
desaparecer o grande SPD do tempo de Willy Brandt, que há muito foi mandado às
urtigas por Gerard Schröder e seguintes.
Ao contrário do que defenderam certos
dirigentes alemães, há em Portugal exemplos a seguir. O PS virou para a
esquerda e os resultados estão à vista do ponto de vista social e económico.
Resta saber se o SPD, mesmo contra o desígnios de muitos dos seus dirigentes,
deixa de piscar à direita e guina à esquerda para forjar uma política diferente
para a Alemanha e para a União Europeia. O eleitorado de direita prefere a
direita para fazer a política de direita. Na terra da aspirina não há nada como
a da Bayer.
A junção dos Verdes e os Liberais com a
CDU não deve ter grande sucesso. Tudo parece indiciar que a política do centrão
habilmente conduzida por Merkel, que para ela atraiu, como sereia do mar do
Norte, o SPD, tenha fechado o círculo. A ver vamos como se vai posicionar o SPD
e o seu sentido de alianças para afirmar uma alternativa credível com o Die
Linke e os Verdes.
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