(…)
[Na cimeira anterior, número de delegados das empresas de
combustíveis fósseis] ultrapassava o de qualquer país africano, na cimeira
festejada por se realizar em África, e os representantes dos Emirados tinham
aumentado de 176 em Glasgow para 1070.
(…)
O seu sucesso foi coroado agora pela nomeação do sultão Al Jaber
para a presidência da conferência.
(…)
Esta decisão consagra um fracasso da ONU e a sua captura pelos
representantes diretos da indústria cuja poluição ameaça o planeta.
(…)
As consequências são devastadoras.
(…)
Al Jaber foi apresentado como um defensor da transição climática
[o que é completamente falso].
(…)
Al Jaber dirige a empresa nacional de energia, a Adnoc, e está a
aplicar o terceiro maior plano mundial de expansão da extração e produção de
combustíveis fósseis.
(…)
As críticas foram imediatas. Um grupo de representantes do
Parlamento Europeu e do Congresso dos EUA constatou que “a COP20 perdeu a
credibilidade”.
(…)
A resposta foi imediata, e um exército de perfis falsos e bots
lançou uma campanha de charme elogiando o sultão como “aliado” do ambiente.
(…)
Mais do que qualquer outro representante institucional mundial, o
secretário-geral da ONU, António Guterres, tem-se empenhado em denunciar a
inação e a mentira que a protege [a COP20].
(…)
Empenhou-se em que a organização [ONU] pressione os países e as
indústrias para as mudanças que devem ocorrer imediatamente, constatando que as
promessas não são cumpridas.
(…)
[Recordou] que o ritmo de aumento do nível médio das águas do mar
duplicou nos últimos 30 anos e que os oceanos estão mais quentes do que nunca.
(…)
Os sumidouros das emissões estão a ser destruídos com a
desflorestação e as emissões estão a aumentar, até se relançando o uso do
carvão.
(…)
A desertificação de partes da Europa ou África, o degelo polar ou
os fenómenos extremos, de que já temos tido sinais, são consequências
inevitáveis do aumento da temperatura.
(…)
Pelo menos por isso, a escolha do sultão Al Jaber para dirigir a
Cimeira da ONU pediria pelo menos a invenção de mentiras novas.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
A
diferença entre o salário correspondente a um diploma do ensino superior e o
salário correspondente à finalização do ensino secundário caiu para metade
entre 2011 e 2022.
(…)
[Quem possuir o ensino superior] acabará por
optar por ir trabalhar para outros países onde oferecem melhores condições
remuneratórias.
(…)
Que país teremos daqui a dez anos, se os mais
qualificados e mais preparados emigrarem?
(…)
Em
primeiro lugar, importa fazer a despistagem da formulação liberal deste
problema que aponta sempre para o excesso de carga fiscal que, supostamente,
afasta os jovens cérebros.
(…)
Mas nunca seria por aí [o
excesso de carga fiscal] que os
jovens se sentiriam aliciados a ficar.
(…)
O que nós temos é um problema de salários
baixos comparativamente com outros países da União Europeia.
(…)
[Os
jovens licenciados] são livres e têm direito a ser ambiciosos e a procurar as
melhores condições de vida possíveis. É o que estão a fazer.
(…)
Atenção que o mercado funciona sempre bem para
si mesmo.
(…)
O mercado prossegue lindamente a pagar salários
baixos e a expulsar licenciados do país.
(…)
[Poucos empresários reconhecem] que existe uma
relação entre essa escassez e os salários miseráveis que têm para oferecer.
(…)
Terão de ser o Estado e as políticas públicas a
ter um papel nesta crise.
(…)
Não
são as universidades que precisam de se adaptar ao mercado. Se as coisas não
estão bem, é ao nível do próprio mercado.
(…)
[O Estado pode intervir] aumentando os salários
na função pública para licenciados, mestrados e doutorados.
(…)
Não existe melhor remédio para travar o fluxo
de emigração do que aumentar os rendimentos.
(…)
O mercado funciona sempre muito bem, mas nunca
consegue resolver os problemas das pessoas.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
Nos anos 90, a proposta de
interditar os telemóveis mais simples nas escolas só estaria ao alcance da
estampa de um ditador.
(…)
Já à entrada da terceira
década deste século, a proposta de banir "smartphones" das escolas é
recebida com aplausos.
(…)
Como se a escola não
incorporasse a missão de ensinar a escolher pela urbanidade e equilíbrio e não
pela imposição.
(…)
Eis a escola a ir pelo
caminho mais fácil.
(…)
Eis o proibicionismo
educativo, em nome da incapacidade de ensinar a beleza e necessidade de um
mundo em mãos livres.
(…)
O entusiasmo proibicionista
parece comovente porque surge recheado de bons valores.
(…)
[A escola não] pode
escolher uma piedade quase cristã à base da agitação do crucifixo.
(…)
Em nome das melhores
intenções, não se podem cultivar os piores hábitos de imposição.
As
sociedades parecem lidar bem com os rankings porque, em geral, são simples e
proporcionam informação que, supostamente, é objetiva e útil.
(…)
[As
políticas meritocráticas] que predominam nas sociedades, têm contribuído para
pôr em causa princípios e valores fundamentais das democracias tais como a
justiça, o direito à educação, a solidariedade, o humanismo e a igualdade.
(…)
[A
meritocracia é] um obstáculo e não um caminho para a equidade e o seu discurso
legitima as desigualdades, considerando-as uma consequência normal das falhas
individuais.
(…)
Os
rankings são um meio algo perverso de legitimar as desigualdades, levando as
pessoas a pensar que elas são naturais e que só acontecem porque uns têm
aptidões e capacidades naturais e esforçam-se muito e outros não.
(…)
É o
triunfo da meritocracia, culpando as vítimas, que assim considera que as
desigualdades existentes à partida entre as pessoas e as instituições são
moralmente legitimadas.
(…)
Os
apologistas dos rankings e da meritocracia parecem ignorar que há uma miríade
de fatores sociais, económicos e culturais das famílias que estão fortemente
relacionados com as formas como os alunos se relacionam com a escola e as
aprendizagens e com as formas como gerem a sua vida académica.
(…)
O nível
socioeconómico e cultural das famílias tem efeitos muito significativos nos
percursos escolares dos alunos.
(…)
As
famílias das classes média e média-alta desenvolvem uma diversidade de
estratégias para que os seus filhos possam obter bons resultados escolares.
(…)
Os
rankings parecem ter vindo para ficar porque se considera que eles produzem
leituras credíveis das realidades das escolas, nomeadamente no que se refere à
qualidade do ensino que proporcionam.
(…)
Na verdade, eles ocultam o lado mais
humano das conquistas e sucessos das escolas e das respetivas comunidades.
(…)
Os
rankings fazem parte de uma forma de estar e de viver neste mundo que, como
vimos constatando, é absolutamente insustentável.
Domingos Fernandes, “Público” (sem link)
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