(…)
Tudo é
leve e, portanto, passa depressa.
(…)
O que
restou, no entanto, foi a pergunta mais difícil: e o “não passarão”, entoado em
tom heroico em comícios ainda há pouco, aliás até repetido no Parlamento como
um chamamento às armas.
(…)
Que é
feito dessa promessa garbosa de um levantamento antifascista, de uma
intransigência moralizante, de uma aliança progressista europeia.
(…)
Nada,
pois era o que se esperava.
(…)
Qual é
então a surpresa sobre a confraternização com Orbán? Nenhuma.
(…)
Para
esta política internacional não valem valores.
(…)
O que
“passa” e o que “não passa” não importa neste jogo de bancada.
(…)
Orbán
tem 17 anos de primeiro-ministro e domina a Hungria sem limitação à sua deriva
autoritária.
(…)
Putin,
que declara terçar contra a degradação homossexual do Ocidente, financia
partidos de extrema-direita onde pode.
(…)
[A
extrema-direita pode recuperar] presidência argentina, com a particularidade de
que o candidato seguinte é sempre mais estapafúrdio do que o anterior.
(…)
Trump
2 é pior do que Trump 1 e DeSantis é a sua caricatura.
(…)
Assim,
o “não passarão” teria bons argumentos: é preciso para salvaguardar e ampliar
direitos essenciais e essa política tem povo.
(…)
No
discurso [da extrema-direita] sobre as migrações e o medo do outro não há
novidade, foi assim desde sempre.
(…)
Mas a
incidência do ódio contra as mulheres tem contornos novos.
(…)
Elas,
entretanto, constitucionalizaram e normalizaram direitos e formas de igualdade
que passaram a fazer parte da cultura social.
(…)
[As
extrermas-direitas] não passarão se a maioria se erguer pelos fundamentos da igualdade
democrática.
(…)
A
hipótese de vitórias em grandes países europeus, além de Itália, (…), está,
portanto, a ser jogada nestes anos, não estando determinada.
(…)
No
entanto, o que se pode perguntar é qual é a razão para uma resistência tão
débil.
(…)
Pior
do que uma desilusão, [Macron, Scholz e Costa] são uma confirmação, cada
qual à sua maneira, da recusa de constituir um campo alternativo.
(…)
[Eles
pensam] que assim conseguem uma confiança da oligarquia, que os preferirá às
aventuras dos arruaceiros da extrema-direita.
(…)
É que
não há solução social que não seja mais exigente do que qualquer política
redistributiva do passado.
(…)
A
resposta aos problemas “estruturais” — energia, transportes, habitação, saúde
— exige levantar do chão os bens comuns como raiz da democracia.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
Há um
contributo que o Governo poderia perfeitamente dar para evitar que o debate
político e o espaço mediático estejam permanentemente tomados por lamentáveis
sobressaltos.
(…)
Ao ir
à bola com Viktor Orbán — o tirano húngaro (…) o nosso primeiro-ministro
protagonizou mais um desses episódios recorrentes.
(…)
Primeiro,
o nevoeiro. A viagem não estava na agenda oficial, embora tenha sido feita em
avião do Estado.
(…)
Costa
acabou por vir esclarecer que afinal tratara de aceitar um convite da UEFA.
Essa informação não muda nada.
(…)
A
questão é: o que levou Costa a aceitar este e a omitir a deslocação da sua
agenda oficial?
(…)
Sabe-se
apenas que o resultado é um momento politicamente censurável.
(…)
Que
Costa tenha de sentar-se à mesa do Conselho Europeu com este leal amigo de
Trump e Putin é uma obrigação institucional.
(…)
Que
agora decida ir ao convívio com Orbán (…), é ao mesmo tempo frívolo e infame.
(…)
[Há
ainda] a contradição absoluta entre o discurso inflamado do PS e do próprio
António Costa em torno das “linhas vermelhas” contra a extrema-direita em
Portugal.
(…)
A
sensação que fica só pode desgostar todas as pessoas democratas.
(…)
Os
valores democráticos merecem mais rigor na atuação dos responsáveis políticos.
José Soeiro, “Expresso” (sem link)
Stockton Rush, é o diretor executivo da empresa proprietária
do Titan e era ele que pilotava o submarino nesta expedição.
(…)
[Ele] tinha afirmado que a segurança pode ser puro
desperdício e que existe um limite para as preocupações com ela.
(…)
Acontece
que, quase em simultâneo com o desaparecimento deste submarino com cinco pessoas
a bordo, naufragou junto à Grécia uma traineira, vinda da Líbia, com 700
pessoas a bordo.
(…)
A grande maioria continua desaparecida e fala-se em 100
crianças entre elas.
(…)
A
quase simultaneidade das duas notícias permitiu estabelecer com clareza o
impiedoso contraste com que elas foram tratadas pela comunicação social e o do
interesse que mereceram da nossa parte.
(…)
Neste contraste está espelhada a
miséria coletiva que nos domina e que domina o mundo ocidental.
(…)
As autoridades gregas não deixam os sobreviventes falar com a
comunicação social e relatar o que viveram.
(…)
Há
também relatos de sobreviventes a nadarem para longe do auxílio da Guarda
Costeira, por acharam que estes guardas os iriam afogar.
(…)
As
buscas por sobreviventes não mereceram atenção nem o uso de meios sofisticados.
Sejamos claros: salvar estas pessoas e trazê-las para terra pode ser crime.
(…)
As
vítimas e os sobreviventes do naufrágio de Pylos não reúnem os requisitos que
prendem as televisões e que comovem a maioria dos portugueses. Ficou à vista.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
À confirmação da morte dos cinco ocupantes do Titan no
Atlântico Norte, contrapõe-se o desaparecimento recente de mais de 500
migrantes no mar Mediterrâneo que, neste último caso, se soma às 21 mil mortes
e desaparecimentos desde 2014.
(…)
Não há parentes pobres na morte, mesmo quando a visibilidade
e interesse da opinião pública se dirigem mais para o episódio e menos para a
História.
(…)
A utilização de veículos subaquáticos operados remotamente
para inspeccionar o fundo do mar, denominados ROV, convocaram três países e um
dispendioso conjunto de meios, enquanto que aos migrantes do Mediterrâneo
entregam-se simples buscas à superfície.
(…)
Esta esquadria de discrepância não pode servir para
fundamentar senão o desinteresse pelas causas e pelas motivações.
(…)
Aos migrantes sobreviventes do Mediterrâneo, a Grécia impõe a
ditadura do silêncio.
(…)
Apesar dos protestos da comunidade civil, a guarda costeira
grega não se desvia um milímetro de eventual grau de culpa.
(…)
A dimensão da morte não se pode ligar aos números, mas sim às
causas que lhe dão vida.
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