(…)
Há uma
violência simbólica e verbal organizada que começa a fazer da exceção regra.
(…)
Não
interessa se os cartazes foram desenhados para ser racistas.
(…)
O
racismo não tem consciência de si mesmo.
(…)
O mais
importante foi assinalado pelo cartoonista António: a ausência de conteúdo para
lá do insulto.
(…)
Os que
exigem “respeito” e garantem que quando lutam também ensinam justificam os
excessos com a indignação e o cansaço.
(…)
[A
autoridade do professor] não é garantida por qualquer regulamento, mas pela
forma como a sociedade vê a classe.
(…)
Assistimos,
nas últimas décadas, à degradação do estatuto social do professor.
(…)
O
poder político sentiu-se à vontade para os transformar em tarefeiros
burocráticos e os desrespeitar publicamente.
(…)
Parte
da revolta dos professores resulta de perdas materiais, outra da perda de
estatuto.
(…)
Mas
estes e outros episódios só contribuem para a espiral de depreciação do seu
poder simbólico.
(…)
Tirando
o que dificulte a criação de um quadro estável nas escolas, em que elas tenham
uma palavra a dizer, os professores têm razão na sua luta.
(…)
A luta
não é para castigar, é para ter ganhos.
(…)
Perante
um novo concorrente [o STOP], os sindicatos [dos professores] entraram numa
espiral de agressividade em que ninguém quer ficar atrás.
(…)
Assistimos
à desinstitucionalização de tudo.
(…)
Uma
degradação do espaço público que alguns erradamente julgam ser sinónimo da sua
democratização, como se a democracia não fosse, pelo contrário, um conjunto
complexo de regras coletivamente aceites.
(…)
Já
quase ninguém é radical, no sentido justo do termo.
(…)
A
política uniformizou-se numa TINA [There Is No Alternative] indiscutível que
nos impede de imaginar outro mundo ou um país que pudesse fazer escolhas
diferentes numa UE que só deixa espaço para a gestão do que existe.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
O deslumbramento com a chamada “transição digital” faz muito
mais estragos no saber do que se imagina.
(…)
[Em
Portugal] um dos locais mais perigosos para este deslumbramento [com a “transição
digital] é o Ministério da Educação, com os estragos de vento em popa.
(…)
Sim,
está muita coisa na Internet, mas não só não está “tudo” como muitas vezes o
que está é incorrecto, falso e enviesado.
(…)
Não faltam exemplos da necessidade das enciclopédias em papel.
(…)
Outro aspecto de que ninguém cuida é a qualidade literária,
científica ou ensaística que falta na Internet.
(…)
A Wikipedia parte de uma ideia original e interessante, que tem o pequeno
problema de ser falsa.
(…)
Em muitas universidades, a Wikipedia não pode ser citada em trabalhos académicos.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Sem dúvida, temos consciência da enorme
fragilidade que tem vindo a ser demonstrada pelo nosso
sistema educativo.
(…)
Poderemos afirmar que os profissionais de educação
continuaram a priorizar, acima de tudo, o sucesso dos seus alunos.
(…)
A
publicação dos rankings nesta altura do ano constitui, sem dúvida alguma, um
elemento de publicidade gratuita para muitos estabelecimentos de ensino.
(…)
Os
rankings colocam sempre as escolas, públicas e privadas, em comparação e, desde
logo, tentam comparar os resultados independentemente da sua diversidade, seja
ela nacional, regional, física ou humana.
(…)
[Dois
anos após a pandemia tem-se] a certeza que houve crianças e jovens claramente
prejudicados porque vivem em regiões economicamente desfavorecidas ou provêm de
famílias igualmente desfavorecidas.
(…)
Que informações nos dão os rankings?
(…)
[O
espírito dos rankings} está nos antípodas do que é a filosofia subjacente ao
perfil do aluno à saída do secundário e dão uma imagem redutora das escolas, atendendo apenas aos resultados dos exames e não a
projetos educativos que, em muitos casos são de excelência.
(…)
Por
outro lado, a escola pública é inclusiva, dá resposta a imperativos
constitucionais fundamentais como a obrigatoriedade e a equidade e valoriza
claramente a formação global e equilibrada dos alunos independentemente da sua
proveniência social, regional ou cultural.
(…)
Um
novo modelo de acesso ao ensino superior, absolutamente necessário no nosso
país, permitirá diluir diferenças e poderá garantir uma formação mais equilibrada
e diversificada dos jovens.
(…)
De facto, há todo um país condenado a ocupar os piores
lugares do ranking desde que estes existem. Uma espécie de determinismo
insano para o qual parece não haver solução.
(…)
Por
mais que as escolas diversifiquem estratégias ou implementem percursos
alternativos, enquanto não se investir a montante na melhoria das condições de
vida, através da criação de emprego ou o incentivo à fixação, pouco mudará.
(…)
Resta a providencial estoicidade dos atores educativos que
não aceitam esta pena de Sísifo a que parecem terem sido condenados.
(…)
Em
todas as abordagens que foram feitas ao longo do ano, o foco foi sempre o
problema. O foco foi a fragilidade e a precariedade.
Manuel Pereira, “Público” (sem link)
Para se compreender o conjunto do sistema de emprego e das remunerações
salariais que lhe estão associadas, é indispensável uma análise atenta ao
padrão de especialização da nossa economia.
(…)
A diminuição dos salários reais e da
diferença salarial entre jovens com ensino superior e com ensino secundário, a
falta de literacia digital e a não evolução tecnológica das empresas, e o
"desajustamento" da Escola, foram dos tópicos mais comentados [relativamente
a um relatório divulgado pela Fundação José Neves].
(…)
Num ano, tivemos 105 mil jovens com
licenciatura ou mais, que emigraram.
(…)
Eles dispõem de preparação e
conhecimentos digitais, mas foram "exportados" porque se
"desajustam" do emprego disponível no país.
(…)
Estamos prisioneiros do enorme peso de
atividades de baixo valor acrescentado.
(…)
Temos um baixo nível de formação de
empresários e discursos pacóvios que "promovem" os trabalhadores a
colaboradores, para fugirem à fixação dos seus direitos e deveres.
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