(…)
É fora
da política que estão os sinais do seu futuro.
(…)
A
política que temos tende a retratar, como uma fotografia, o que já deixou de
ser.
(…)
[Cristina
Ferreira] esgota a lotação de pavilhões onde cabem milhares de pessoas
dispostas a pagar para tocarem no seu sucesso.
(…)
No
essencial, é uma importação do que existe há décadas nos EUA, onde o discurso
motivacional faz as vezes da proteção social.
(…)
Pode-se
pensar que a fé destas pessoas é em Cristina Ferreira. Não me parece que
haja ali idolatria
(…)
Cristina
será o pastor que dirige a liturgia laica do sucesso.
(…)
[Ela] é
a esperança de que o paraíso exista na terra, dependendo exclusivamente da
vontade de cada um.
(…)
Ao partilhar
o ressentimento descabido numa mulher que nada em dinheiro e em poder, Cristina
cria um laço com quem sente que merecia mais do que tem.
(…)
A fé
no mérito é, como todas as religiões dominantes, a fé do poder que ela serve.
(…)
A
desigualdade é um obstáculo para ser superado por cada um de nós, não para pôr
em causa.
(…)
O
“sonho americano”, a popularização ideológica de uma mentira (os EUA são dos
países com menor mobilidade social no ocidente), é tanto mais necessário quanto
maior é a desigualdade.
(…)
A fé
que nos promete felicidade noutra vida é tão mais necessária quanto maior é a
miséria nesta vida.
(…)
[Cristina]
mostra o milagre aos céticos.
(…)
Tudo
medido: do sinal de aprovação divina da riqueza e ao esforço a que ele está
associado.
(…)
É
sabido que Cristina acalenta o sonho de ser Presidente.
(…)
A
soberba de quem nunca expressou uma posição política querer ocupar o mais alto
cargo político tenta todos os vaidosos.
(…)
[Cristina
pode derrotar-se em combate] até ao dia em que esses códigos [da política]
deixarem de existir.
(…)
A
perda de poder do Estado, a globalização económica, a crise de todas as
instâncias mediadoras e a atomização da sociedade não estão a destruir apenas
as democracias. Estão a destruir a política.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Toda a
gente sabe que não tenho a mínima transigência face à responsabilidade
criminosa de Putin e da Federação Russa na invasão da Ucrânia.
(…)
Para
achar isto tudo, não preciso de considerar a Ucrânia um farol da democracia,
nem a sua história recente exemplar, nem aceitar a corrupção endémica, nem
muitos aspectos de condução da guerra que incluem também crimes de guerra e
perseguições.
(…)
Todos os que desejam a paz sem aspas sabem que a Ucrânia não
pode perder esta guerra.
(…)
Uma coisa são as sanções económicas cujo objectivo é travar o
esforço de guerra russo.
(…)
Outra, a proibição de canais informativos russos e as
restrições aos meios de comunicação russos (…) é uma afronta a um
direito de liberdade de informação muito
semelhante ao que Putin faz na Rússia.
(…)
Outra
coisa é [as comunidades ucranianas que vivem em países europeus] quererem
nesses países replicar as medidas de guerra ucranianas, que podem ser
explicadas pela situação de guerra, mas são más para a Ucrânia e inaceitáveis
ao serem replicadas nas democracias ocidentais.
(…)
Os ataques à cultura russa, aos seus grandes escritores, com
o derrube de monumentos e estátuas, são condenáveis.
(…)
A cultura russa (…) é tão ocidental como o “Ocidente” que os
teóricos de Putin esconjuram, ou os fundamentalistas ucranianos.
(…)
O caso
mais absurdo desta fronda anti-russa, que leva o anti-“russismo” da guerra para
onde não deve estar, foi o afastamento sem audição, nem próprio processo, do
professor de Cultura Russa da Universidade de Coimbra Vladimir Pliassov,
baseado em acusações de ucranianos ampliadas pela irresponsabilidade
jornalística.
(…)
Quanto a fazer propaganda política, se fosse um crime
susceptível de punição com expulsão, deixaria muitas universidades portuguesas
vazias.
(…)
Num país democrático, que está ao lado da Ucrânia contra a
Federação Russa, as coisas não se fazem assim.
(…)
Respeitemos
a democracia e defendamos a liberdade de expressão, que, como de costume, só
tem sentido quando é para o “outro”, não para nos vermos ao espelho.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
As desigualdades sociais estão a armadilhar crescentemente o
desenvolvimento humano, o progresso da sociedade e a democracia.
(…)
Trata-se de um enorme problema no plano
global e, muito concretamente, no nosso país.
(…)
Hoje, nesta matéria como noutras, a
ilusão de uma alta especialização constitui, amiúde, a outra face do incremento
da ignorância.
(…)
É imprescindível uma visão global sobre
as desigualdades sociais em todas as suas áreas e na sua imensa imbricação.
(…)
Confirma-se que o mercado de trabalho (e
o trabalho não é uma mercadoria) é uma área crucial na formação das
desigualdades e, por outro lado, tem conexão profunda com desigualdades em
todas as outras áreas.
(…)
No campo da fiscalidade, em que no senso
comum se está a consolidar a ideia de que todos pagam impostos a mais, o que
temos é uma subestimada desigualdade em sede de IRS, e uma desigualdade ainda
mais profunda na distribuição da riqueza pelas famílias.
(…)
As desigualdades sociais são
multidimensionais e cumulativas.
Podemos
considerar que a responsabilidade do viés colonial dos manuais escolares é dos
dois grupos que dominam quase por completo o mercado dos manuais escolares – o
grupo Leya e a Porto Editora.
(…)
Podemos também salientar que escolas e famílias, salvo
algumas exceções, parecem pouco preocupadas com estas questões.
(…)
Contudo,
em última análise, a responsabilidade é do Ministério da Educação, seja pelo
seu papel na regulação dos manuais, seja por ser a entidade responsável pela
escola pública e o que nela se passa.
(…)
O ME tem optado por uma abordagem passiva, deixando o assunto
na mão invisível do mercado.
(…)
Onde
estão as ações de sanção do racismo nos manuais? Ou será que dizer “na África
Negra e no Brasil viviam povos muito atrasados” não é uma afirmação racista?
Cristina Roldão, “Público” (sem link)
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