quarta-feira, 14 de junho de 2023

CITAÇÕES À QUARTA (57)

 
Foi a pandemia que exponenciou o fenómeno em várias profissões, mas o teletrabalho veio para ficar. 

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No primeiro trimestre de 2023, mais de 800 mil trabalhadores faziam trabalho remoto.

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O que motivou a nova lei de 2022 foi a percepção desta mudança em curso e a consciência do quanto a lei que havia era incipiente e minimalista na proteção dos trabalhadores. 

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Consagraram-se nela bons princípios.

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E enfrentaram-se novas formas de exploração.

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É certo que os mecanismos para garantir estes direitos precisavam de clarificação. 

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Por isso se avançou, no final do ano passado, com uma nova clarificação. 

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Duas propostas do Bloco foram então aprovadas, integrando a lei laboral desde o passado dia 1 de maio.

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Só que apesar de a nova lei ter sido aprovada pelo parlamento, promulgada pelo presidente e celebrada pelo Governo no último mês e meio, este continua a não publicar a portaria.

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Mais uma vez, bons princípios legais esvaem-se totalmente na ausência de regulamentação.

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Tem sido, infelizmente, uma forma frequente de boicote a inúmeros diplomas. 

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Neste caso estamos perante um duplo boicote. Sem portaria, a maioria das empresas privadas fazem um compasso de espera e têm uma desculpa para não cumprir a lei. 

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No setor público, onde existem 21 mil funcionários em teletrabalho, não há um único que esteja a receber a compensação que a lei estabelece. 

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O que pode explicar uma sabotagem feita com tanta desfaçatez?

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É que a partir do momento em que fixar um valor de isenção, o governo não terá como escapar a pagá-lo aos seus funcionários.

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O teleboicote é, assim, uma espécie de veto de gaveta a um preceito legal justo.

José Soeiro, “Expresso” online

 

Em Macau e Hong Kong, como na China, as autoridades já não se bastam em governar o povo, visam também governar a História, e por isso decidiram, em uníssono, que não existiu um massacre na Praça de Tiananmen.

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Ter-se-á tratado de uma ilusão colectiva que infectou testemunhas, historiadores e máquinas fotográficas, ilusão que compete à polícia prevenir, algemando, e aos tribunais sancionar, sob a forma de sentença.

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Que nome se dá em Ciência Política a um regime cujas autoridades se atribuem a si mesmas jurisdição sobre a História.

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As autocracias expropriam os lugares públicos, privatizam-nos em favor do regime, colocando fechaduras entre as pedras da calçada, obrigando-nos a mostrar bilhetes de identidade, abrir malas e despir casacos como se a rua fosse a casa doutrem, a casa deles.

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Se usar [em Macau] a palavra “massacre” passara, de permitido e lícito, a proibido, primeiro, e difamatório, depois, tal luxo foi recentemente elevado a crime contra a segurança nacional.

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A liberdade de expressão, essa, foi promovida a abstracção.

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Hoje, [a Justiça] vai estando crescentemente ao serviço de um ente colectivo a que chamam “bem comum”, um “comum” que não é o “nosso”, que é “deles”, dos donos desse desígnio.

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A China obrigou-se perante Portugal e Portugal obrigou-se — jurídica e eticamente — perante nós a que, em matéria de direitos e liberdades, viver-se-ia em Macau de modo similar ao que se vive em Portugal e na UE.

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Tal devaneio esfumou-se e o dia 4 de Junho deste ano, em Macau e Hong Kong, comprova-o.

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Em 4 de Junho de 1989 houve um massacre na Praça de Tiananmen. 

Jorge Meneses, “Público” (sem link)

 

Apenas três países na Europa ainda autorizam a esterilização em menores, o caso do nosso silencioso Portugal.

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A esterilização forçada é uma prática eugénica.

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Sabemos e indignámo-nos com a implementação das políticas eugénicas do regime da Alemanha nazi de Adolf Hitler, e do seu programa de “higiene racial” que incluía a esterilização forçada de indivíduos considerados “geneticamente impróprios” e o extermínio de milhões.

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A crença em raças superiores, ou geneticamente aptas, em oposição às consideradas inferiores é um pensamento eugénico, que dá base ideológica ao desejo de eliminar grupos específicos e justifica e facilita acções genocidas, tais como a prática deliberada da esterilização forçada.

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Chegam-nos relatos de casos onde a pessoa esterilizada não foi informada da cirurgia.

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Em 2016, instituições identificadas pressionavam mulheres com deficiência a serem esterilizadas, e não temos informação se foram investigadas ou fechadas.

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O pedido de consentimento tem de ser obtido por processos específicos para cada deficiência, por haver necessidades específicas e diferentes para cada dificuldade.

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Sem uma adaptação do procedimento de pedido de consentimento, este pode ser adquirido de forma forçosa ou indevida.

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Muitas das pessoas esterilizadas não sabem que de facto foram esterilizadas.

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Portugal é um dos estados membros que ainda não foi claro na sua posição sobre este assunto.

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Mesmo que Portugal decida que está na altura de mudar, criminalizar vai ser apenas o primeiro passo.

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Precisamos de saber o número total das pessoas que foram esterilizadas e garantir que são informadas e sabem os seus direitos.

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A esterilização de pessoas com deficiência vai contra a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência e a Convenção de Istambul.

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Agora resta a pergunta: os portugueses vão continuar a compactuar com a eugenia, ou vamos quebrar o silêncio?

Mayne Benedetto, Rita Serra e Sara Rocha, “Público” (sem link)

 

A obra de Marguerite Porete, apesar de em grande parte destruída durante a Inquisição, sobreviveu graças aos muitos manuscritos e cópias em diferentes línguas, como o latim e o inglês, asseguradas pelo movimento das mulheres beguinas, do qual Marguerite Porete fazia parte.

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As beguinas, mulheres cultas que trabalhavam como médicas, enfermeiras, professoras, mas também mulheres humildes que trabalhavam como comerciantes, tecelãs, artesãs ou serviçais, surtiam proveito próprio o qual faziam reverter para o apoio dos mais pobre e carenciados; podiam escolher dedicar-se a Deus, podiam escolher casar-se e viver em matrimónio, mas também podiam escolher ser independentes.

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Como não pertenciam a nenhuma autoridade eclesiástica, as beguinas não viviam sob as regras e as normas do clero, mas segundo os seus próprios princípios.

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Estas ações prementemente feministas culminam com a pressão exercida também pelo monarca francês na elaboração de um cânone pelo Concílio de Viena que condena, por heresia, o movimento das beguinas.

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Por estas mulheres que já no século XII incorporavam os ideais feministas que nos dias de hoje ainda não conseguimos ver postulados, levantemo-nos apressadamente para receber um filho do movimento feminista, o Papa Francisco.

Ulika da Paixão Franco, “Público” (sem link)


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