(…)
Metade
por atrasos nos esforços de salvamento ou pela ausência de qualquer missão de
salvamento.
(…)
Uma
pequena parte dos meios despendidos com o “Titan” salvariam centenas destas
vidas.
(…)
Uns
pagaram €230 mil para acrescentarem risco às suas vidas confortáveis, outros
empenharam aldeias inteiras para fugirem ao risco das suas vidas precárias.
(…)
Já dos
mais de 700 que naufragaram, há uma semana, a 80 quilómetros do Peloponeso (…),
sabemos que apenas 100 foram resgatados.
(…)
Dos
que morreram, só sabemos que se apinhavam num barco com 20 a 30 metros de
comprimento.
(…)
Aos
que sobreviveram, o Governo grego tenta impor o silêncio, talvez para não
confirmarmos a estratégia europeia de pouco fazer para salvar vidas.
(…)
O
cemitério em que se transformou o Mediterrâneo é a muralha que nos protege
enquanto acompanhamos, angustiados, o destino de cinco milionários.
(…)
A
invisibilidade protege-nos da humanidade de 26 mil cadáveres.
(…)
Imaginem
como viveríamos se fossem, aos nossos olhos e nas nossas consciências, tão
humanos, tão individualmente humanos, com os cinco aventureiros do “Titan”.
(…)
Sem
vermos os escravizados das estufas de Odemira, das amêijoas de Alcochete ou do
incêndio na Mouraria poderíamos acreditar que recebemos bem os estrangeiros.
(…)
Que
percentagem teria o Chega se fôssemos um país realmente cosmopolita, como a
França, o Reino Unido ou a Alemanha?
(…)
O
segredo para alimentarmos a fantasia da nossa tolerância é manter os outros
invisíveis para não vermos como os tratamos.
(…)
Maravilhados
com a nossa própria solidariedade, abrimos as portas aos brancos e loiros que
vieram da Ucrânia.
(…)
[O
segredo para acreditarmos na superioridade dos “valores europeus”] é não
vermos os corpos das crianças que fugiam à fome e à guerra enquanto nos angustiamos
com cinco milionários que buscaram a aventura.
(…)
O
segredo [da discriminação] é a invisibilidade do outro.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Esta semana, tivemos mais um exemplo, em torno das condições
da atribuição de subsídio ao pagamento de rendas das casas.
(…)
Como diz o povo, quem se lixa é o mexilhão, sempre convocado
para pagar os custos das “asneiras” da gestão, seja ela pública ou privada.
(…)
Na Administração Pública, a percentagem de trabalhadores com
licenciatura ou mais é incomparavelmente maior que no privado, dado o papel do
Estado na garantia de direitos e serviços fundamentais.
(…)
A diferença salarial entre os salários praticados nos dois
setores (nos seus globais) é hoje “menor que no passado”, mesmo para o conjunto
dos que possuem licenciatura ou mais.
(…)
No caso dos “licenciados no início de carreira, no período
recente” verifica-se erosão total da diferença.
(…)
Existem dados que provam um crescimento acelerado do número
de trabalhadores, com licenciatura ou mais, em trabalhos não qualificados no
setor privado e recebendo o salário mínimo.
(…)
O setor privado fica, assim, mal na fotografia: anda muito
pouco à procura de “talento”.
(…)
[Os salário do setor público] agora estão a crescer menos que
no privado.
(…)
Temos uma harmonização de salários entre os dois setores
feita em retrocesso e inserida numa política de desvalorização salarial e das
profissões.
(…)
Neste processo, o Governo assume, tristemente, o papel de
vanguarda.
Há-de
haver uma altura em que este governo do PS seja substituído por um governo do
PSD, muito provavelmente aliado à IL e com qualquer forma de acordo com o
Chega.
(…)
A comunicação social permanecerá politizada e persecutória
como é hoje, misturando casos sérios com trivialidades.
(…)
Continuando a não haver escrutínio no sentido jornalístico da
palavra, mas secções de escândalos, misturando tudo.
(…)
E,
convém não esquecer, protegendo pelo silêncio quem querem proteger, seja para
manter o alvo político, seja porque são dos “nossos”.
(…)
O
Ministério Público continuará a actuar como faz hoje, noticiando com grande
celeridade que abriu um inquérito sobre determinada pessoa ou acção, mesmo
quando sabe que não tem qualquer fundamento legal para a penalizar.
(…)
Se esta “herança” permanecer intacta, nenhum governo
sobrevive sem ter, ou grandes poderes, ou grandes protecções.
(…)
As
leis e práticas referidas vão continuar, mas deixarão de ser um escândalo, a
comunicação social, se se mantiver a politização actual à direita, vai respirar
de enorme alívio porque “conseguiu” e vai proteger os seus “seus”.
(…)
O PS e
a esquerda farão então o que a oposição faz hoje, mas sem os mesmos meios dado
que não têm o aparelho de propaganda jornalístico-político que está hoje
montado, e muito menos a sua agressividade.
(…)
Terão a tarefa facilitada na substância, mas fraca no
altifalante.
(…)
O
fundo populista vai continuar em crescendo, mas o populismo pelo seu conteúdo
antidemocrático não “come” da mesma maneira o mesmo alimento.
(…)
Haverá gente que cuidará disso, e são bons nessa gestão da
fúria do escândalo.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
O
eurodeputado Pietro Bartolo tentou fazer passar no Parlamento Europeu (PE), no
princípio desta legislatura, uma resolução para criar um serviço de busca e
salvamento europeu, mas, estranhamente, a proposta acabou chumbada por dois
votos.
(…)
O
segundo pior naufrágio de migrantes na história recente do Mediterrâneo, em que
terão morrido mais de 500 pessoas, grande parte delas mulheres e crianças, já
foi, entretanto, abafado mediaticamente pela caça ao submarino de turismo para
ricos que desapareceu no Atlântico Norte.
(…)
É
pouco provável que o seu impacto venha a alterar a política europeia em relação
aos desesperados que arriscam a vida para chegar a um qualquer bom porto que os
receba.
(…)
O que
Bruxelas parece desejar mesmo é que a questão desapareça por si só ou que as
embarcações dos traficantes de seres humanos sejam condenadas.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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