sexta-feira, 9 de junho de 2023

CITAÇÕES

 
Num raro arroubo doutrinário, o primeiro-ministro acusou há uns dias um seu aliado de ser “populista”.

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A partir dessa deixa, o Governo repetiu o refrão, tudo na oposição é “populista”.

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[Por exemplo] não gostam do favor à banca nos Certificados de Aforro? Populismo.

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Onde aparece reclamando algum conteúdo, é frequentemente tão ambígua que confunde em vez de esclarecer.

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O ataque ao populismo é uma síndrome e não uma doutrina.

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De facto, o termo tem sido usado para classificar movimentos historicamente divergentes.

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Seriam populistas [por exemplo] o peronismo e o castrismo, no sentido em que ambos usariam uma relação direta entre o líder e o povo.

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Nuns casos são partidos de base popular, mobilizada contra as elites, noutros são partidos incrustados no aparelho de Estado [por exemplo].

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É uma designação adversarial que, portanto, esclarece mais sobre quem designa do que sobre o seu objeto.

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No mundo do uso intensivo da comunicação, esta acusação é usada para preencher o vácuo da política. 

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É uma estratégia de nevoeiro.

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Os únicos regimes populistas triunfantes na Europa, os fascismos (…) existiram em condições específicas e com discursos distintos dos dos seus longínquos herdeiros.

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A generalização do termo “populista” é historicamente vazia e tende a ser politicamente desajustada.

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À direita, há populismos: Ventura faz-se aclamar como o representante de Deus na política e mobiliza o aparelho da devoção pelo chefe, para destroçar as outras formas de representação. É o populismo puro.

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Na esquerda, raros serão os que se afirmam populistas.

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Nenhuma política se pode construir na base de uma identificação mágica, muito menos se for uma promessa de vencer um conflito sem conflito. 

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Assim sendo, o primeiro-ministro fala de quase ninguém para acusar toda a gente. 

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E, ao mesmo tempo, paradoxo dos tempos, é o PS que hoje mais se empenha em bloquear a comissão de inquérito.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Finalmente Club, conhecido estabelecimento gay de Lisboa, está a organizar uma festa de orgulho israelita.

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Já este ano, a comissão organizadora da Marcha do Orgulho LGBT+ de Lisboa teve de deixar explícito não aceitar a participação da Embaixada de Israel.

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[Podemos] perceber que Israel usa a causa como plataforma de lavagem da sua imagem, ou seja, faz pinkwashing.

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A situação merece atenção e, sem dúvida, reprovação e denúncia.

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Acabam por repudiar a ajuda.

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As feministas não são indiferentes à luta antirracista e as pessoas LGBT não podem certamente ser indiferentes à opressão do povo palestiniano.

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Israel espera da comunidade LGBTQIA+ que dê uma ajudinha a ocultar a violação sistemática de violações de direitos humanos.

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A defesa de uma causa progressista representa um avanço moral e não pode coexistir com o desprezo de outros direitos básicos e elementares.

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Diria que os que criticam o politicamente correto são precisamente os mais permeáveis ao aproveitamento que Israel tenta fazer de uma causa.

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A animosidade contra o colonialismo ocidental já tende a confundir a defesa das causas progressistas – e sobretudo a causa LGBT – com a luta contra o colonialismo.

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é precisamente aí que Israel joga ao pretender afirmar-se como fazendo parte de uma cultura de valores ocidentais ao mesmo tempo que coloniza e oprime um país.

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Reparem que, ao mesmo tempo que faz isto, Israel mantém os palestinianos a viver em condições de pobreza e numa situação de permanente conflito

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as autoridades palestinianas deverão estar a fazer o caminho inverso: o de não distinguir a luta anticolonialista da luta contra os direitos das pessoas gay.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

Em 2015, após um longo impasse de negociações, finalmente (quase) todos os países do mundo harmonizaram as suas políticas e assinaram o Acordo de Paris para garantir um futuro climático seguro no planeta.

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Pela primeira vez, ambos os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento comprometeram-se a estabelecer metas climáticas para reduzirem as suas emissões de gases de efeito de estufa (GEE).

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[Mais de 60 países] comprometeram-se em como as suas emissões líquidas seriam nulas até meio deste século.

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Em 2019, fomos um dos primeiros países a anunciar um roteiro de neutralidade carbónica para 2050.

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Como acreditar que um determinado país irá cumprir as suas promessas de neutralidade climática, se na última década as suas emissões de GEE não pararam de aumentar.

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Como cumprir um compromisso de neutralidade de emissões de carbono e em simultâneo anunciar a criação de um novo aeroporto ou a construção de infraestruturas de gasodutos à base de combustíveis fósseis?

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Mais de 90% das estratégias de neutralidade climática anunciadas não são verosímeis e apresentam baixíssima credibilidade.

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As emissões de GEE globais anuais poderão atingir um nível superior a 40 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) em 2050, o que é bastante acima da meta de emissões nulas.

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Neste cenário, a temperatura média global pode chegar a 2,4°C ou mesmo 3°C acima de níveis pré-industriais no final deste século.

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Num futuro com um aquecimento global de 3°C, teremos em Portugal impactos climáticos irreversíveis associados à degradação do solo, maior incidência de ondas de calor, padrões de pluviosidade incertos e períodos de seca cada vez mais acentuados.

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A implementação de políticas climáticas concretas no curto prazo é fundamental para atingir as promessas das estratégias de neutralidade climática.

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A definição de estratégias de longo prazo para a redução efetiva de emissões de GEE no imediato é um desafio complexo, com incertezas e ambiguidades que necessitam de uma abordagem abrangente.

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Em vez de promessas vazias para um futuro distante, é tempo de propor metas climáticas verosímeis, legalmente vinculativas e sustentadas por medidas setoriais que se traduzam na diminuição imediata de emissões.

Joana Portugal Pereira, “Público” (sem link)

 

A falta de vontade política para travar a crise climática é evidente e não pode dispensar disrupção, rasgões e opiniões divididas.

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A urgência na diminuição das emissões globais não se compadece com águas mornas, mas foi o aquecimento que veio à superfície quando ontem se assinalou o Dia Mundial dos Oceanos.

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A pesca industrial e os resíduos plásticos são a morte anunciada dos ecossistemas, a milhas de tempo e distância. 

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Se atentarmos às temperaturas globais do planeta, Maio foi o segundo mês mais quente jamais registado.

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Perante a calamidade que entra olhos dentro, há muito ruído entretido à volta dos esvaziadores ou extintores dos pneus de SUV.

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Sendo que esvaziar pneus não é crime, proibidos também não serão os sacos plásticos ultraleves para pão, fruta e legumes em supermercados.

Miguel Guedes, JN


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