(…)
A
partir dessa deixa, o Governo repetiu o refrão, tudo na oposição é “populista”.
(…)
[Por
exemplo] não gostam do favor à banca nos Certificados de Aforro? Populismo.
(…)
Onde
aparece reclamando algum conteúdo, é frequentemente tão ambígua que confunde em
vez de esclarecer.
(…)
O
ataque ao populismo é uma síndrome e não uma doutrina.
(…)
De
facto, o termo tem sido usado para classificar movimentos historicamente
divergentes.
(…)
Seriam
populistas [por exemplo] o peronismo e o castrismo, no sentido em que ambos
usariam uma relação direta entre o líder e o povo.
(…)
Nuns
casos são partidos de base popular, mobilizada contra as elites, noutros são
partidos incrustados no aparelho de Estado [por exemplo].
(…)
É uma
designação adversarial que, portanto, esclarece mais sobre quem designa do que
sobre o seu objeto.
(…)
No
mundo do uso intensivo da comunicação, esta acusação é usada para preencher o
vácuo da política.
(…)
É uma
estratégia de nevoeiro.
(…)
Os
únicos regimes populistas triunfantes na Europa, os fascismos (…) existiram
em condições específicas e com discursos distintos dos dos seus longínquos
herdeiros.
(…)
A
generalização do termo “populista” é historicamente vazia e tende a ser
politicamente desajustada.
(…)
À
direita, há populismos: Ventura faz-se aclamar como o representante de Deus na
política e mobiliza o aparelho da devoção pelo chefe, para destroçar as
outras formas de representação. É o populismo puro.
(…)
Na
esquerda, raros serão os que se afirmam populistas.
(…)
Nenhuma
política se pode construir na base de uma identificação mágica, muito menos se
for uma promessa de vencer um conflito sem conflito.
(…)
Assim
sendo, o primeiro-ministro fala de quase ninguém para acusar toda a gente.
(…)
E, ao
mesmo tempo, paradoxo dos tempos, é o PS que hoje mais se empenha em bloquear a
comissão de inquérito.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O Finalmente Club, conhecido estabelecimento gay de Lisboa, está a organizar uma festa de orgulho israelita.
(…)
Já
este ano, a comissão organizadora da Marcha do Orgulho LGBT+ de Lisboa teve de
deixar explícito não aceitar a participação da Embaixada de Israel.
(…)
[Podemos] perceber que Israel usa a causa como plataforma de
lavagem da sua imagem, ou seja, faz pinkwashing.
(…)
A situação merece atenção e, sem dúvida, reprovação e
denúncia.
(…)
Acabam por repudiar a ajuda.
(…)
As
feministas não são indiferentes à luta antirracista e as pessoas LGBT não podem
certamente ser indiferentes à opressão do povo palestiniano.
(…)
Israel espera da comunidade LGBTQIA+ que dê uma ajudinha a
ocultar a violação sistemática de violações de direitos humanos.
(…)
A
defesa de uma causa progressista representa um avanço moral e não pode
coexistir com o desprezo de outros direitos básicos e elementares.
(…)
Diria
que os que criticam o politicamente correto são precisamente os mais permeáveis
ao aproveitamento que Israel tenta fazer de uma causa.
(…)
A
animosidade contra o colonialismo ocidental já tende a confundir a defesa das
causas progressistas – e sobretudo a causa LGBT – com a luta contra o
colonialismo.
(…)
é
precisamente aí que Israel joga ao pretender afirmar-se como fazendo parte de
uma cultura de valores ocidentais ao mesmo tempo que coloniza e oprime um país.
(…)
Reparem
que, ao mesmo tempo que faz isto, Israel mantém os palestinianos a viver em
condições de pobreza e numa situação de permanente conflito
(…)
as
autoridades palestinianas deverão estar a fazer o caminho inverso: o de não
distinguir a luta anticolonialista da luta contra os direitos das pessoas gay.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Em
2015, após um longo impasse de negociações, finalmente (quase) todos os países
do mundo harmonizaram as suas políticas e assinaram o Acordo de Paris para
garantir um futuro climático seguro no planeta.
(…)
Pela
primeira vez, ambos os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento
comprometeram-se a estabelecer metas climáticas para reduzirem as suas emissões
de gases de efeito de estufa (GEE).
(…)
[Mais de 60 países] comprometeram-se em como as suas emissões
líquidas seriam nulas até meio deste século.
(…)
Em 2019, fomos um dos primeiros países a anunciar um roteiro
de neutralidade
carbónica para 2050.
(…)
Como
acreditar que um determinado país irá cumprir as suas promessas de neutralidade
climática, se na última década as suas emissões de GEE não pararam de aumentar.
(…)
Como
cumprir um compromisso de neutralidade de emissões de carbono e em simultâneo
anunciar a criação de um novo aeroporto ou a construção de infraestruturas de
gasodutos à base de combustíveis fósseis?
(…)
Mais de 90% das estratégias de neutralidade climática
anunciadas não são verosímeis e apresentam baixíssima credibilidade.
(…)
As
emissões de GEE globais anuais poderão atingir um nível superior a 40 mil
milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) em 2050, o que é
bastante acima da meta de emissões nulas.
(…)
Neste
cenário, a temperatura média global pode chegar a 2,4°C ou mesmo 3°C acima de
níveis pré-industriais no final deste século.
(…)
Num
futuro com um aquecimento global de 3°C, teremos em Portugal impactos
climáticos irreversíveis associados à degradação do solo, maior incidência de
ondas de calor, padrões de pluviosidade incertos e períodos de seca cada vez
mais acentuados.
(…)
A
implementação de políticas climáticas concretas no curto prazo é fundamental
para atingir as promessas das estratégias de neutralidade climática.
(…)
A
definição de estratégias de longo prazo para a redução efetiva de emissões de
GEE no imediato é um desafio complexo, com incertezas e ambiguidades que
necessitam de uma abordagem abrangente.
(…)
Em vez
de promessas vazias para um futuro distante, é tempo de propor metas climáticas
verosímeis, legalmente vinculativas e sustentadas por medidas setoriais que se
traduzam na diminuição imediata de emissões.
Joana Portugal Pereira, “Público” (sem link)
A falta de vontade política para travar a
crise climática é evidente e não pode dispensar disrupção, rasgões e opiniões
divididas.
(…)
A urgência na diminuição das emissões
globais não se compadece com águas mornas, mas foi o aquecimento que veio à
superfície quando ontem se assinalou o Dia Mundial dos Oceanos.
(…)
A pesca industrial e os resíduos
plásticos são a morte anunciada dos ecossistemas, a milhas de tempo e
distância.
(…)
Se atentarmos às temperaturas globais do
planeta, Maio foi o segundo mês mais quente jamais registado.
(…)
Perante a calamidade que entra olhos
dentro, há muito ruído entretido à volta dos esvaziadores ou extintores dos
pneus de SUV.
(…)
Sendo que esvaziar pneus não é crime,
proibidos também não serão os sacos plásticos ultraleves para pão, fruta e
legumes em supermercados.
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