(…)
Na
base deste caso está a ideia de que os bombeiros beneficiam de um excesso de
recursos dirigidos para a supressão de incêndios, que deveriam ser antes canalizados
para a gestão florestal.
(…)
A necessidade de investimento público e privado em medidas de
silvicultura preventiva parece ser consensual.
(…)
Atacar os meios de combate a incêndios numa lógica de
competição por recursos públicos parece contraproducente.
(…)
Num
país onde nas últimas quarto décadas arderam quase dois terços do território, é
difîcil sustentar que o problema está no excesso de meios de supressão.
(…)
Num
contexto claramente deficitário em muitas vertentes, todas as abordagens que
possam contribuir para mais e melhor prevenção devem ser equacionadas.
(…)
Não
podemos por isso ignorar que a crítica ao atual modelo de financiamento dos
bombeiros esconde uma luta de poder simbólico.
(…)
As
forças de combate a incêndios e proteção civil podem e devem ser melhoradas,
mas a última coisa de que Portugal precisa é de alimentar antagonismos no seio
das nossas mais vitais instituições.
(…)
As associações humanitárias de bombeiros constituem um
capital social insubstituível, e quem vive a realidade dos incêndios na pele.
(…)
Nunca
foi tão necessário ao registo político em que estas lutas se travam o respeito
pela função que cada um tem neste debate.
José Barbedo, “Público” (sem link)
Apesar
de protegidos, praticamente desde 1565 (Lei das Árvores), os sobreiros e
azinheiras continuaram a diminuir em número e área, particularmente depois
terem sido consagrados como espécies protegidas pelo Decreto-Lei 169/2001.
(…)
Por vezes, conseguiu-se travar a devastação desses preciosos
ecossistemas (azinhais e sobreirais).
(…)
Neste
congresso [Congresso Mundial sobre Bosques e
Matagais Mediterrâneos, em Cáceres, Espanha (21-25 de setembro de 1988)]
não só se demonstrou a relevância destes ecossistemas, como se conseguiu que a
União Europeia proibisse a devastação de parte destes ecossistemas no Alentejo
para a implantação, por empresa espanhola, do cultivo intensivo de beterraba.
(…)
Mas a maior desgraça do sobreiro foi ter sido consagrado como Árvore
Nacional.
(…)
Desde
esta data foram já derrubados cerca de 35.000 sobreiros, grande parte destes
abates autorizada por Declarações de Imprescindível Utilidade Pública.
(…)
O que me espanta ainda mais é não ouvir nenhuma contestação a
estes atropelos, por parte de qualquer deputado.
(…)
Conheço países com respetivas “Árvore Nacional”. São árvores
protegidíssimas.
(…)
Mas,
depois do que está a acontecer com a nossa “Árvore Nacional”, desisti, pois
correríamos o risco de a planta desaparecer por Utilidade Pública.
Jorge Paiva, “Público” (sem link)
O que pode ter acontecido para mudar a lógica que é
necessária para quem vive dos rendimentos do seu trabalho?
(…)
A primeira nota é que o autor [de um artigo de opinião
publicado no Jornal ECO] designa os trabalhadores como sendo colaboradores.
Isto deve situar imediatamente os leitores.
(…)
É sabido que a palavra “trabalhador” tem um peso que a muitos
desagrada.
(…)
Um
colaborador é aquele que não se assume em luta pelos seus direitos e, ainda
menos, em reivindicação perante a sua entidade empregadora por melhores
condições de trabalho.
(…)
Ora,
um colaborador assume que não existe qualquer conflitualidade em si e o seu
empregador e o que pretende é agradar.
(…)
Um colaborador jamais pensaria em sindicalizar-se ou em fazer
exigências.
(…)
As empresas adoram colaboradores, tanto que em algumas nem se
fala em trabalhadores.
(…)
Mas o
que é um salário emocional? São vantagens e condições que as empresas oferecem
aos trabalhadores, que não têm impacto na remuneração.
(…)
Basicamente
a empresa, em vez de apostar em aumentar salários, promove o bem-estar de quem
para si trabalha. Isto é feito – como refere o próprio autor – com um custo de
quase zero para as empresas.
(…)
A
lógica no mercado não mudou e a lógica das próprias empresas também não: a
linguagem do dinheiro e a dos resultados financeiros são as que contam.
(…)
Ainda
ninguém se lembrou a cotar em bolsa empresas que não tenham capacidade financeira
para ser listadas, mas que tenham trabalhadores muito felizes.
(…)
Todos
estão no mercado a troco de dinheiro, mas os pobres trabalhadores é que deverão
valorizar outro tipo de contrapartida para o seu trabalho.
(…)
Uma valorização que mais ninguém usa e que não lhes servirá
para muito no mundo real.
(…)
A renda que pagam não é emocional e a prestação do banco
também não.
(…)
[Há trabalhadores que] colaboram com as empresas com
o objetivo de pagar o menos possível aos restantes trabalhadores e de
beneficiar do melhor desempenho possível da parte deles.
(…)
Em tempos, chamava-se a isto exploração.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
A 28
de Julho celebrou-se o Dia Mundial da Conservação da Natureza, criado há 35
anos pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
(…)
O objectivo foi o de sensibilizar a sociedade para a
necessidade de conservar o património natural.
(…)
Quatro
dias depois, temos conhecimento pela imprensa que iria ser permitido o corte de
1821 sobreiros, numa área de 32 hectares, para a construção do parque eólico de
Morgavel, em Sines.
(…)
É a
“imprescindível utilidade pública”, que sobrepõe o interesse de parques eólicos
à conservação do montado de sobro naquela área, recurso renovável de extrema importância
ecológica e económica.
(…)
A
conservação da natureza, de facto, consiste na protecção efectiva das
populações, animais e vegetais, e na preservação da integridade ecológica do
seu habitat natural.
(…)
Mas quando há interesses económicos todos as restantes “boas
vontades” para com a natureza deixam de existir.
(…)
O declínio do montado na zona pode servir
sempre de argumento.
(…)
O
declínio do montado em certas zonas do Alentejo não é mais do que a resposta de
uma sequência de alterações impostas, durante anos, a um ecossistema que estava
em perfeito equilíbrio.
(…)
Até ao momento, a crise climática recebe a maior parte da
atenção, política, mediática, social e económica.
(…)
A
acção climática e a necessidade das energias renováveis é muito mais fácil de
implementar e de justificar que a conservação da biodiversidade.
(…)
À
medida que nos tornamos mais conscientes da finitude dos recursos naturais,
devíamos encontrar maneiras de compreender as consequências deste tipo de
explorações económicas.
Maria Amélia Martins-Loução, “Público” (sem link)
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