quarta-feira, 9 de agosto de 2023

CITAÇÕES À QUARTA (63)

 
Alguns investigadores sugerem que os bombeiros constituem parte do problema, por serem alegadamente financiados em função da área ardida.

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Na base deste caso está a ideia de que os bombeiros beneficiam de um excesso de recursos dirigidos para a supressão de incêndios, que deveriam ser antes canalizados para a gestão florestal.

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A necessidade de investimento público e privado em medidas de silvicultura preventiva parece ser consensual.

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Atacar os meios de combate a incêndios numa lógica de competição por recursos públicos parece contraproducente.

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Num país onde nas últimas quarto décadas arderam quase dois terços do território, é difîcil sustentar que o problema está no excesso de meios de supressão.

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Num contexto claramente deficitário em muitas vertentes, todas as abordagens que possam contribuir para mais e melhor prevenção devem ser equacionadas.

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Não podemos por isso ignorar que a crítica ao atual modelo de financiamento dos bombeiros esconde uma luta de poder simbólico.

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As forças de combate a incêndios e proteção civil podem e devem ser melhoradas, mas a última coisa de que Portugal precisa é de alimentar antagonismos no seio das nossas mais vitais instituições.

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As associações humanitárias de bombeiros constituem um capital social insubstituível, e quem vive a realidade dos incêndios na pele.

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Nunca foi tão necessário ao registo político em que estas lutas se travam o respeito pela função que cada um tem neste debate.

José Barbedo, “Público” (sem link)

 

Apesar de protegidos, praticamente desde 1565 (Lei das Árvores), os sobreiros e azinheiras continuaram a diminuir em número e área, particularmente depois terem sido consagrados como espécies protegidas pelo Decreto-Lei 169/2001.

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Por vezes, conseguiu-se travar a devastação desses preciosos ecossistemas (azinhais e sobreirais).

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Neste congresso [Congresso Mundial sobre Bosques e Matagais Mediterrâneos, em Cáceres, Espanha (21-25 de setembro de 1988)] não só se demonstrou a relevância destes ecossistemas, como se conseguiu que a União Europeia proibisse a devastação de parte destes ecossistemas no Alentejo para a implantação, por empresa espanhola, do cultivo intensivo de beterraba.

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Mas a maior desgraça do sobreiro foi ter sido consagrado como Árvore Nacional.

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Desde esta data foram já derrubados cerca de 35.000 sobreiros, grande parte destes abates autorizada por Declarações de Imprescindível Utilidade Pública.

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O que me espanta ainda mais é não ouvir nenhuma contestação a estes atropelos, por parte de qualquer deputado. 

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Conheço países com respetivas “Árvore Nacional”. São árvores protegidíssimas.

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Mas, depois do que está a acontecer com a nossa “Árvore Nacional”, desisti, pois correríamos o risco de a planta desaparecer por Utilidade Pública.

Jorge Paiva, “Público” (sem link)

 

O que pode ter acontecido para mudar a lógica que é necessária para quem vive dos rendimentos do seu trabalho?

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A primeira nota é que o autor [de um artigo de opinião publicado no Jornal ECO] designa os trabalhadores como sendo colaboradores. Isto deve situar imediatamente os leitores.

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É sabido que a palavra “trabalhador” tem um peso que a muitos desagrada.

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Um colaborador é aquele que não se assume em luta pelos seus direitos e, ainda menos, em reivindicação perante a sua entidade empregadora por melhores condições de trabalho.

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Ora, um colaborador assume que não existe qualquer conflitualidade em si e o seu empregador e o que pretende é agradar.

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Um colaborador jamais pensaria em sindicalizar-se ou em fazer exigências.

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As empresas adoram colaboradores, tanto que em algumas nem se fala em trabalhadores.

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Mas o que é um salário emocional? São vantagens e condições que as empresas oferecem aos trabalhadores, que não têm impacto na remuneração.

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Basicamente a empresa, em vez de apostar em aumentar salários, promove o bem-estar de quem para si trabalha. Isto é feito – como refere o próprio autor – com um custo de quase zero para as empresas.

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A lógica no mercado não mudou e a lógica das próprias empresas também não: a linguagem do dinheiro e a dos resultados financeiros são as que contam.

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Ainda ninguém se lembrou a cotar em bolsa empresas que não tenham capacidade financeira para ser listadas, mas que tenham trabalhadores muito felizes.

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Todos estão no mercado a troco de dinheiro, mas os pobres trabalhadores é que deverão valorizar outro tipo de contrapartida para o seu trabalho.

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Uma valorização que mais ninguém usa e que não lhes servirá para muito no mundo real.

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A renda que pagam não é emocional e a prestação do banco também não.

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[Há trabalhadores que] colaboram com as empresas com o objetivo de pagar o menos possível aos restantes trabalhadores e de beneficiar do melhor desempenho possível da parte deles.

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Em tempos, chamava-se a isto exploração. 

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

A 28 de Julho celebrou-se o Dia Mundial da Conservação da Natureza, criado há 35 anos pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

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O objectivo foi o de sensibilizar a sociedade para a necessidade de conservar o património natural.

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Quatro dias depois, temos conhecimento pela imprensa que iria ser permitido o corte de 1821 sobreiros, numa área de 32 hectares, para a construção do parque eólico de Morgavel, em Sines.

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É a “imprescindível utilidade pública”, que sobrepõe o interesse de parques eólicos à conservação do montado de sobro naquela área, recurso renovável de extrema importância ecológica e económica.

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A conservação da natureza, de facto, consiste na protecção efectiva das populações, animais e vegetais, e na preservação da integridade ecológica do seu habitat natural.

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Mas quando há interesses económicos todos as restantes “boas vontades” para com a natureza deixam de existir.

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O declínio do montado na zona pode servir sempre de argumento.

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O declínio do montado em certas zonas do Alentejo não é mais do que a resposta de uma sequência de alterações impostas, durante anos, a um ecossistema que estava em perfeito equilíbrio.

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Até ao momento, a crise climática recebe a maior parte da atenção, política, mediática, social e económica. 

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A acção climática e a necessidade das energias renováveis é muito mais fácil de implementar e de justificar que a conservação da biodiversidade.

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À medida que nos tornamos mais conscientes da finitude dos recursos naturais, devíamos encontrar maneiras de compreender as consequências deste tipo de explorações económicas.

Maria Amélia Martins-Loução, “Público” (sem link)


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