(…)
[Recentemente]
a extrema-direita passou a governar o Brasil com Bolsonaro e o liberalismo mais
agressivo dominou a Argentina com Macri.
(…)
E,
depois, nova reviravolta: Boric ganhou no Chile, Petro na Colômbia, Lula voltou
ao Planalto.
(…)
A
proposta de Constituição pós-Pinochet foi chumbada no Chile e eleita uma nova
câmara com maioria de direita radical.
(…)
Um
candidato que se diz anarcocapitalista e pretende encerrar a saúde e a educação
públicas parte com vantagem na corrida presidencial argentina.
(…)
Na
Guatemala foi eleito um presidente de centro-esquerda e no Equador a disputa é
entre uma mulher progressista e a família Naboa, os multimilionários das bananas.
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Talvez
algumas das razões para estas oscilações possam ser medidas por dois exemplos
de tiranos, o de Salvador, Nayib Bukele, e o da Nicarágua, Daniel Ortega.
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Os
dois países vizinhos, Nicarágua e Salvador, também tiveram histórias
comparáveis, com longas ditaduras que foram desafiadas por movimentos
guerrilheiros de base popular.
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Daniel
Ortega, vem desse tempo: era o dirigente sandinista mais destacado e dirigiu o
Governo depois da fuga do ditador, Somoza.
(…)
Tem
portanto 28 anos de presidência, agora compartilhada com a sua mulher como
vice-presidente.
(…)
O seu
poder assenta em compromissos reacionários.
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As
organizações de direitos humanos registam centenas de pessoas a quem foi
retirada a cidadania, incluindo muitos antigos camaradas do presidente.
(…)
O
sucesso de Ortega é o terror e, uma vez no poder, demonstrou que fará o
impensável para o conservar.
(…)
Bukele
[em El Salvador] é um novato no poder, foi eleito em 2019.
(…)
Instaurou
o estado de sítio em 2022, já o prolongou por quinze vezes, pelo que se chama a
si próprio o “ditador mais cool do mundo”.
(…)
Entretanto
já tinha substituído os juízes do Tribunal Constitucional e o procurador-geral,
que investigavam alguns dos seus amigos por corrupção.
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[Bukele]
anunciou que uma criptomoeda passa a ser moeda legal do país.
(…)
Precisa,
para tanto, de silenciar a oposição e o jornalismo.
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[Uma
lição destes tiranetes é] oferecer uma ditadura trocando a liberdade por uma
sensação de segurança militarizada.
(…)
Os
desta nova raça de políticos, quando lá chegam, nem admitem que podem ser um
dia substituídos.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Eram muito improváveis as possibilidades reais de Prigozhin
sair vivo do conflito que acendeu com Putin, em Junho deste ano, quando rumou a
Moscovo agitando a bandeira de um novo regime.
(…)
Tropeçar no destino de Putin não é algo que normalmente se
cinja a feridas passageiras.
(…)
O debate acerca da perigosidade relativa de Putin e Prigozhin
procura concluir sobre qual o pior protagonista, qual o detentor da pior
estirpe, qual o nível de demência selectiva ou racional de atrocidade que cada
um deles poderia convocar no futuro enquanto líder.
(…)
Apenas dois meses volvidos sobre a tentativa de insurreição,
espanta a desenvoltura e o grau de eficácia da resposta de Putin.
(…)
A convicção de que se pode desaparecer da zona de
guerra com um acordo invisível foi o pior negócio da vida de Prigozhin.
André
Ventura sabe que cruzou uma nova linha vermelha quando difundiu notícias falsas
usando o grafismo do jornal PÚBLICO e da Rádio Renascença.
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Os portugueses, de um modo geral, demonstraram entender que
não se tratava apenas de mais uma mentira.
(…)
[Ventura] afirmou [numa entrevista à SIC Notícias, esta semana]
que a notícia que difundiu não era falsa.
(…)
Mas a notícia não existia, ou seja, não tinha sido partilhada
por qualquer órgão de comunicação social.
(…)
Foi uma pura invenção. Era absolutamente falsa.
(…)
A
notícia do Expresso, ou qualquer outra que venha a ser publicada, não
transformará uma mentira numa verdade. O Expresso ainda não faz alquimia.
(…)
Todas
as mentiras que disse são facilmente verificáveis por quem quiser dedicar-se ao
tema. Foi o que fez o Polígrafo e, pela enésima vez, concluiu que Ventura
mentiu.
(…)
[Ventura]
Não só mente compulsivamente, como conta as
mentiras posicionando-se como herói ou vítima.
(…)
A
alternativa é André Ventura não ter um pingo de carácter e, sem condição
clínica que por si abone, ser capaz de enganar as pessoas maciçamente e na
exata medida do que for preciso para alcançar os seus objetivos.
(…)
Certo
é que não é normal encontrar numa pessoa este vício, e esta habilidade, de
mentir como se estivesse a dizer a verdade e como se não fosse possível ser
apanhado.
(…)
Os
líderes de extrema-direita por essa Europa fora também são pessoas dispostas a
fomentar o ódio racial e a xenofobia e a retirar vantagens e benefícios, neste
caso votos, desse ódio e desse medo.
(…)
A
gravidade de André Ventura ter persistido em mentir num tema que gerou alarme
na opinião pública é proporcional ao seu descaramento.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Nas
mortes de estadistas em quedas de avião, por mais acidente que seja, haverá
sempre quem não se convença da tese do acaso.
(…)
Mais ainda quando as autoridades, por incompetência, omissão
ou incapacidade, não conseguem chegar à conclusão taxativa de acidente.
(…)
No entanto, nestas coisas de desconfiar de acidentes, também
é preciso manter sempre o pé atrás em relação a acções potencialmente
idóneas de gente que garante querer apenas chegar à verdade.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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