(…)
No
estilo, é uma imitação superlativa de Trump e Bolsonaro, que diz admirar.
(…)
No
conteúdo, é portador de um liberalismo arrasador.
(…)
Abolirá
a moeda nacional e adotará o dólar e promoverá a venda livre de armas.
(…)
O que
pergunto é como é que o liberalismo se tornou a extrema-direita da América
Latina?
(…)
Em
duas décadas, a Universidade de Chicago criou [no Chile] a coluna vertebral de
uma nova política económica.
(…)
O
resultado é conhecido: as empresas públicas foram vendidas (exceto as minas,
oferecidas a generais) e a Segurança Social foi privatizada (faliu uns anos
mais tarde e teve de ser nacionalizada).
(…)
Foram
nisso entusiasticamente apoiados pelos gurus do liberalismo europeu e
norte-americano.
(…)
O
liberalismo contra as liberdades foi um bom negócio.
(…)
A ditadura
[argentina] também precisou da mesma receita.
(…)
Cavallo
[que o peronista liberal Menem recuperou da ditadura] dolarizou o país, o que
Milei agora promete, arruinando os salários e as pensões,
(…)
[Cavallo]
entregou a petrolífera nacional à Repsol, a Aerolineas Argentinas à Iberia e a
companhia dos telefones à France Telecom e à Telefónica espanhola.
(…)
No
Chile como na Argentina, o avanço do liberalismo destruiu as economias e
enriqueceu intermediários, ministros e investidores.
(…)
O
Presidente Macri (2015-19) negociou com o FMI um empréstimo de 44 mil milhões
de dólares com condições drásticas, e o efeito é uma inflação de 100%.
(…)
O
Governo peronista que se lhe seguiu não quis reverter este caos e o
descontentamento popular explodiu.
(…)
[Mieli]
promete, portanto, o desmantelamento do Estado e libertar o mercado.
(…)
Admite
a venda de órgãos humanos (o corpo é propriedade), já sugeriu a venda de
crianças.
(…)
Defende
a proibição do aborto, que foi recentemente legalizado no país, é negacionista
climático.
(…)
Detesta
Francisco, um “jesuíta que promove o comunismo”.
(…)
Talvez
a Argentina volte a lembrar que tudo é possível nas trevas do desespero social.
Francisco
Louçã, “Expresso” (sem link)
O regresso da política após a pausa de Verão é a prova
evidente de que, sem debate parlamentar, os media são o terreno eleito pelos
aparelhos partidários para novas baterias de demagogia.
(…)
Em 2023 presenciamos [na Festa do Pontal] mais um
pré-lançamento da candidatura presidencial de Marques Mendes, não vá o diabo
realmente aparecer de surpresa.
(…)
Passos Coelho continua a ser uma ameaça interna para Luís
Montenegro.
(…)
A presença [de Moeas] no Pontal não é coroação, mas indica
que Luís Montenegro (à semelhança de António Costa) não hesita em ter os seus
putativos sucessores por perto.
(…)
Todo o discurso-panfleto de demagogia de Montenegro sobre a
baixa de impostos não tem adesão à história recente do PSD no poder.
(…)
Montenegro depende delas [Eleições Europeias] e a redução dos
impostos colhe votos à sua ilharga.
Em Portugal, existem dois mundos socioeconómicos separados
por aquilo a que devemos chamar “um fosso”.
(…)
A maioria dos portugueses considera o salário de um ministro
um patamar de riqueza ao qual não pode aspirar.
(…)
Aproximadamente um milhão de trabalhadores portugueses ganha
o salário mínimo nacional.
(…)
Temos que 66% dos trabalhadores ganham abaixo dos 1000 euros
mensais e 27% ganham entre 1000 e 2499 euros.
(…)
Apenas 4% ganham entre 2500 e 4999 euros.
(…)
Um ministro ganha [mais de 5000 euros] aquilo que apenas uma
ínfima minoria dos portugueses ganha.
(…)
Um
ex-ministro [Eduardo Catroga] partilhou com os portugueses uma perspectiva da
vida, que é a sua, que os coloca na cauda da pura insignificância
(…)
Aquilo que poderiam sonhar ganhar num mundo ideal corresponde
ao que Catroga ganhou por ter aceitado fazer um sacrifício pessoal.
(…)
Eduardo
Catroga não se distinguiu por ter combatido as desigualdades sociais e é certo
que desempenhou funções em que poderia ter feito alguma diferença nessa área.
(…)
Baixou a TSU para as empresas e aumentou a taxa de IVA,
prejudicando os que ganhavam menos.
(…)
Destacou-se ainda a equilibrar as contas públicas, o que tem
um conhecido impacto negativo nos rendimentos dos trabalhadores.
(…)
[Catroga] conviveu bem com a imposição, aos portugueses, de
apertarem o cinto até doer.
(…)
Algumas
das pessoas que integram a minoria privilegiada estão confortavelmente
instaladas no seu privilégio sem ao menos acusar a consciência da gravidade
política dessa situação.
(…)
Reparem que injustiça social nunca foi o berço da paz.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
O PSD
marcou a rentrée política com uma agenda de reforma fiscal em duas partes. A
reforma fiscal abrangente, pomposamente chamada Alternativa, com A maiúsculo.
(…)
Como todas as políticas com objetivos meritórios, a
Alternativa pode vir a revelar-se ótima ou nem tanto, dependendo dos pormenores.
(…)
De
resto, o único impacto certo desta proposta é no bolso de quem vai pagar menos
IRS – um alívio bem-vindo em tempos de inflação e de aperto de taxas de juro.
(…)
Apesar
das promessas otimistas, não há estudos credíveis para Portugal sobre a
resposta da atividade económica aos impostos e a evidência internacional mostra
que esta é limitada.
(…)
Isto é especialmente verdade nos rendimentos do trabalho.
(…)
Também é improvável que tenham influência substancial nas
decisões de migração das pessoas qualificadas.
(…)
Seria
ótimo que o PSD ressuscitasse a ideia de complementar com euros públicos o
rendimento de trabalho de quem menos ganha, proposta pelo PS em 2015 e
enterrada pelas negociações da "geringonça"
(…)
A bem da qualidade do debate democrático, cada político devia
ser obrigado a definir a classe média quando fala dela.
(…)
Mas
o país é o que é e dificilmente a classe média se pode definir como “os 25% que
estão logo abaixo dos 5% mais ricos”.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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