Temos grandes tristezas, mas também enormes alegrias com o
desporto. E algumas lições.
(…)
É bonito que a cooperação seja capaz de nos emocionar. Ela
está sempre lá, implícita.
(…)
Há um imenso trabalho de equipa para se chegar a um
campeonato mundial ou a uns Jogos Olímpicos.
(…)
Mas é quando a partilha emerge inesperadamente, em momentos
produzidos para a mais vigorosa competição, que ela nos toca.
José Soeiro, “Expresso” online
Os detalhes do beijo imposto pelo presidente da Federação
Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, a uma das recém-campeãs do mundo, Jenni
Hermoso, vão sendo escrutinados dia após dia.
(…)
O ato beijocal era em si próprio suficientemente expressivo
da cultura marialva que aquele dirigente representou.
(…)
O dirigente tentou safar-se na presunção de que os factos
ficariam enevoados pela palavra contra palavra.
(…)
Ora, o facto de ter escolhido para esta confrontação a
própria palavra “feminismo”, (…), dá em qualquer caso uma indicação sobre um
dos grandes debates sociais em Espanha.
(…)
Sempre houve, em instituições de poder, seja em empresas, no
cinema, no desporto, em igrejas ou noutros lugares de dominação, uma cultura de
imposição masculina.
(…)
E, mesmo que tais leis e sentenças tenham sido derrogadas ou
esbatidas, essa cultura marcou traços identitários de gerações e sociedades -
nisso, nada de novo.
(…)
O que, em contrapartida, é verdadeiramente novo é que essa
cultura da violência de género passou a ter um enunciado político, passou a ser
um explicitado do combate eleitoral.
(…)
Isso já tinha acontecido nos Estados Unidos, com Trump.
(…)
[Trump] deverá ter sido o primeiro a gabar-se e a mostrar a
prosápia machista em público para conseguir ganhos eleitorais.
(…)
[Em Espanha] essa subcultura de gangue encontrou o seu
partido [na extrema-direita], que a expandiu, tornando-a uma bandeira.
(…)
Dizia um porta-voz do Vox, nas vésperas das eleições do mês
passado, que o reconhecimento da violência de género é um “conceito ideológico”
e, portanto, seria imperativo revogar a lei que a pune.
(…)
O que a lei reconhece é que há uma forma de poder que
vulnerabiliza uma parte da sociedade e que, por isso, a deve proteger dos abusos.
(…)
Entretanto, ao escolher este terreno para mover o seu
exército, a extrema-direita incentivou os pequenos ditadores, como neste caso
no desporto.
(…)
Ao contrário, em Portugal a extrema-direita até hoje temeu
fazer das mulheres o alvo principal da sua política e preferiu atacar os
ciganos e pobres, onde antevia mais ganhos de popularidade.
(…)
Haverá guerra sobre a construção ou destruição da igualdade
entre homens e mulheres. Quanta guerra?
(…)
Cada vez mais, é a civilização que se disputa, a bufonaria
trumpista é o novo modo de ser da direita.
(…)
A extrema-direita procura apoiar-se em medos, o dos
homens que estavam habituados a berrar em casa ou a bater na mulher.
(…)
Se nas relações humanas há sempre formas de poder, a sedução
deve ser um esbatimento dessas linhas em que nos instalamos.
(…)
A dominação, pelo contrário, é uma barreira; e é dela, e
também do seu medo, que a extrema-direita quer fazer em Espanha o medo dos medos.
(…)
Contra o abuso, uma sociedade de respeito deve falar com esse
medo e deve saber transformá-lo em formas de encontro, de encantamentos
consentidos e sentidos, de vidas comuns.
Francisco Louçã, “Expresso” online
(sem link)
Num agosto quente, com recordes de temperatura por toda a
Europa, em plena época de incêndios, num ano de seca (como começam a ser quase
todos), continuamos a cultivar a ilusão de que está tudo bem e que as
alterações climáticas só afetarão os nossos trisnetos.
(…)
A proteção do
ambiente é, hoje, um dos mais eficazes pretextos para comprar e estamos
permanentemente a alimentar paradoxos, tentando optar por escolhas de “consumo
sustentável” (o que por si só já é uma contradição nos termos).
(…)
Para aproveitar a onda, toda a empresa, autarquia, festival e
congresso passou a oferecer bolsas de pano com logótipo, numa avalancha de
desperdício têxtil que faz com tenhamos dezenas de shoper bags em casa.
(…)
A lista podia continuar, mas ainda mais preocupante do que
isso é quando esta mesma lógica chega à gestão do território e às políticas
locais.
(…)
Dizem os pragmáticos que “a política é a arte do possível” e
sei que o equilíbrio entre economia e bem comum tende a pender para os
interesses.
[Não
há políticas coerentes que] garantam que o dinheiro que o país despende com a
formação dos seus jovens reverta a favor de melhores condições de vida para
todos.
(…)
Não surpreende uma notícia recente segundo a qual, num só
ano, Portugal perdeu 128 mil trabalhadores com ensino superior.
(…)
Trata-se de uma emigração em massa de quadros a quem
oferecemos salários baixíssimos.
(…)
No ano corrente, o orçamento dos dois ministérios que tutelam
o ensino ultrapassa largamente os 10 mil milhões de euros.
(…)
Acha normal que o nosso marasmo político financie o
desenvolvimento dos outros países à custa do nosso retrocesso?
(…)
84,1% das provas reavaliadas [no quadro da 1.ª fase dos
últimos exames nacionais] foram consideradas mal classificadas pelo
Ministério da Educação.
(…)
[Trata-se
de] mais uma de constatações idênticas verificadas ao longo dos últimos anos,
em que uma percentagem relevante de pedidos de revisão dos exames do secundário
termina com a subida das classificações inicialmente atribuídas.
(…)
Como fica a confiança da sociedade relativamente ao processo?
(…)
A
mesma arrogância e obstinação estão na origem da recusa em recuperar os seis
anos, seis meses e 23 dias cumpridos pelos professores em período de
congelamento.
(…)
Os
fundamentos que permitem afirmar que o decreto-lei agora promulgado pelo
Presidente da República gera novas injustiças e desigualdades dentro da classe
e deixa sem resposta as vertentes mais contestadas de toda a situação.
(…)
Permanece a discriminação dos professores relativamente à
restante administração pública e, particularmente, aos que ensinam na Madeira e
nos Açores.
(…)
São muitas e de proveniências insuspeitas as demonstrações de
que o argumento financeiro é falso.
Santana Castilho, “Público” (sem link)
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