(…)
Mas
continuamos a ter Estado a menos, e isso não vai mudar.
(…)
O
padrão normal, nas cidades do Norte da Europa, é que pelo menos 25% do total de
casas sejam oferta pública ou cooperativa, a preços acessíveis.
(…)
Em
Lisboa e no Porto não chegam a 10% (2% no país).
(…)
Os
jovens e as classes médias dos países industrializados têm cada vez mais
dificuldade em encontrar casa compatível com a sua bolsa.
(…)
Só nos
últimos dois anos, as rendas cresceram 50% em Lisboa e no Porto.
(…)
Como
[o licenciamento simplificado dos projetos urbanísticos é liberalizador],
teve o aplauso de quem tem acesso ao país mediático, o único a que o Presidente
presta atenção. Neste caso, dispensou todos os consensos.
(…)
O
controlo do aumento das rendas, chamado de “socialista”, “comunista” e
“chavista”, está em vigor em 13 dos 27 países da UE e em conhecidos regimes
marxistas, como a Suíça, o Reino Unido e a Noruega.
(…)
As
propostas relativas ao AL ou ao arrendamento compulsivo existem em países
governados por liberais, como a Dinamarca ou os Países Baixos.
(…)
Quando
elas [as chamadas reformas estruturais] se afastam do que a direita radicalizada
defende, exigem-se “acordos de regime”.
(…)
Não há
“choque rápido” que resolva esta crise até 2026, porque o epicentro do abalo
não é o aumento dos juros.
(…)
Muito
antes de o BCE subir as taxas já os preços estavam muitíssimo acima dos bolsos
dos portugueses.
(…)
Como
lembrou o arquiteto Tiago Mota Saraiva, mesmo construindo menos na última
década (…), 13% das novas casas estão vazias.
(…)
Regular
as rendas e limitar novas unidades de AL é óbvio, aceite por essa Europa fora
sem que se anuncie a tomada do Palácio de Inverno.
(…)
A
prioridade deveria ser a de garantir níveis de investimento europeus na
habitação.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Há áreas da nossa vida em sociedade [como na saúde e
habitação] em que se conjugam insuficiências da ação governativa e do Estado (…),
com práticas privadas desrespeitadoras de princípios e valores da democracia.
(…)
Mete medo sabermos que, nas praças de jorna que contratam
médicos à tarefa, é atribuído um valor remuneratório mais elevado às horas
trabalhadas por aqueles que mais altas passam aos doentes.
(…)
A ganância e a impunidade dos interesses privados
sobrepõem-se ao direito à vida.
(…)
E todos os governantes sabem que as políticas se desenham e
efetivam por ação ou por inação.
(…)
Os custos atuais da habitação são insuportáveis para grande
parte das famílias portuguesas e, para a esmagadora maioria dos jovens,
bloqueadoras da organização das suas vidas.
(…)
O Governo e a maioria parlamentar que o apoia podiam dar
passos para a resolução do problema, mas optaram por aprovar um conjunto de
medidas, em muitos casos tímidas, noutros contraditórias.
(…)
Haverá soluções mantendo-se as atuais políticas no turismo e
na construção e a espiral especulativa a elas associada? Não!
(…)
É possível os jovens terem acesso a habitação sem uma
radical melhoria dos seus salários? Não!
Os
incêndios rurais são um dos tipos de situações (outro é, por exemplo, os
acidentes de trabalho) em que uma característica do tratamento habitual pelas
televisões é a de que a pedagogia preventiva obtida é inversamente proporcional
ao sensacionalismo e histeria criada.
(…)
Tal
como nos acidentes de trabalho a “certeza” nas causas tende a ser a “culpa do
trabalhador”, no caso dos incêndios rurais, a “certeza" imediata é, por
regra, a da “mão criminosa”.
(…)
De
facto, já (quase) nos habituámos a darmo-nos por satisfeitos com a explicação
do “erro humano” ou do “crime”, da “culpa” individual em muitos domínios. Um deles
é o dos incêndios rurais.
(…)
Assim, dispensam-se perguntas sobre condições contextuais.
(…)
Mais
importante que saber se houve “mão criminosa” nos incêndios rurais é saber se
não houve falta de “mão”. “Falta de mão”, no sentido de ali não haver, no
devido tempo, espaço e modo, falta de prevenção.
(…)
Neste
como noutros domínios, a “mão criminosa” como paradigma preponderante pode ser,
como certamente já tem sido, o manto negro que escamoteia outras responsabilidades
(…)
Polarizando
exclusivamente nele [mão criminosa] o enfoque, desviar a atenção de falhas ou
deficiências da (na) prevenção que, a assim não serem (bem) supridas ou corrigidas,
vão permitir a ocorrência de mais incêndios.
(…)
A “mão criminosa” nos incêndios rurais não pode passar a
pressuposto de regra como base da teoria do incendiarismo.
(…)
[Há
pouca esperança de] que a mão preventiva prepondere sobre a “mão criminosa”,
isto é, visando essencialmente a pedagogia da sua prevenção, o interesse
público.
João Fraga de Oliveira, “Público” (sem link)
Portugal
sempre foi um país de emigração.
(…)
[Temos]
uma sociedade envelhecida, baixa taxa de natalidade e um êxodo de jovens que
procuram melhores condições de vida e mais realização profissional.
(…)
Por
isso, precisamos de mais população, sendo a imigração a solução mais rápida.
(…)
Mas precisamos
de políticas de imigração e uma estratégia para que o resultado do influxo populacional
seja positivo.
(…)
Sabendo
que precisamos de muitos imigrantes. O estranho é não nos termos preparado para
isso.
(…)
Os
estrangeiros que trazem riqueza são bem-vindos, os outros, com quem temos de
partilhar, apesar de a ajudarem a criar têm outro tratamento.
(…)
Há uma
perceção, tendencialmente anedótica, de que Portugal foi invadido por
estrangeiros, especialmente brasileiros.
(…)
Isto
está a criar uma perceção que começa a ser verbalizada nos discursos.
(…)
Quando
os recursos ficam em causa, as nossas fragilidades alimentam ainda mais a
xenofobia.
(…)
Os
casos concretos de escassez na própria habitação, vai alimentando a perceção de
invasão e perda de qualidade de vida associada a uma partilha forçada.
(…)
As
pessoas convictas, mesmo sem fundamentação absoluta, são capazes de tudo.
(…)
Mas
continuamos a ignorar o problema, sem realmente perceber, enquanto a xenofobia
se vai normalizando.
Micael Sousa, “Diário de Coimbra” (sem link)
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