(…)
Na comunicação de hoje, um tal personagem [Cavaco] não
duraria um ano.
(…)
Cavaco Silva já não existe politicamente a não ser para
afogar em mágoas da memória a incapacidade da direita atual.
(…)
Deixem-no em paz, oxalá escreva muito mais e se vá
abalançando a interromper o frenesim da nossa vida com estes rompantes de
oráculo celestial.
(…)
Os mesmos que se indignaram pela crítica ao livro-não-lido,
não tiveram nada a dizer sobre o livro-lido.
(…)
[Cavaco] escolheu o que lhe pareceu mais forte da prosa, que
é recomendar que uma remodelação governamental se faça depressa e em sigilo.
(…)
O que o autor e os promotores nos disseram, repare bem, é que
o livro não tem pinga de interesse, não tem por onde pegar, nada revela e nada
propõe.
(…)
Dito em bom português, está-se a discutir por coisa nenhuma,
o que os mais entusiásticos cavaquistas têm a dizer é que não há nada a dizer.
Francisco Louçã, “Expresso” online
(sem link)
Enquanto as desigualdades de classe, desde logo, mas
sobretudo de género forem tão gritantes (como para abrir um abismo entre um
homem publicitário e a realidade quotidiana das mães portuguesas), a natalidade
continuará a ser minguante.
(…)
Enquanto não tivermos licenças parentais iguais para ambos os
progenitores, não vamos ter igualdade (competitiva) no mercado de trabalho e
faltará sempre noção.
(…)
Noção do que passam as mães, sozinhas em casa, totalmente
invisibilizadas, a cuidar dos bebés, enquanto o Mundo continua impávido.
O direito a usufruir do espaço público é matéria sensível.
(…)
Acabou a passividade perante decisões das entidades
administrativas que restrinjam de alguma forma a fruição daquilo que é de todos.
(…)
Fruir
o espaço público é poder ocupá-lo sem a obrigação de consumir. Quando existe
uma exploração comercial no espaço público, a tensão começa.
(…)
Tem de se consumir para ocupar mesas e cadeiras e, às vezes,
para utilizar os próprios sanitários.
(…)
Reduzir a área de fruição livre é pisar um terreno minado.
(…)
A Constituição garante o direito à reunião pacífica em espaço
público.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Muitos intelectuais, aquando da introdução do termo negritude nos circuitos literários, julgaram estar perante um
movimento racista.
(…)
Reivindicar
uma humanidade abstrata e incolor, pretender eliminar diferenças culturais e
raciais quando elas próprias existem e se legitimam socialmente, censurar
gritos de afirmação essenciais para a tomada de consciência de um coletivo em
nome de uma utópica mestiçagem é uma hipocrisia.
(…)
A
negritude funciona como uma tábua de valores do mundo negro, é a tomada de
consciência de uma pertença negra, basilar para a afirmação ativa do negro no
mundo.
(…)
Para
Senghor a negritude é a casa do negro, um estar-no-mundo por meio de um corpo,
negro, que faz da negritude, antes de mais, uma pertença, isto é, o negro não é
somente negro, ele é enquanto negro.
(…)
Esta tomada de consciência surge pelo posicionamento do negro
perante si mesmo e o negro perante o outro.
(…)
Cabe à
humanidade despir os farrapos ainda visíveis do racismo, da intolerância, do
domínio do branco sobre o negro e refazer a História numa linguagem universal.
(…)
Na
revolução das mentalidades o negro tem um papel de charneira, o de dar o
primeiro grito, o de entoar a liberdade, proclamar a dignidade e construir a
fraternidade.
(…)
Se, por um lado, formamos o género humano, por outro lado,
somos formados por condicionamentos sociais que cultura agudiza.
Ulika da Paixão Franco, “Público” (sem link)
Nunca como hoje se viveu um tempo de tanta incerteza e risco
em que são críticos os desafios que nos são lançados.
(…)
[Das palavras de António Guterres em 3 de Agosto bem como o
apelo do Papa no discurso do dia 2 do mesmo mês] emerge o diagnóstico de uma
Humanidade moralmente doente, vivendo num planeta que, a passos apressados se
encaminha para um caminho sem retorno.
(…)
Já não discutimos a realidade das alterações climáticas, ou
as suas causas, por muito que os negacionistas o pretendam, mas sim a dimensão
que os mesmos irão assumir e quais as suas consequências.
(…)
Neste verão, o aquecimento global causado pelos combustíveis
fósseisfez com que as temperaturas batessem todos os recordes.
(…)
Os meses de junho, julho e agosto foram os mais quentes
registados até agora no planeta desde que, as medições diretas começaram
(1850).
(…)
Os oceanos mostram valores de temperatura nunca antes
registados.
(…)
Não há nenhuma zona do planeta que, nas últimas semanas ou
meses, não esteja a sentir os efeitos das alterações climáticas.
(…)
Os paleontologistas afirmam que não viram temperaturas como
estas nos últimos 120000 anos.
(…)
Como se tal não bastasse, e para avolumar este tempo de
incerteza surgem no horizonte nuvens negras, convocando um novo tempo de
confrontação à escala global.
(…)
Sinal destes novos tempos, a circunstância de, segundo o Instituto
V-Dem, localizado na Universidade de Gotemburgo, 72% da população mundial (5,7
mil milhões de pessoas viver em autocracias.
(…)
Hoje existem 90 democracias e 89 autocracias no mundo.
(…)
Pela primeira vez em 20 anos, há mais autocracias fechadas do
que democracias liberais.
(…)
Uma nova guerra fria já começou.
(…)
É neste contexto que as palavras do Papa Francisco ganham
força, proclamando que “no oceano da história, estamos a navegar num momento
tempestuoso e sente-se a falta de rotas corajosas”.
Santos Cabral, “Diário de Coimbra”
(sem link)
Quando procuramos compreender as razões da subida lancinante
dos preços das casas, que atira tanta gente para situações de aflição e até de
indignidade (…) vamos dar à questão dos não-residentes.
(…)
É o Banco de Portugal que sublinha o problema.
(…)
Ou seja: uma das transformações de fundo na habitação é a
entrada em cena de compradores com muito dinheiro, que não residem nem
pretendem residir no país.
(…)
Travar a tomada pelo capital internacional das casas
disponíveis nada tem a ver com xenofobia.
(…)
Trata-se apenas de estancar o processo especulativo que
transformou Portugal num inferno para quem procura uma casa para viver e num
paraíso para fundos imobiliários, vistos gold e não-residentes.
(…)
Medidas como esta já foram aprovadas no Canadá, e debatidas
ou aplicadas na Nova Zelândia ou em Ibiza.
(…)
Uma república não é uma praça financeira e as casas não são
uma simples mercadoria.
José Soeiro, “Expresso” online
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