(…)
Os trabalhadores só seriam compensados pela redução do poder de
compra se tudo fosse livre de impostos e de descontos para as suas reformas.
(…)
[É bom ter presente que] são os impostos que pagam os médicos e
professores que precisamos de contratar e que sem o contributo da TSU não há
pensões presentes e futuras.
(…)
O que a CIP propõe é uma redução brutal dos seus impostos, não um
enorme aumento de salários.
(…)
Em vez de aumentos salariais decentes distribuídos pelos 14 meses,
abre-se uma via para alargar a parte dos salários não sujeita a obrigações
fiscais e previdenciais, comprometendo pensões, prestações sociais e serviços
públicos.
(…)
Não é difícil imaginar que a tendência seria a de ir transferindo
parte dos 14 meses para este “15º”, mais barato para o patrão.
(…)
Só uma coisa mudaria para o empregado: ficaria com a pensão mais
baixa, pois perde parte dos descontos do patrão, coisa que só descobrirá quando
se reformar.
(…)
Mas a maior fraude é o suposto aumento de 14,75%, durante dois
anos, totalmente financiado com a redução equivalente da TSU. Na realidade, o
trabalhador só receberia mais 4,75%.
(…)
[Os restantes 10%] são uma transferência do que os patrões pagam à
Segurança Social para um sistema complementar obrigatório de pensões.
(…)
Impunha-se um regime obrigatório com contribuição definida, porta
aberta à muito esperada entrada do sistema financeiro num regime de pensões não
solidário.
(…)
Os patrões limitam-se a propor um conjunto de borlas fiscais para
si mesmos e uma transferência de recursos da Segurança Social para um sistema
de capitalização.
(…)
O aumento que prometem é menos do que já estão a ter de dar.
(…)
[A proposta é] em troca de um aparente benefício imediato nos
rendimentos líquidos e a sempre popular proposta de reduzir impostos, avançar
com um assalto ao Fisco e à Segurança Social.
(…)
Não é rebentando com a sustentabilidade da Segurança Social e das
contas públicas, com promessas demagógicas de rendimentos livres de descontos
para a Segurança Social e de impostos (…) que se desenvolve o país.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Quando
se vê com os olhos da curiosidade – uma qualidade que cada vez me parece mais
importante –, vai-se mudando o modo como se percebe o presente.
(…)
E esse
meu mundo passa por uma sequência: “salvar” papéis, imagens e coisas; “lê-las”;
dar-lhes uma ordem e um contexto e depois usá-las para fazer propaganda e
pedagogia da memória, para se salvarem muitas mais.
(…)
Aprender
sobre a tolerância é o que se aprende olhando para estes espólios que cobrem
vidas inteiras, perceber que estes homens tinham uma dedicação, um interesse,
uma vontade de mudança, que é o que se encontra em muitos destes papéis.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Apesar da proibição imposta pelo Airbnb de não admitir “festas” em AL,
sabemos por experiência que isso não é respeitado.
(…)
São
precisos os dedos de várias mãos para contar o número de vezes que fomos bater
à porta depois da meia-noite a pedir silêncio, e talvez um par para o número de
chamadas para a polícia.
(…)
Também
aconteceu recebermos de resposta “eu faço o barulho que eu quiser”, deles e
delas, sempre jovens turistas estrangeiros, que levam para o AL a festa que
começou na rua.
(…)
Além do ruído e da falta de respeito, o
desgaste do edifício é notório.
(…)
O dono do apartamento, o tal que nunca ninguém
viu, não quer saber.
(…)
Outro
é a renovação do património, as casas e prédios que ficaram arranjados e
bonitos por causa do AL; os mesmos que esvaziaram as ruas e bairros da
população autóctone e ajudaram a fazer disparar o preço das casas para um nível
insuportável.
(…)
A
perturbação causada por um modelo que beneficia uns quantos e prejudica todos
os outros, é uma contradição que simplifica a resposta: não, os condóminos não
querem ali o alojamento local.
(…)
O
lucro do sr. X não vale mais do que o nosso descanso. E essa é uma guerra que
vale a pena comprar.
Pedro Esteves, “Público” (sem link)
O caso do 15.º mês de salário [proposto pela
CIP] é bom exemplo de uma proposta que ganha a atenção de qualquer um.
(…)
Na CIP se deram ao trabalho e que se empenharam
em apresentar propostas que fossem recebidas como altamente aliciantes.
(…)
É uma
evidência que os ideários da direita e do liberalismo estão a ganhar terreno na
natural batalha ideológica que há muito se trava na vida política e económica.
(…)
É
nesse contexto que parece estar cada vez mais assente que pagar impostos é um
prejuízo para todos e que o Estado é uma espécie de mamão que nos rouba parte
do rendimento.
(…)
As pessoas esqueceram-se da utilidade do
imposto sobre o rendimento pessoal consagrada na Constituição: a diminuição das
desigualdades socioeconómicas.
(…)
A verdade é que são poucos os que reconhecem na
obrigação coletiva de pagar impostos uma conquista democrática.
(…)
Este
15.º mês livre de impostos significa que a isenção fiscal será maior para os
que ganham mais, ou seja, vai acentuar as desigualdades sociais.
(…)
Pode até ser inexistente para os que ganham
menos.
(…)
Em vez de combatermos as desigualdades sociais,
passamos ao movimento contrário. Um festim liberal.
(…)
A
proposta ignora que as contribuições para a Segurança Social (SS) são uma
garantia para todos de reformas na velhice e nas demais situações previstas na
lei, bem como de apoios sociais em caso de doença ou situação de desemprego,
proporcionais aos rendimentos.
(…)
Na prática estarão a hipotecar o futuro para
ter uma folga agora.
(…)
Do lado das empresas as vantagens são
evidentes. (…) não terão qualquer desvantagem imediata ou futura
perante a SS ou perante a fiscalidade.
(…)
Mas o que é perfeito para as empresas nunca foi
perfeito para os trabalhadores.
(…)
Os
trabalhadores precisam desesperadamente de aumentos salariais e as empresas têm
margem para o fazer como fica demonstrado. Mas não através de acrobacias.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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