(…)
A
música que sairá dessa aplicação será, ainda assim, um produto cultural, mas é
uma nova forma de cultura, que eleva o pastiche, além do roubo da propriedade
intelectual, a um novo patamar.
(…)
A
arte, neste caso, será só o simulacro da arte.
(…)
Então,
produzir-se-á mais não se produzindo nada e a cultura será uma forma de
incultura e a inspiração uma artimanha.
(…)
[Aliás]
já há uma que permite fingir que se é um escritor, como o ChatGPT. Há
já literatura escrita deste modo nas livrarias.
(…)
Tudo
isso acabou, passou a ser indistinguível um trabalho sério e um ficheiro
cuspido por um algoritmo.
(…)
O
sistema de ensino readaptar-se-á recuando ao tempo da chamada oral.
(…)
A
segunda questão é o próprio modo de produção.
(…)
Produzem-se
agora algoritmos inverificáveis, o meio de produção cultural do século XXI.
(…)
[A
hipercomunicação] supera em rapidez qualquer tentativa de confirmação ou
desmentido.
(…)
É
extralegal, e, portanto, está acima do alcance da regulação.
(…)
[Tem] a
ambição de nos absorver num mundo virtual que ocupe a nossa vida desde crianças.
(…)
[A
vida virtual] promove a multiplicidade de tarefas e impõe a necessidade
de uma sociabilidade reconfortante pela trivialização da comunicação permanente.
(…)
[Em
bibliotecas digitais] os leitores já não leem, saltitam, ou seja, são
conduzidos pelo algoritmo.
(…)
A
Suécia vai deixar de usar manuais escolares online, pois as crianças precisam
de aprender a ler um livro.
(…)
Assim,
o meio de produção condiciona a nossa forma de aprender e de pensar, não só na
formatação da linguagem como também da nossa memória e imaginação.
(…)
As
aplicações que parecem oferecer-nos um produto cultural, (…) estão de facto a
mudar o nosso padrão de atenção e a nossa capacidade de expressão.
(…)
A inteligência artificial está a mudar a
humanidade, tornando-a mais estúpida.
Francisco Louçã,
“Expresso” Economia (sem link)
Tim Gurner é CEO e fundador do Gurner
Group, um dos maiores grupos empresariais australianos, que atua na área do
imobiliário.
(…)
Gurner defendeu que a
taxa de desemprego, que na Austrália está abaixo dos 4%, deveria aumentar entre
40% E 50%.
(…)
Porquê? Explicou: para
reduzir a arrogância dos trabalhadores.
(…)
[Podemos fazer] uma
ideia da tragédia socioeconómica que está aqui implícita.
(…)
Há empregadores que
encaram os trabalhadores como opositores dos seus interesses.
(…)
[Talvez haja quem pense] que estamos
perante a simples concretização de uma coisa da qual a esquerda fala muito e
que preza: a luta de classes.
(…)
A luta de classes é
fundamental enquanto motor e razão para as mudanças sociais que são precisas.
(…)
Devemos-lhe conquistas
que determinaram os direitos laborais e as regalias que hoje damos como
adquiridos.
(…)
A vida como a conhecemos resulta dos
efeitos desse conflito social e do facto de muitos não se terem conformado com
um mundo desigual e com o domínio absoluto de quem controla os meios de
produção.
(…)
Outra coisa, completamente diferente,
acontece quando quem controla os meios de produção, ou seja, os empregadores,
querem ser os agentes da mudança social.
(…)
Quem está numa posição de superioridade
socioeconómica ou integra a classe dominante quer esmagar os (…) que vivem dos
rendimentos do seu trabalho por conta de outrem.
(…)
A mudança social que
poderá ter lugar a partir daqui é um retrocesso civilizacional.
(…)
Trata-se de puro
exercício de poder por parte de quem tem muito.
(…)
As suas [Tim Gurner]
palavras têm de servir para sacudir os trabalhadores que andam esquecidos de
quem são.
(…)
Não existe outra forma de lutar contra
despedimentos em massa, como aqueles que Tim Gurner defendeu, para além da
organização e união dos trabalhadores.
(…)
Assistimos à
responsabilização dos trabalhadores, por Christine Lagarde, por tal aumento [da
inflação] na medida em que lutaram por melhores salários.
(…)
Não podemos pôr de lado
a ideologia ou arriscamos ser, nós próprios, postos de lado.
Carmo
Afonso, “Público” (sem
link)
Colocar os graves
problemas económicos da população nas mãos da demagogia política da rentrée
parlamentar vai para além de um exercício violento de tiros nos pés.
(…)
É difícil conceber como
a IL poderá acompanhar uma moção de censura que para mais não serve do que para
a promoção do cultivo da demagogia e do debate estéril.
(…)
A tentativa do CH
encurralar o PSD ganhou um inesperado aliado.
(…)
Que ninguém duvide do
plástico factor de estabilidade de Ventura, contribuição inesperada do CH para
a imobilidade da política portuguesa.
(…)
Sem ele, já Marcelo
dissolvera, já Montenegro crescera, já Rui Rocha assumira o ministério da “mão
invisível”.
(…)
António Costa continua
a receber os tiros do CH como projécteis que não passam a sua armadura.
Desde que herdou o partido do pai,
Jean-Marie Le Pen, Marine Le Pen tem-se empenhado na normalização do partido
aos olhos do eleitorado.
(…)
A transformação que levou a cabo em si e
no partido que lidera durante uma dúzia de anos (…) está paulatinamente a
trazer os seus frutos.
(…)
Uma recente sondagem da empresa Viavoice
para o diário Libération mostra que a política francesa [Marine Le Pen]
“beneficia de um capital de simpatia perigoso” entre o eleitorado.
(…)
Com estas percentagens quase parece
inevitável que a determinado momento o cordão sanitário em torno da União
Nacional se venha a romper e a extrema-direita se instale no Eliseu.
(…)
Podemos acabar com um
eixo franco-alemão encostado à extrema-direita.
António
Rodrigues, “Público” (sem
link)
O mundo é abalado pelo
autoritarismo, as democracias ocidentais estão feridas, o modelo dá sinais de
esgotamento.
(…)
Aproveitando o impasse,
a extrema-direita avança nas veias abertas das democracias para instilar o seu
veneno.
(…)
O medo dos políticos em Bruxelas, e
noutras capitais europeias, é que a extrema-direita possa capitalizar essa
frustração nas eleições europeias do próximo ano e ganhar tracção na União
Europeia.
António Rodrigues, “Público” (sem
link)
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