(…)
E agora ninguém sabe o que se vai passar.
(…)
A questão é como se vai redefinir o mapa político, na certeza de
que Montenegro chefiará o PSD, radicalizará o seu discurso no caminho da
extrema-direita, desmentindo e preparando um acordo com a IL e o Chega.
(…)
O PS chegará às eleições na situação em que a sua anterior vitória
absoluta se tornou o seu cadastro.
(…)
Não há notícia mais chocante do que uma investigação sobre
corrupção de membros do Governo que nos deviam dela proteger, exceto a de uma
condenação.
(…)
A multiplicação de fugas ao segredo de justiça, com a divulgação
de peças metodicamente manipuladas para provar o ponto de vista do divulgador
do segredo, tornou-se tão banal que já não imaginamos como poderia a justiça
cumprir o seu papel sem ser viciada por estes ataques.
(…)
[Esta maioria absoluta do PS] foi tóxica para a vida política e
social nacional desde o seu primeiro dia.
(…)
Recusar aos profissionais da saúde a recuperação do seu poder de
compra era absurdo e não podia deixar de se chocar com o facto de o Governo
festejar um sucesso orçamental que o fazia nadar em dinheiro.
(…)
Pior do que tóxico foi impor o aumento do número legal dessas
horas extraordinárias e chamar-lhe “reforma da organização”.
(…)
Tóxico foi a ministra da Segurança Social ter apresentado um
documento falso para anunciar aos reformados que, se a lei não fosse modificada
para que as pensões deixassem de ser ajustadas pela inflação, reduzindo o seu
valor real, o sistema perderia 13 anos de sustentabilidade.
(…)
Tóxico foi o teimoso esforço para evitar que uma grande
empresa pagasse o imposto devido pelo maior negócio da década em Portugal, a
venda da concessão de barragens.
(…)
E tóxica foi a política para o aumento do preço da habitação, com
os vistos gold, os nómadas digitais e os favores aos fundos financeiros.
(…)
Veja-se o exemplo do uso dos serviços secretos, pelo motivo
porventura esquecido que era a revelação de uma reunião no ministério de
Galamba, elevando-se depois a comédia até ao encerramento do debate do
Orçamento.
(…)
A política foi reduzida a uma farsa.
(…)
O medo [que] funcionou uma vez [em eleições], terá uma derrota
autoconfirmada se lhe surgir a tentação de repetir o truque.
(…)
Em contrapartida, as esquerdas podem lembrar que a ‘geringonça’
foi o remédio que protegeu o país da bolha autoritária que é uma maioria
absoluta.
(…)
A minha conclusão é que só vencerá a direita uma esquerda que seja
mais exigente do que nunca.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
Ao
mesmo tempo que Israel vai perdendo a simpatia da comunidade internacional, à
medida que os bombardeamentos inclementes da Faixa de Gaza apagam da memória o
ataque do Hamas de 7 de Outubro, o país continua traumatizado.
(…)
Israel
respondeu com força, fazendo cair dos céus o equivalente a duas bombas de
Hiroxima (o ministro do Património, Amichai Eliyahu, até admitiu a hipótese de
fazer explodir uma bomba nuclear em Gaza) e prometendo biblicamente erradicar o
Hamas da face da Terra.
(…)
Mas
quanto maiores as ameaças, mais se pressente a fragilidade de quem dispara para
matar um alvo subterrâneo com tanto dano colateral nos ombros.
(…)
O
Conselho Nacional de Segurança do Ministério dos Negócios Estrangeiros emitiu
um alerta a pedir aos israelitas que estejam a pensar viajar para o estrangeiro
para reconsiderarem os seus planos.
(…)
Os
israelitas e os judeus em geral voltam a despertar velhos ódios extremistas e
dão por si tão inseguros como há muito não se viam.
(…)
Em Setembro,
mais de 180 antigos membros da Mossad e do Shin Bet, das Forças de Defesa de
Israel e da polícia vieram a público avisar que a política do Governo de
Netanyahu era o maior perigo para a segurança de Israel.
(…)
Palavras que podiam soar a exagero na altura
transformaram-se em premonição depois de 7 de Outubro.
(…)
[A antiga embaixadora de Israel em Portugal,
Collete Avital indignou-se levando-a a criticar] a decisão do
representante diplomático de Israel nas Nações Unidas de usar uma estrela
amarela no casaco numa reunião do Conselho de Segurança.
(…)
Aquele não era só símbolo da denegação de
direitos cívicos, mas um salvo-conduto para a humilhação.
(…)
Três
altos membros do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a coberto do anonimato,
tinham feito chegar ao Haaretz a sua indignação, não só pelo mau gosto da
manobra do embaixador, mas também por ser contraproducente.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A facilidade com que uma linha de um parágrafo assassino de
um comunicado da Procuradoria-Geral da República permite levar à demissão de um
primeiro-ministro diz muito sobre o que um pouco de nada pode fazer pela
intromissão do poder judicial no destino democrático do país.
(…)
Se estivéssemos perante uma maioria relativa, Marcelo poderia
exigir um conforto de bloco central ou de uma geringonça para acabar a
legislatura.
(…)
Os 50 anos do 25 de Abril serão assim comemorados num
ambiente político de incerta estabilidade pós-eleitoral e com um Orçamento do
Estado provavelmente executado pelas mãos de um padrasto.
(…)
Marcelo Rebelo de Sousa optou por manter o Orçamento e punir
António Costa com o “voodoo” permanente da Oposição, ao mesmo tempo que assiste
ao início do debate interno no PS sobre a sucessão. A vingança serviu-se fria.
(…)
Sente-se um ajuste de contas entre o poder político e o poder
judicial na linha do horizonte.
(…)
A suspensão da democracia está a sobrevoar o Estado de
direito.
(…)
A relação entre os poderes atinge o seu momento mais crítico.
A suspeição é a pior inimiga da democracia.
É
necessário apurar efetivamente os factos relativamente às controvérsias da exploração
de lítio e da produção de hidrogénio e garantir que quaisquer irregularidades
sejam punidas e revertidas.
(…)
Considero bastante positivo o facto de se estar
a agir judicialmente antes da execução dos projetos em questão.
(…)
Parece-me
prudente salvaguardar o interesse nacional ao não permitir que se perca o foco
nas controvérsias da exploração de lítio e de produção de hidrogénio.
(…)
Como
será possível avançar com os projetos de exploração de lítio a céu aberto
quando todos os municípios da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Tâmega e
Barroso se opõem, quando existem suspeitas de corrupção tanto nas Avaliações de
Impacte Ambiental emitidas pela APA como na escolha das empresas para
concessão?
Angélica Azevedo, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário