(…)
Ventura
nem precisou de chegar ao poder para criar um ambiente irrespirável no
Parlamento, violando sistematicamente regras de civilidade instituídas.
(…)
Na
verdade, a social-democracia clássica, com a economia mista, um Estado forte em
sectores-chave e uma regulação apertada do mercado, está interdita pelos dogmas
da União. Deixou de ser centrista.
(…)
A
deriva securitária associada às políticas anti-imigração é compatível com o
pensamento hegemónico em Bruxelas.
(…)
Segundo
um estudo de junho da Universidade Católica, 55% dos portugueses apontam o
Chega como partido extremista, apenas 13% e 11%, respetivamente, indicam o BE
ou o PCP.
(…)
44%
escolhem o Chega como um perigo para a democracia, só 6% pensam o mesmo de cada
um dos partidos mais à esquerda.
(…)
[Para
os eleitores do PSD] 60% escolhem o Chega como extremista (no PS são 69%), 41%
como um perigo para a democracia.
(…)
A
experiência da ‘geringonça’ acabou com o fantasma [do extremismo e do
perigo para a democracia relacionados com BE e PCP].
(…)
[A
questão é] como o PSD se livra do Chega.
(…)
Um
Governo do PS dependente do PSD seria a receita para a paralisia do país.
(…)
Já o
apelo para o PS viabilizar um Governo minoritário do PSD deixa os eleitores de
direita à vontade para votar no Chega.
(…)
Só
teriam a ganhar com isso: impediam o PS de fazer oposição e garantiriam uma
maioria à direita em todos os assuntos fraturantes.
(…)
Reverter
o avanço de 2015, que determinou que contam as maiorias parlamentares, é atirar
o país para bloqueios políticos, com sucessivos Governos minoritários num
cenário partidário fragmentado.
(…)
É de
blocos à esquerda e à direita que temos de falar.
(…)
[A “geringonça”]
travou o abuso da autossuficiência socialista. Foram os melhores anos de Costa.
(…)
Um
novo entendimento [com Bloco e PCP] será mais fácil e mais difícil. Mais fácil
porque já foi experimentado e o novo líder do PS não quer rasteirar os aliados.
Mais difícil porque a experiência acabou mal para BE e PCP.
(…)
À
direita, a alternativa é o passismo ideológico, já bastante neoliberal, aliado
a um partido quase libertário em fase de afirmação e dependente da anuência da
extrema-direita.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
À entrada em 2024, uma grande interrogação se coloca aos
portugueses e portuguesas que amam a democracia: o que fazer para honrar o 25
de Abril?
(…)
Cuidemos da esperança para evitar que 2024 não seja o ano do
mais duro ataque à democracia neste percurso de 50 anos.
(…)
A nossa democracia teve a dupla tarefa de afirmação dos
direitos, liberdades e garantias e da construção do seu conteúdo.
(…)
O país era paupérrimo, atrasado em todas as áreas, e o Social
era uma miragem.
(…)
Hoje, a Direita, de braço dado com a extrema-direita, renega
esses compromissos transformadores.
(…)
A campanha sobre a pretensa crise das instituições tem um
objetivo: amadurecer a ideia na sociedade para, em momento oportuno, atacar
essas mesmas instituições.
(…)
Infelizmente, o modelo de baixos salários não “é passado”; é
presente a projetar-se para o futuro.
(…)
A pobreza está ao mesmo nível de 2015, por razões que deviam
ser explicadas.
(…)
Não se pode fechar os olhos à dimensão e impactos da
emigração dos nossos jovens.
(…)
A imigração é muito bem-vinda, mas está a ser, em parte,
tomada como instrumento de políticas de baixos salários.
(…)
Gera-se esperança respondendo aos problemas das pessoas e
contribuindo para que sejam elas os principais atores da mudança.
Há uma
dolorosíssima crise nos media portugueses e sem um panorama mediático livre,
independente, plural, os cidadãos deixam de ter a informação necessária para
julgar por si próprios todas as outras crises
(…)
Se o
mercado não consegue sustentar projetos editoriais válidos e com uma longa
história, a questão é saber se a informação produzida pelos media deve ou não
ser considerada um bem de primeira necessidade para a saúde da democracia. A
minha resposta é obviamente positiva.
(…)
[O
Estado] também deve assegurar que o panorama mediático não se degrada a um
ponto em que passamos a ter jornais, rádios e televisões tão fragilizados que
sejam determinados por lógicas de poder.
(…)
O que importa é encontrar respostas que a permitam minorar e
que assegurem a sustentabilidade a prazo do panorama mediático.
(…)
A
crise não é idêntica para todos os media e não pode ser resolvida com as mesmas
medidas para jornais, rádios ou televisões.
(…)
A
compra de publicidade institucional por parte do Estado deveria tornar-se uma
obrigação permanente para defender a liberdade de informação ameaçada pela
fragilidade financeira das empresas.
(…)
Para
as televisões a crise é mais grave com quebras assinaláveis de audiências e de
receitas publicitárias. A procura de novos rendimentos e a redução dos encargos
são o alfa e o ómega das administrações.
(…)
As
três televisões generalistas – RTP, SIC e TVI – estão a trabalhar para
encontrar áreas onde possam aumentar receitas e reduzir custos (…). Contudo, tal significará sempre uma gota de água no
oceano das necessidades.
(…)
Haverá
quem pense que a crise dos media nada tem que ver consigo, caro leitor e
concidadão. Mas tem e muito.
(…)
Quando
há crises, pandemias, catástrofes, guerras, quedas de governos, grandes
escândalos financeiros é às marcas editoriais credíveis que os cidadãos
recorrem.
(…)
Este jornalismo é a seiva da democracia.
(…)
Se ele
não existir, a liberdade, que vai agora fazer 50 anos, definhará lenta, mas
inexoravelmente, até só restar uma caricatura da sua existência.
Nicolau Santos, “Público” (sem link)
O
conflito em Gaza é mais uma página tenebrosa de uma guerra que conhece períodos
de baixa intensidade e momentos de uma violência extrema.
(…)
É um
conflito localizado numa parte do mundo e na sua história densa de ódios, com
uma herança violenta de contas a pagar.
(…)
O conflito da Ucrânia é, num certo sentido, muito mais grave,
com muito maior possibilidade de consequências.
(…)
É um
genuíno conflito mundial, tocando por si só o frágil tecido das relações de
força internacionais pelo seu risco de uma “mútua destruição assegurada”.
(…)
Nunca
se ouviram com tanta frequência as ameaças de utilização de armas nucleares
como as vindas da Federação Russa, uma das grandes potências nucleares
(…)
A guerra da Ucrânia é uma guerra de conquista territorial, de
subjugação neocolonial para toda uma região.
(…)
A
traição dos republicanos “trumpistas” e dos “cansados europeus” garante tudo
menos a paz, garante mesmo a guerra europeia, e isso também diz respeito a
Portugal.
(…)
A
traição a Gaza retira muito da possibilidade de se usar um argumento de
princípio por parte do chamado “Ocidente” e fragiliza qualquer superioridade
moral.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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